A chegada do Comando Vermelho (CV), uma das facções criminosas mais violentas do Brasil, a Eunápolis, no sul da Bahia, transformou a cidade em um cenário de medo e violência. Pichações com as iniciais “CVTD2” e “CV2” surgiram em muros, postes e portas, marcando o território da organização, especialmente nos bairros periféricos como Juca Rosa, Alecrim, Parque da Renovação e Paquetá. Desde então, a população vive sob constante ameaça, com assassinatos brutais, tiroteios e intimidações, como o atentado contra o diretor do Conjunto Penal de Eunápolis, Jorge Magno Alves, ocorrido em 20 de maio.
“É um clima de insegurança total. Temos medo de sair de casa, de sermos confundidos com alvos. A violência explodiu desde as pichações”, relata um servidor público local, que preferiu não se identificar. A advogada Kátia Regina Taurinho, presidente da OAB Subsecção Eunápolis, reforça: “Um ataque que bloqueia uma avenida em plena luz do dia mostra a ousadia do crime. Se o Estado está sendo desafiado, o que sobra para a população?”
A onda de violência começou após a fuga de 16 detentos do Conjunto Penal de Eunápolis, em dezembro do ano passado, liderada por homens armados. Entre os foragidos estava Ednaldo Pereira Souza, conhecido como Dadá, então líder do Primeiro Comando de Eunápolis (PCE), ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Contrariando expectativas de que estaria em São Paulo, Dadá foi abrigado em um morro no Rio de Janeiro, onde teria rompido com o PCC e alinhado o PCE ao Comando Vermelho, transformando-o em uma célula da facção carioca. Desde então, o CV assumiu o controle do tráfico local, impondo terror. No bairro Juca Rosa, por exemplo, criminosos param carros, exigem identificação, revistam celulares e, em alguns casos, aplicam execuções sumárias. “O CV não poupa ninguém, nem inocentes, crianças ou idosos. É uma crueldade sem limites”, afirma o servidor.
Um dos casos mais chocantes foi o assassinato de Weverton Antônio dos Santos, motorista de aplicativo de 28 anos, sequestrado em 13 de maio. Torturado e esquartejado, ele foi morto após ser associado a uma foto ao lado de um policial, o que levou criminosos a acreditarem que ele seria um informante. Um vídeo do corpo foi enviado à família e chegou à 23ª Coordenadoria do Interior (Coorpin/Eunápolis), com um dos criminosos declarando: “Olha o que acontece com o ‘x-9’”. Segundo a Polícia Civil, investigações estão em curso, mas a falta de respostas concretas aumenta o desespero da população.
No dia 20 de maio, um ataque com cerca de 20 encapuzados armados com fuzis e roupas camufladas visou o diretor do Conjunto Penal, Jorge Magno Alves, que vinha recebendo ameaças. O atentado, ocorrido em uma avenida no bairro Paquetá, atingiu um motorista terceirizado, que ficou ferido e está internado. A ação foi atribuída ao CV, e investigações levaram à prisão de um casal em Itapebi, apontado como responsável. Segundo fontes da Secretaria de Segurança Pública (SSP), o traficante “Rubão” e sua companheira confessaram que o alvo era Alves, diretor desde janeiro, após a prisão da ex-diretora Joneuma Silva Neres, acusada de facilitar a fuga em massa de dezembro.
Eunápolis já figurava como uma das cidades mais violentas do Brasil, sendo a 19ª em 2022, com 56,3 mortes por 100 mil habitantes, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em 2018, o Atlas da Violência a classificou como a segunda mais mortífera do país, com 124,3 óbitos por 100 mil habitantes. Outros crimes recentes intensificam o clima de medo: em 23 de fevereiro, a adolescente Núbia Matos Pereira, de 16 anos, foi assassinada no bairro Alecrim; em 14 de maio, um tiroteio próximo ao IFBA deixou dois mortos e alunos em pânico; em 9 de abril, Carlos Santos Silva, de 26 anos, foi executado no Juca Rosa; e, em 22 de julho, Ivanildo Cândido foi morto a tiros no centro da cidade.
A cidade conta com uma unidade da Polícia Militar e três da Polícia Civil, incluindo a 23ª Coorpin, que passou por trocas frequentes de comando. Desde junho de 2023, a coordenadoria teve três líderes: Moisés Damasceno, Paulo Henrique e, atualmente, Moab Macedo Lima. “Essas mudanças dificultam a continuidade das ações. Precisamos de medidas urgentes para sobreviver”, destaca Kátia Taurinho, da OAB.
Nota da Polícia Civil: A instituição informou que diligências estão em andamento para esclarecer os crimes, mas não divulgou detalhes adicionais sobre os envolvidos.
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