Uma ação conjunta do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), e do 1º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) resultou na prisão de seis investigados envolvidos em um esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), nesta quinta-feira (30), em Campinas (SP). A operação, batizada de Off White, é um desdobramento das ações Linha Vermelha e Pronta Resposta, que em agosto frustraram um plano da facção para assassinar o promotor Amauri Silveira Filho, do Gaeco local, e um comandante da Polícia Militar. A ordem para o atentado teria partido de Sérgio Luiz de Freitas Filho, conhecido como "Mijão", integrante da sintonia final geral do PCC e considerado o traficante mais procurado do país.
Os mandados foram cumpridos em bairros nobres como Alphaville, Swiss Park, EntreVerdes e Colinas do Ermitage, além de cidades vizinhas como Artur Nogueira e Mogi Guaçu. A Justiça, pela 4ª Vara Criminal de Campinas, determinou nove prisões preventivas, 11 buscas e apreensões, o bloqueio de 12 imóveis de alto padrão e o congelamento de valores em contas bancárias. Dos alvos, três já estavam presos anteriormente, seis foram detidos na ação, e dois permanecem foragidos: Mijão e Álvaro Daniel Roberto, o "Caipira", ambos possivelmente na Bolívia, onde o primeiro mantém vida luxuosa em mansões com aluguéis de até R$ 30 mil mensais em Santa Cruz de La Sierra.
Entre os detidos está Eduardo Magrini, o "Diabo Loiro", apontado como liderança do PCC com histórico de participação nos ataques de 2006 contra o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e na sintonia FM, setor que gerencia pontos de venda de drogas da facção. Preso no Parque Xangrilá, condomínio do Alphaville com residências avaliadas em até R$ 9,9 milhões incluindo pelo menos três suítes, piscinas e garagens para 10 veículos, Magrini se apresentava nas redes sociais como produtor rural e influenciador digital, com 105 mil seguidores. Ele compartilhava imagens de carros de luxo, viagens e rodeios, além de ter criado o cantor MC Ryan SP como um "filho adotivo". O suspeito tem passagens por homicídio, formação de quadrilha, roubos a bancos e tráfico internacional de drogas.
Outro preso é Sérgio Luiz de Freitas Neto, filho de Mijão, capturado no Condomínio Lenk, dentro do Swiss Park, a 15 minutos do Aeroporto de Viracopos. O local oferece segurança privada, áreas de lazer e comércio, com casas de alto padrão valendo até R$ 3,5 milhões. Neto é acusado de atuar na lavagem de capitais para o pai, que segue foragido e é investigado por tráfico interestadual. Durante as buscas, foram apreendidas duas camisas da Seleção Brasileira autografadas por Neymar com dedicatória a Mijão, itens que podem indicar visitas recentes do foragido ao Brasil, possivelmente em eventos de futebol próximos a Campinas. "A localização e apreensão das camisas ocorreram porque, como se trata de um condenado foragido, isso demonstra que ele talvez esteja frequentando o solo brasileiro. Às vezes, até eventos de futebol perto de nós. A intenção é chegar ao foragido", explicou o promotor Marcos Rioli à rádio CBN.
No condomínio EntreVerdes, alvo de busca e apreensão, residências chegam a R$ 16 milhões, com suítes equipadas com hidromassagem, piscinas e vistas panorâmicas. O mandado visava Álvaro Daniel Roberto, o "Caipira", ou seu filho homônimo, que frequentavam um investigado já preso em agosto: Maurício Silveira Zambaldi, o "Maurício Dragão", detido por financiar o plano contra o promotor. Caipira, foragido há anos e na lista vermelha da Interpol, é outro dos criminosos mais procurados do Brasil.
O episódio mais violento ocorreu no Colinas do Ermitage, distrito de Sousas, em uma área de preservação ambiental com propriedades rurais de até R$ 3,9 milhões. Luís Carlos dos Santos, pai de Rafael Luís dos Santos ambos ligados ao esquema de Zambaldi, reagiu ao cerco policial. Ele fingiu rendição, tentou fugir pela varanda e atirou novamente, sendo morto no local. Um policial foi baleado e socorrido no Hospital de Clínicas da Unicamp, sem risco de morte. A dupla é investigada por lavagem de dinheiro oriundo do tráfico.
A rede desmantelada envolvia empresários, agiotas e influenciadores para ocultar lucros do tráfico por meio de transações imobiliárias, empresas de fachada e contas falsas. As investigações revelam que o grupo movimentava valores milionários, financiando a estrutura do PCC fora dos presídios. O promotor Rioli destacou a sofisticação do esquema: "É um plano macabro que foi frustrado, e agora continuamos a desarticular a base financeira deles." A operação reforça o combate à expansão da facção no interior paulista, com foco em líderes como Mijão, que comanda ações de represália contra autoridades.
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