Ousadia do tráfico no Farol da Barra choca moradores de Salvador

Sigla de facção pichada em calçadão turístico revela disputa por território
Por: Brado Jornal 06.ago.2025 às 08h26
Ousadia do tráfico no Farol da Barra choca moradores de Salvador
Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
A presença ostensiva do tráfico de drogas no Farol da Barra, um dos principais cartões-postais de Salvador, tem causado espanto entre os moradores. A sigla do Terceiro Comando Puro (TCP), uma facção criminosa, foi pichada nas balaustradas do calçadão, área frequentada diariamente por milhares de turistas. A ousadia do grupo, que marcou sua presença em um ponto tão emblemático, gerou preocupação e evidenciou a disputa territorial em curso na capital baiana.

Um morador local, que preferiu não se identificar, relatou que as atividades do tráfico não são novidade na região, mas a exposição pública das pichações é algo novo. “Facção aqui não é novidade, apesar de não ter ouvido falar dessa aí. Já ouvi muito falar do BDM porque aqui, além de ponto turístico, é um ponto de tráfico, infelizmente. Agora, as pichações ficavam nas ruas internas e não no calçadão”, afirmou. Ele destacou que, anteriormente, as marcas criminais apareciam em áreas menos visíveis do bairro.

Outra residente, também sob anonimato por receio de represálias, expressou surpresa ao descobrir o significado das siglas que já havia notado várias vezes no calçadão. “Eu caminho aqui no calçadão sempre, mas não sabia o que era. A gente está exposto ao crime aqui na Barra. Direto tem furto e o tráfico não está para brincadeira. Os bandidos aqui não têm mais medo de nada”, desabafou.

Na tarde de terça-feira, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) informou que as pichações foram apagadas e que o Disque Denúncia está priorizando informações relacionadas ao caso. Uma fonte policial, mantida em anonimato, confirmou a atuação do TCP na região, mas destacou que o bairro não enfrenta conflitos armados intensos como outras áreas de Salvador. “No caso dessas pichações, assim como em outros lugares, elas são apagadas, mas o tráfico faz de novo. Apesar disso, a Barra está longe de ser uma área de conflitos armados, por exemplo, como vemos em outros pontos”, explicou.

O TCP, originário do Rio de Janeiro, onde é a segunda maior facção criminosa, tem ampliado sua atuação na Bahia, especialmente após chegar pelo Recôncavo e se estabelecer em Salvador. O grupo tem se aliado ao Bonde do Maluco (BDM) em uma disputa por territórios contra o Comando Vermelho (CV) em bairros como Mussurunga e Vila Verde. Apesar disso, sua presença ainda é menos conhecida na capital baiana.

Dudu Ribeiro, cofundador da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, analisa que a chegada de uma nova facção à Barra intensifica conflitos devido à necessidade de reconfiguração do controle territorial. “É necessário perceber que todas essas formas de organização são resultado direto de uma lógica de guerra assumida pelo Estado. Para desmontar essas ações, é necessário que se faça um processo de desmonte da própria lógica de guerra”, defende. Ele aponta que a violência associada ao tráfico, historicamente concentrada em bairros periféricos e negros, agora se manifesta de forma residual em áreas nobres e turísticas como a Barra. “O cenário de violência acirrada pela guerra às drogas, historicamente, se concentra nos bairros negros e periféricos, que são os bairros violentados nessa cidade. A violência que chega em bairros chamados nobres é residual nesse sentido”, explica.

A Polícia Militar da Bahia (PM-BA) e a Polícia Civil (PC) foram contatadas para esclarecimentos sobre a situação, e o espaço permanece aberto para suas manifestações.


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