Lô Borges, ícone mineiro da mpb, falece aos 73 anos

Legado do clube da esquina e carreira inovadora na música brasileira
Por: Brado Jornal 03.nov.2025 às 10h23
Lô Borges, ícone mineiro da mpb, falece aos 73 anos
Foto: © Flávio Charchar
O compositor e cantor mineiro Lô Borges partiu aos 73 anos na noite deste domingo (2/11), vítima de falência múltipla de órgãos, conforme boletim emitido pela assessoria da Unimed. O artista, figura essencial no surgimento do Clube da Esquina – grupo pioneiro de inovação sonora que emergiu em Belo Horizonte entre o fim dos anos 1960 e o começo da década de 1970, reunindo talentos como Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta, Wagner Tiso e o letrista Fernando Brant (1946-2015) –, estava sob cuidados médicos desde 17 de outubro, quando deu entrada em uma unidade hospitalar da rede em Belo Horizonte devido a uma intoxicação por excesso de medicação, que pode ocorrer por uso acidental ou deliberado de dosagens elevadas de fármacos.

A reportagem de O TEMPO obteve confirmação dos parentes do músico sobre o quadro inicial de intoxicação medicamentosa. Borges precisou de intubação para suporte respiratório e, em seguida, passou por traqueostomia cirurgia que abre uma via na traqueia para facilitar a entrada de ar nos pulmões, com a colocação de um tubo. Apesar dos esforços da equipe médica, o estado de saúde piorou progressivamente, culminando no óbito às 20h50. “O Hospital Unimed – Unidade Contorno informa com pesar o falecimento do músico, cantor e compositor Lô Borges, aos 73 anos, na noite de ontem, 2 de novembro de 2025, às 20h50, em decorrência de falência múltipla de órgãos”, diz a nota oficial divulgada pelo hospital.

Nascido Salomão Borges Filho em 10 de janeiro de 1952, Lô cresceu em um lar repleto de harmonias musicais, como o sexto entre os 11 filhos de Maricota e Salomão Borges. Seus irmãos, os instrumentistas Márcio Borges (também cofundador do Clube da Esquina), Marilton Borges e Telo Borges, ajudaram a moldar o ambiente criativo que influenciou sua trajetória. Borges moldou a identidade sonora de Minas Gerais com composições eternas como “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, “Tudo Que Você Podia Ser”, “O Trem Azul”, “Clube da Esquina nº 2”, “Para Lennon e McCartney”, “Feira Moderna”, “Vento de Maio”, “A Via Láctea”, “Paisagem da Janela”, “Equatorial” e “Sonho Real”, entre tantas outras que definiram gerações.

Seu impacto vai além das criações próprias: nomes icônicos da MPB, incluindo o parceiro e amigo Milton Nascimento, Elis Regina, Tom Jobim (que adaptou “O Trem Azul”, de Borges e Ronaldo Bastos, para o inglês), Samuel Rosa, Beto Guedes, Lobão, Nando Reis e Caetano Veloso (com quem escreveu “Sem Não”), interpretaram e popularizaram suas melodias ao longo dos anos. Em 1972, ainda com 20 anos de idade, ele revolucionou o cenário fonográfico ao lançar dois trabalhos seminais: o duplo “Clube da Esquina”, em colaboração com Milton Nascimento álbum aclamado como um dos maiores da história da música brasileira por críticos locais e globais –, e o debut solo “Lô Borges”, apelidado de “disco do tênis” pela imagem da capa, fotografada por Cafi, que capturava um par de calçados simples. Essa mesma capa icônica do projeto duplo retratava dois garotos de Nova Friburgo (RJ), Cacau e Tonho, simbolizando Lô e o apelido de Milton, Bituca.

O movimento Clube da Esquina, que contava ainda com Flávio Venturini e o baixista Novelli, trouxe um frescor universal e enraizado na brasilidade, misturando influências dos Beatles com a poesia mineira. Borges é o segundo membro do grupo a nos deixar; o primeiro foi Fernando Brant, que partiu aos 68 anos em junho de 2015, após complicações de um transplante hepático.Ao longo de mais de cinco décadas de dedicação à arte, com mais de 20 álbuns gravados, Lô manteve uma agenda vibrante de apresentações e edições discográficas. Desde 2019, ele adotou o ritmo de um lançamento autoral anual, sendo o mais recente “Céu de giz”, de agosto deste ano, com melodias suas e versos de Zeca Baleiro. Em maio passado, para alegria dos admiradores, realizou um show improvisado e sem custo na icônica interseção das ruas Paraisópolis e Divinópolis, no bairro Santa Tereza de Belo Horizonte – o exato ponto de partida do Clube da Esquina, em frente à residência familiar dos Borges.

Um dos ápices de sua jornada veio em dezembro de 2022, marcando 50 anos de carreira: Borges dividiu o palco da Sala Minas Gerais, na capital mineira, com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e o quinteto de contrabaixos acústicos do grupo DoContra. O repertório ganhou arranjos originais de Neto Bellotto (DoContra), supervisionados pelo próprio artista e pelo maestro Fabio Mechetti, regente titular da orquestra. Pela primeira vez, a Filarmônica dedicou uma apresentação integral ao catálogo de um criador da música popular. O evento evoluiu para o disco “50 Anos de Música”, disponível em formatos de áudio e vídeo nas plataformas de streaming, editado pela gravadora Deck.

A partida de Lô Borges gerou comoção imediata entre colegas e o público. Milton Nascimento, em nota de pesar, destacou: “Foram décadas e mais décadas de uma amizade e cumplicidade lindas, que resultaram em um dos álbuns mais reconhecidos da música no mundo: o Clube da Esquina. Lô nos deixará um vazio e uma saudade enormes, e o Brasil perde um de seus artistas mais geniais, inventivos e únicos”. A deputada federal Duda Salabert lamentou: “Tristeza! Poucos poetas traduziram tão bem Minas Gerais como Lô Borges”. No X (ex-Twitter), fãs e perfis como o do jornalista Afonso Borges ecoaram o luto: “Lô Borges foi o caçula de uma geração de gigantes. Criador de eternidades, compôs músicas em frames de cinema. Fortemente influenciadas pelos Beatles, suas canções e baladas conquistaram gerações, com estilo próprio e inconfundível. Partiu muito cedo”. Outro seguidor escreveu: “Descansa em paz, gênio do clube da esquina”. E um terceiro exaltou: “Perdemos uma dos maiores cantores e compositores da história: Lô Borges. Marcou gerações”.

Borges deixa o filho Luca Arroyo Borges, de 27 anos, como herdeiro direto de sua essência musical. Reservado em sua vida pessoal, ele optou por uma existência solitária, sem casamento, imerso em violões, anotações melódicas e laços com a cena artística. Seu vazio ecoa, mas o legado do “caçula dos gigantes” permanece como trilha sonora eterna da identidade brasileira.


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