Auxiliares do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vinham tentando articular um acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar sua prisão, propondo que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), atuasse como interlocutor. A estratégia, que buscava desviar o foco da disputa eleitoral de 2026 e propor uma trégua com a Corte, foi interrompida pela decisão do ministro Alexandre de Moraes, que determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro na segunda-feira, 4 de agosto, por descumprimento de medidas cautelares.
O plano consistia em sinalizar ao STF que o grupo bolsonarista poderia abrir mão de contestar a inelegibilidade de Bolsonaro, imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030, em troca de o Supremo não obstruir a tramitação de um projeto de anistia no Congresso Nacional. Esse projeto visava beneficiar os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023 e na suposta tentativa de golpe de Estado. A iniciativa surgiu em um contexto de tensões, incluindo sanções dos Estados Unidos contra Moraes e uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, que geraram impactos econômicos, como a previsão de perda de 40 mil empregos em São Paulo e a liberação de R$ 1,5 bilhão em créditos tributários para exportadores.
Tarcísio, no entanto, mostrou relutância em assumir o papel de mediador. Segundo relatos, ele condicionou sua participação à legitimação explícita por parte de Bolsonaro, seus filhos e aliados, algo que não ocorreu, já que o governador é frequentemente alvo de críticas por não ser considerado um “bolsonarista raiz”. Ele também mencionou uma tentativa anterior de diálogo com ministros do STF, que buscava a liberação do passaporte de Bolsonaro para evitar o tarifaço americano, mas que resultou em críticas e foi considerada “esdrúxula”, conforme noticiado pela Folha de S.Paulo. Tarcísio negou ter solicitado o passaporte, afirmando que apenas explorou possibilidades, e temia que uma nova aproximação com o Supremo tivesse efeito contrário.
Na semana passada, líderes do PL, como o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, e o deputado Sóstenes Cavalcante, já haviam buscado aproximação com o ministro Gilmar Mendes, em um encontro na casa do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, segundo a CNN Brasil. A iniciativa, porém, não foi bem recebida, sendo considerada contraproducente. Tarcísio, por sua vez, defendia a necessidade de uma “costura de paz” para mitigar os prejuízos econômicos causados pela crise, mas evitava protagonismo nas negociações. Um evento em Brasília, previsto para esta semana, contaria com a presença de Tarcísio e Gilmar Mendes, mas não havia previsão de reuniões privadas, conforme informado pelo entorno do governador.
A prisão domiciliar de Bolsonaro, decretada por Moraes, foi motivada pelo descumprimento de medidas cautelares, incluindo sua participação em uma chamada de vídeo com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) durante um protesto na Avenida Paulista, no domingo, 3 de agosto. O ato, que reuniu cerca de 37,6 mil pessoas, segundo o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), pedia anistia aos envolvidos no 8 de janeiro e criticava o STF. Tarcísio não compareceu, alegando um procedimento médico, uma ausência que foi vista positivamente por alguns líderes do PL, que consideravam seu distanciamento estratégico para as negociações com a Corte.
Tarcísio se manifestou após a decisão judicial: “A prisão de Jair Bolsonaro é um absurdo. A verdade é que Bolsonaro foi julgado e condenado muito antes de tudo isso começar. Uma tentativa de golpe que não aconteceu, um crime que não existiu e acusações que ninguém consegue provar.” Apesar do apoio público, o governador mantém distância do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), visto por parte do grupo como responsável por intensificar tensões com Moraes e pressionar os Estados Unidos, o que resultou nas sanções econômicas. Propostas para um encontro entre Tarcísio e Eduardo nos EUA foram recusadas pelo governador, que questionou se seria bem recebido.
A articulação pelo projeto de anistia enfrenta resistência no STF, onde há dúvidas sobre a possibilidade de anistiar crimes como tentativa de golpe ou abolição violenta do Estado democrático. A prisão de Bolsonaro, relacionada a um inquérito sobre coação e obstrução de investigação envolvendo Eduardo, reforça a animosidade entre o grupo bolsonarista e a Corte, dificultando qualquer diálogo.
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