Conflitos por tráfico transformam paraísos turísticos da Bahia em cenários de violência

Facções disputam territórios e intensificam operações policiais no Extremo Sul
Por: Brado Jornal 08.ago.2025 às 08h22 - Atualizado: 08.ago.2025 às 08h30
Conflitos por tráfico transformam paraísos turísticos da Bahia em cenários de violência
Crédito: Reprodução
Expansão do crime organizado na região

Regiões turísticas como Caraíva, no Extremo Sul da Bahia, conhecidas por suas belezas naturais e atrativos em Porto Seguro, têm se tornado palco de intensos confrontos entre facções criminosas e operações policiais. A chegada do Comando Vermelho (CV), facção originária do Rio de Janeiro, intensificou a disputa pelo lucrativo mercado do tráfico de drogas, resultando em mortes, coação de comunidades indígenas e aumento da violência.

De acordo com uma fonte policial que atua nas investigações da região, “as facções buscam aliciar indígenas e lideranças para uso de terras demarcadas como pontos estratégicos, já que são lugares com o acesso mais difícil, para esconder armas e integrantes”. Terras indígenas, como a de Barra Velha, em Porto Seguro, têm sido usadas como esconderijos, dificultando a ação das forças de segurança.

O coronel reformado da Polícia Militar Antônio Jorge Melo destaca o apelo de Porto Seguro para o crime organizado: “Porto Seguro tem um mercado consumidor enorme e um território localizado em uma região com muitas conexões que facilitam fugas e transporte. Deve-se compreender que as grandes facções passam cada vez mais a serem geridas como um negócio e focam na diversidade na captação de recursos, que envolve do tráfico de armas à internet.”

A Operação Vértice Zero, realizada em Caraíva no último mês, resultou na apreensão de cinco fuzis, um rifle calibre 22 e outros armamentos em uma terra indígena. “Essa apreensão aconteceu dentro da terra indígena de Barra Velha, que é um território delimitado. Para nós, é um fato público que as facções estão nesses territórios, buscando não só se esconder em uma área de mata, mas também cooptar novos integrantes, oferecendo um alto risco aos povos originários”, afirmou a fonte policial.

A violência também se espalha para além dos pontos turísticos. Em Eunápolis, a 60 km de Porto Seguro, a chegada do CV gerou conflitos com grupos locais, como o Primeiro Comando de Eunápolis (PCE), que foi absorvido pela facção carioca. Um policial militar relatou: “Por aqui, já não falam em PCE. É CV ou Tudo 2 [referência ao grupo carioca]. Eles absorveram a facção local e orquestraram a fuga.” Essa fuga, ocorrida em dezembro de 2024, envolveu 16 detentos do presídio local, intensificando a atuação do CV na região.

A facção também foi responsável por crimes brutais, como o sequestro e esquartejamento do motorista de aplicativo Weverton Antônio dos Santos em maio de 2025. Outro caso marcante foi a tentativa de assassinato de Jorge Magno Alves Pinto, diretor do presídio de Eunápolis, após medidas que dificultaram a atuação do CV no local.

A disputa pelo controle do tráfico em Porto Seguro também envolve grupos locais, como os Anjos da Morte (ADM). Uma operação policial em Caraíva resultou na morte de um líder do ADM e de um guia turístico, vítima do confronto. Segundo outra fonte policial, “a região de Porto Seguro, por ter um alto potencial turístico, é uma galinha de ouro para esses grupos. Então, quem já estava aqui não quer perder e quem quer entrar até manda armamento pesado para conseguir.”

Dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) mostram que, no primeiro semestre de 2025, 37 fuzis foram apreendidos na Bahia, superando os 30 de 2024 e os 22 de 2023. Um exemplo foi a recente interceptação de sete fuzis em Teresópolis (RJ), destinados ao CV em Porto Seguro, considerada a maior apreensão do ano pela Polícia Rodoviária Federal.

As investigações também apontam para a conivência de autoridades. A ex-diretora do presídio de Eunápolis, Joneuma Silva Neres, foi presa em janeiro de 2025, acusada de facilitar a fuga de detentos e manter relações com Ednaldo Pereira Souza, conhecido como Dadá, líder do PCE. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) apurou que Joneuma recebeu R$ 1,5 milhão da facção e planejava fugir para o Rio de Janeiro.

A violência no Extremo Sul reflete a luta pelo controle de um mercado lucrativo, onde o turismo e a localização estratégica atraem facções criminosas, transformando paraísos em cenários de guerra.


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