Autoridades fluminenses avaliam fuga de cerca de 200 membros do Comando Vermelho após ação policial nos complexos da Penha e do Alemão

Relatório ao STF revela balanço revisado de vítimas e prisões em operação que mobilizou milhares de agentes contra expansão da facção
Por: Brado Jornal 05.nov.2025 às 09h51
Autoridades fluminenses avaliam fuga de cerca de 200 membros do Comando Vermelho após ação policial nos complexos da Penha e do Alemão
Foto: Agência O Globo
A ação policial conhecida como Operação Contenção, deflagrada na semana passada nas comunidades da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, resultou na fuga estimada de mais de 200 integrantes do Comando Vermelho, conforme análise baseada em dados oficiais. Essa avaliação, divulgada pela CBN a partir de documento integral ao qual a reportagem teve acesso, deriva de informações prestadas pelo governador Cláudio Castro ao Supremo Tribunal Federal. O texto descreve que aproximadamente 500 indivíduos ligados ao crime envolveram-se em tiroteios intensos com equipes de segurança ao longo da intervenção.

Encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pela ADPF das Favelas, o informe ajustou o total de detidos para 99, uma redução em relação aos 113 inicialmente reportados, além de registrar 10 adolescentes apreendidos. Com 117 supostos criminosos abatidos, o cálculo aponta para pelo menos 270 elementos não contabilizados nas estatísticas formais. As forças de segurança do estado não especificaram se esses foragidos permanecem nas localidades afetadas ou migraram para outras zonas do território fluminense. Fato é que os três líderes principais visados pela ofensiva Edgar Alves de Andrade, apelidado de Doca ou Urso; Carlos da Costa Neves, o Gadernal; e Washington César Braga da Silva, conhecido como Grandão ou Síndico — continuam em liberdade.

Esses chefes de alto escalão coordenam o comércio de entorpecentes em várias áreas do Complexo da Penha, incluindo Feira, Paz, Sereno, Chatuba, Vila Cruzeiro, Caracol e Caixa d’Água, atuando como peças-chave na estrutura nacional do Comando Vermelho. A operação, que se destaca como a mais mortal já registrada no Brasil, vitimou 121 pessoas no total, entre elas quatro policiais, e visava frear o domínio da facção, que controla mais da metade das territórios sob influência de organizações armadas na Região Metropolitana do Rio.

No relatório submetido ao STF, o governador Cláudio Castro destacou que as equipes policiais operam em “desvantagem técnica e de armamento” frente às quadrilhas, justificando a aplicação proporcional de recursos. De acordo com o documento, os adversários “empregaram elevado poder bélico”, utilizando fuzis automáticos, armamentos de grande calibre, granadas, artefatos explosivos e drones para arremesso de cargas incendiárias. A mobilização incluiu 2,5 mil profissionais das Polícias Civil e Militar, com suporte de aeronaves, veículos não tripulados e 32 carros blindados. As autoridades enfatizam que todas as medidas respeitaram critérios de legalidade e equilíbrio, restringindo-se a equipamentos oficiais.

Até o momento, não existe uma projeção precisa sobre o destino dos que evadiram o cerco, embora investigações apontem que apenas quatro dos 69 denunciados pelo Ministério Público foram capturados. A denúncia inicial, originada de uma comunicação anônima ao Disque Denúncia em janeiro de 2024, detalhou uma assembleia de planejamento na Penha envolvendo figuras como Gadernal, Grandão e Thiago do Nascimento, conhecido como Belão, com discussões sobre ampliação de domínios e supostos pagamentos a agentes públicos. Essa pista permitiu interceptações telefônicas e quebras de sigilo, expondo a rede de contatos e propinas.Desdobramentos e reações à operação mais violenta do histórico fluminenseAtualizações recentes indicam que 115 dos 117 corpos de suspeitos foram identificados pela Polícia Civil, com necrópsias em curso no Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto. Moradores recuperaram mais de 70 cadáveres nos dias seguintes, muitos transportados para cidades como Manaus e Belém por familiares. Entre os abatidos está André Luiz Ferreira Mendes Júnior, o Cabeludo da Penha, membro notório da facção. A ação cumpriu 20 de 100 ordens de prisão, com outras 15 alvos neutralizados, e resultou na detenção de um operador financeiro ligado a Doca, além da apreensão de discos rígidos úteis para apurações sobre lavagem de capitais.

A letalidade da intervenção superior a episódios anteriores como Jacarezinho (2021) e Penha (2022), ambos sob gestão Castro gerou controvérsias. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou o episódio como “desastrosa” e uma “matança”, afirmando que “a decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha uma ordem de matança, e houve matança”. Ele defendeu a inserção de peritos da Polícia Federal nas investigações. Organizações internacionais, como a ONU, e entidades civis criticaram o alto índice de óbitos, enquanto o Tribunal de Justiça do Rio autorizou a remoção de sete presos para unidades federais. O apresentador Ratinho, em seu programa no SBT, cobrou “leis mais duras contra criminosos” e repudiou a “politização da violência”, declarando: “Traficante não é vítima”.

O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, reforçou que os complexos servem como quartel-general nacional do Comando Vermelho, de onde emanam comandos para outros estados. Criminosos usaram drones para lançar granadas, armas europeias e uniformes camuflados. Em paralelo, a Operação Freedom, deflagrada na Bahia e no Ceará, capturou 31 membros da facção, ampliando o cerco. O governador Cláudio Castro recebeu elogios do ex-presidente Donald Trump, que lamentou as baixas policiais e exaltou o esforço das forças locais. Rumores sobre a morte de traficantes como a “Japinha do CV” foram desmentidos, com o corpo em questão identificado como de um homem desconhecido.

De janeiro de 2007 a outubro de 2025, o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF) documentou 707 intervenções letais na região metropolitana, com 2.905 civis e 31 agentes mortos. O cerco persiste nas áreas afetadas, com questionamentos sobre o emprego de câmeras corporais limitadas por autonomia de bateria de 12 horas e a localização de corpos em matas. Especialistas demandam clareza sobre as dinâmicas dos confrontos e laços dos falecidos com o crime organizado.


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