Cancelamento de eventos militares pelos EUA tensiona relação com Brasil

Decisão de Washington reflete crise político-econômica e preocupa Ministério da Defesa
Por: Brado Jornal 20.ago.2025 às 07h36
Cancelamento de eventos militares pelos EUA tensiona relação com Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A relação militar entre Brasil e Estados Unidos enfrenta um momento de tensão após o cancelamento, por parte de Washington, de um evento conjunto com a Força Aérea Brasileira (FAB) e a sinalização de ausência na Operação Formosa, principal exercício da Marinha do Brasil. As decisões acendem alertas no Ministério da Defesa, que busca preservar a cooperação militar em meio à crise político-econômica entre os dois países durante a presidência de Donald Trump.

A Conferência Espacial das Américas, planejada para ocorrer em Brasília entre 29 e 31 de julho de 2025, foi cancelada pelos Estados Unidos em 23 de julho, conforme nota da FAB: “O evento foi cancelado por decisão dos Estados Unidos no dia 23 de julho”. O evento, organizado pelo Comando Sul dos EUA (Southcom) em parceria com a FAB, reuniria representantes de países como Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai, com o objetivo de fortalecer a cooperação no setor espacial, abrangendo áreas como defesa, economia, telecomunicações, pesquisa e navegação, segundo o site do Southcom. A edição de 2024 ocorreu em Miami, com a participação de dez nações.

Embora os EUA não tenham detalhado os motivos do cancelamento, fontes envolvidas na organização do evento, consultadas pela Folha, apontam que a decisão reflete o deterioro das relações entre os governos de Lula (PT) e Trump. O presidente americano acusou o governo brasileiro e o Supremo Tribunal Federal (STF) de conduzirem uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro (PL), réu em processos relacionados à tentativa de golpe. Além disso, os EUA impuseram sanções financeiras contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, cassaram vistos de membros da corte e de funcionários do programa Mais Médicos, e aplicaram uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, dificultando o diálogo com autoridades americanas, segundo Lula e seus ministros.

A Operação Formosa, exercício anual da Marinha em Formosa (GO) que mobiliza cerca de 2.000 militares, 100 viaturas e oito helicópteros, também pode ser impactada. Desde 2023, fuzileiros navais americanos participam do evento, que em 2024 contou com 56 militares dos EUA e, pela primeira vez, a presença simultânea de tropas chinesas. No entanto, três fontes envolvidas nos preparativos informaram que os EUA não responderam ao convite para a edição de 2025, enquanto a China confirmou sua ausência. A Marinha do Brasil não se pronunciou até o fechamento desta matéria.

A ausência americana em Formosa, onde participam como observadores há cerca de uma década e intensificaram a cooperação nos últimos dois anos, é vista como mais um sinal de distanciamento. Dentro do governo Lula, há resistência à presença de tropas dos EUA, com assessores considerando “inoportuna” a participação de militares de um país que impõe sanções ao Brasil. A Marinha brasileira avalia que o afastamento dos EUA também está ligado ao fortalecimento dos laços militares com a China, que passou a enviar tropas para exercícios conjuntos no Brasil em 2024. O governo brasileiro, por sua vez, ampliou sua presença militar em Pequim, enviando pela primeira vez um oficial-general para a adidância na embaixada.

Apesar dos cancelamentos, três oficiais-generais, sob anonimato, afirmaram que a cooperação militar entre Brasil e EUA não está rompida. Eles destacam a participação americana no Exercício Conjunto Tápio, em Campo Grande (MS), no final de julho, com foco em simulações de guerra irregular, eletrônica e missões de paz. Além disso, a Operação Core 2025, prevista para novembro, segue em planejamento sem intercorrências. O exercício visa padronizar procedimentos entre as forças dos dois países em operações conjuntas e missões de paz.

Os sinais de insatisfação dos EUA ocorrem após a visita do chefe do Southcom, almirante Alvin Holsey, ao Brasil, marcada por tensões. Os americanos solicitaram visitar uma base do Exército em Rio Branco (AC), pedido considerado incomum por oficiais brasileiros, que tentaram redirecionar a agenda para Manaus. A recusa dos EUA limitou os compromissos de Holsey a Brasília.


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