Em decisão unânime, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) acolheu, na terça-feira (20.mai.2025), a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra 9 militares, entre ativos e da reserva do Exército, e um agente da Polícia Federal (PF), acusados de planejar um golpe de Estado em 2022. A Corte deu início a uma ação penal contra os denunciados, que agora responderão por crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (4 a 8 anos de prisão), golpe de Estado (4 a 12 anos), organização criminosa (3 a 8 anos), dano qualificado (6 meses a 3 anos) e deterioração de patrimônio tombado (1 a 3 anos), com penas que, somadas, podem chegar a 36 anos. Dois militares, Cleverson Ney Magalhães e Nilton Diniz Rodrigues, foram excluídos da denúncia por insuficiência de provas, conforme decidido pelo relator, ministro Alexandre de Moraes, acompanhado pelos ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Cristiano Zanin.
Detalhes da denúncia
A PGR aponta que os réus integravam o chamado “Núcleo 3”, ou grupo operacional, acusado de formar uma organização criminosa com o objetivo de manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder. Eles teriam planejado ações para monitorar e “neutralizar” autoridades, incluindo os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O grupo também teria pressionado o alto comando do Exército para apoiar o golpe e elaborado a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”, vazada ao apresentador Paulo Figueiredo, do programa “Pingos nos Is”, da Jovem Pan. A divulgação buscava atacar comandantes que resistiam ao plano e ampliar sua adesão. Mensagens apreendidas revelam que os acusados também questionavam a legitimidade do processo eleitoral.
Papel dos acusados
Bernardo Romão Corrêa Netto: Coronel do Exército, atuou na pressão ao comando militar e discutiu fraudes eleitorais com Mauro Cid. Organizou reuniões com as Forças Especiais para articular o golpe.
Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira: General da reserva e ex-comandante do Coter, teria concordado em coordenar as Forças Terrestres para o golpe, segundo mensagens interceptadas.
Fabrício Moreira de Bastos e Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros: Tenentes-coronéis, participaram da pressão sobre o comando do Exército.
Hélio Ferreira Lima: Tenente-coronel, liderou operações de monitoramento de autoridades e integrou o grupo “Copa 2022” no Signal, que planejava assassinatos no âmbito do “Punhal Verde Amarelo”.
Márcio Nunes de Resende Júnior: Coronel, participou da elaboração da “Carta ao Comandante” em reuniões com os “kids pretos”.
Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo: Tenentes-coronéis, também do grupo “Copa 2022”.
Ronald Ferreira de Araújo Júnior: Tenente-coronel, pressionou o comando militar e discutiu o vazamento da carta a Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente João Baptista Figueiredo, para atacar opositores do golpe.
Wladimir Matos Soares: Agente da PF, monitorou autoridades e passou informações sensíveis sobre a segurança da diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Áudios revelam planos de atacar Alexandre de Moraes e menções a um grupo armado.
Votação no STF
Alexandre de Moraes, relator, abriu a votação considerando que havia “indícios suficientes” para aceitar a denúncia contra 10 dos 12 acusados, destacando que a divisão de tarefas no grupo não reduz sua responsabilidade. Ele afirmou que a não execução do golpe não elimina o crime, pois, se bem-sucedido, o julgamento não ocorreria. Flávio Dino reforçou que a delação de Mauro Cid, que classificou uma reunião como “conversa de bar”, não descaracteriza o crime, já que “conversas podem ser crimes”. Cármen Lúcia destacou que o ambiente informal da reunião não isenta os envolvidos e refutou a defesa de que militares de menor patente não teriam influência, pois foram convocados para o plano. Luiz Fux formou a maioria para tornar os acusados réus, e Cristiano Zanin, presidente da Turma, criticou o termo “conversa de bar” para um plano que visava assassinatos e golpe de Estado.
Argumentos da defesa
As defesas de alguns acusados negaram participação na elaboração ou divulgação da carta, alegando que seus clientes não tiveram papel ativo no plano.
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