Kim Kataguiri defende prisão para Bolsonaro e critica blindagem familiar

Deputado do União Brasil planeja novo partido e candidatura em 2026 com visão ideológica renovada
Por: Brado Jornal 28.out.2025 às 10h51
Kim Kataguiri defende prisão para Bolsonaro e critica blindagem familiar
Estúdio Hertz - DF/BBC
Em entrevista à BBC News Brasil em seu gabinete em Brasília, decorado com itens de cultura japonesa como mangás e bonecos de anime, o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), cofundador do Movimento Brasil Livre (MBL), declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve ser encarcerado para cumprir pena, com saídas apenas para tratamentos médicos essenciais.

"Deve ir para a cadeia, sim", afirmou, ao ser questionado sobre a idade avançada e problemas de saúde de Bolsonaro. "Só se for inevitável que ele tenha um cuidado de saúde constante, o que não me parece ser o caso agora. Parece que ele tem problemas graves, mas pontuais, em que ele pode sair do presídio para ir ao hospital."

Kataguiri, que aos 19 anos emergiu como líder nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2015, completará 30 anos em 2026 e não poderá disputar a Presidência devido à idade mínima de 35 anos. Ele planeja lançar o partido Missão, com Renan Santos, outro cofundador do MBL, como candidato ao Planalto. Alternativas para si incluem uma candidatura ao governo de São Paulo ou um terceiro mandato na Câmara. "Estou na política para cumprir uma missão", disse.

O deputado rejeita qualquer apoio à família Bolsonaro, mesmo em uma frente ampla contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "A família Bolsonaro é um projeto hegemônico de poder e que só está preocupada com si própria. Não está preocupada com o país." Ele prefere anular o voto a votar em qualquer membro da família. "Em nenhuma hipótese", respondeu quando perguntado sobre apoiar Bolsonaro se ele não estivesse inelegível. Sobre Eduardo Bolsonaro: "Ninguém da família." E em uma coalizão contra Lula: "Não. Anularia o voto de novo."

Crítico ao governo Bolsonaro, Kataguiri acusa o ex-presidente de trair promessas anticorrupção para proteger o filho Flávio. "A promessa do enfrentamento à corrupção acabou a partir do momento em que ele precisou blindar o filho de uma investigação. E aí ele vendeu o país inteiro em troca dessa blindagem." Ele citou nomeação de Augusto Aras para a PGR, que "acaba não só com a Lava Jato, mas proíbe o modelo de força tarefa da Lava Jato para qualquer outra operação", e vetos a medidas como o fim de decisões monocráticas no STF, a pedido de Dias Toffoli, para suspender investigações sobre Flávio envolvendo COAF e Receita.

Kataguiri também mencionou o afrouxamento da Lei de Improbidade Administrativa, tentativas de mudar o Conselho Nacional do Ministério Público via PEC da Impunidade (reformulada como PEC da Blindagem), e trocas na Polícia Federal para blindar o senador. Economicamente, criticou furos no teto de gastos, como a "PEC kamikaze" de R$ 150 bilhões em ano eleitoral, e reformas parciais, como a administrativa sem incluir membros do Judiciário e Ministério Público.

Sobre o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe, o deputado afirmou: "Eu acho que ele tentou de fato dar um golpe de Estado. E de uma maneira bastante rocambolesca, porque ele vai lá, imprime a minuta de golpe na impressora do Palácio do Planalto, pega ela sem saber a opinião dos comandantes das armas, submete aos três comandantes e só não leva em frente porque o comandante do Exército o ameaça prender se levasse o plano em frente." No entanto, apontou vícios processuais: foro inadequado, julgamento em turma em vez de plenário, e "data dumping" com 60 terabytes de dados entregues à defesa no prazo de resposta à acusação.

Nota da redação: Procurados pela BBC News Brasil, Jair Bolsonaro e Elmar Nascimento não responderam aos pedidos de comentário até a publicação desta entrevista.

O MBL, nascido há uma década defendendo liberalismo econômico e privatizações, passou por "uma mudança de visão ideológica", segundo Kataguiri, influenciado por autores como Roger Scruton. "Aquilo que é público, que funciona bem, não precisa ser privatizado", disse, citando Embrapa, HC da USP e HC da Unicamp como exemplos. Sobre o SUS: "A discussão é sobre o modelo de gestão do SUS, que para mim é um absoluto fracasso." Defende privatizar hospitais estatais ineficientes, mas manter os que funcionam.

Para 2026, o Missão foca em segurança pública com "Direito Penal do inimigo" para facções, tratando-as como "país estrangeiro invadindo o nosso território", com pena de morte ou perpétua para líderes em nova Constituição, e declaração literal de guerra ao crime organizado. Na economia, propõe desvinculação orçamentária total, corte de supersalários (R$ 15 bilhões, principalmente de juízes e promotores) e renúncias fiscais à elite privada. "O orçamento discricionário é aquele para investimento, meio ambiente, infraestrutura... Se nós formos vincular na Constituição tudo o que o presidente da República deve gastar em cada setor, a gente não precisa de presidente da República."

Kataguiri não vê Tarcísio de Freitas (Republicanos) como nome forte da direita e aposta em Renan Santos, que já pontua 5% entre jovens engajados sem campanha lançada. "Não vejo relevância em ter ocupado o cargo eletivo anteriormente", comparando a Lula e Bolsonaro. Sobre Lula candidato: "Acho que é mais provável que ele não seja do que seja", priorizando biografia sobre poder.

Ele protocolou PL criminalizando apologia ao extremismo com incitação à violência física, mas defende imunidade para críticas ofensivas a poderes via PL Danilo Gentili. "Injúria sequer deveria ser crime... é um ilícito civil." Calúnia permanece crime.

Apesar de perseguições passadas, como buscas no MBL e representação de Aras por estudo da Fipe sobre licenciamento ambiental, Kataguiri afirma que a militância do movimento cresce desde a oposição ao bolsonarismo em 2019. "É cada vez maior."

Nota da redação: Em 2022, Augusto Aras entrou com representação contra o deputado, porque ele encomendou à Fipe, por R$ 50 mil, pagos com verba de gabinete, avaliação econômica de um projeto de lei que alterava o licenciamento ambiental, do qual Kataguiri era relator. A argumentação de Aras era de conflito de interesse, baseada em uma acusação do Ministério Público de 2020 que apontava o MBL como tendo atuado na contratação de um aliado pela Fipe.


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