Trump prioriza China sobre Bolsonaro em diálogo com Lula

Pragmatismo geopolítico redefine alianças na América do Sul
Por: Brado Jornal 28.out.2025 às 11h04
Trump prioriza China sobre Bolsonaro em diálogo com Lula
Reprodução
O encontro entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, realizado no domingo, 26 de outubro de 2025, nas margens da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) em Kuala Lumpur, na Malásia, expôs de forma inequívoca a estratégia do líder republicano: conter a expansão chinesa na América Latina supera qualquer laço ideológico remanescente com o ex-presidente Jair Bolsonaro. As imagens divulgadas globalmente capturaram um aperto de mãos firme e sorrisos protocolares, sinalizando uma reaproximação que ignora ressentimentos passados e foca em negociações comerciais concretas.

Lula, que completou 80 anos na segunda-feira, 27 de outubro, descreveu o diálogo como “muito bom” e destacou que Trump praticamente “garantiu” um acordo comercial bilateral, afirmando que ele viria “mais rápido do que qualquer um pensa”. Em postagem nas redes sociais, o presidente brasileiro reforçou: “Nós concordamos que nossas equipes se reunirão imediatamente para avançar na busca de soluções para as tarifas e sanções contra autoridades brasileiras”. Trump, por sua vez, saindo de Kuala Lumpur rumo ao Japão a bordo do Air Force One, qualificou o encontro de “ótimo” e enviou parabéns de aniversário a Lula, chamando-o de “um cara muito vigoroso”.

Essa interação surge em um contexto de tensões elevadas, com os Estados Unidos impondo tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, como medida de retaliação à perseguição judicial contra Bolsonaro, aliado de Trump, condenado a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe após a derrota nas eleições de 2022. Sanções também atingiram figuras como o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo julgamento. Apesar disso, o republicano sinalizou disposição para acordos, declarando previamente que poderia “chegar a alguns entendimentos com Lula” e que os laços entre os países seriam “fortes”.

No cenário geopolítico mais amplo, a diplomacia de Trump revela um cálculo frio: a influência chinesa na região, por meio de investimentos em infraestrutura, energia, telecomunicações e commodities, representa uma ameaça maior do que qualquer fidelidade pessoal. O Brasil, como potência econômica sul-americana, é visto em Washington como a chave para equilibrar essa presença de Pequim, que avança com portos, ferrovias e parcerias de alto nível. Um Brasil alinhado aos interesses americanos, mesmo sob Lula, evita que o continente se torne uma extensão da esfera de influência de Pequim o pior cenário para os EUA.

A irrelevância de Bolsonaro nesse tabuleiro é gritante. Outrora exibindo-se como “amigo de Trump” com bonés e postagens nas redes, o ex-mandatário agora é mera relíquia, eclipsado por sua perda de poder e envolvimento em processos judiciais. Trump, temperamental em campanha, age como estadista no exterior: ignora tweets e lives para priorizar resultados. Em Brasília, o bolsonarismo absorve o vazio sem menções, sem lamentações, apenas o silêncio de quem já não serve aos interesses imperiais.

Analistas em Washington veem a manobra como essencial para recuperar terreno perdido. A campanha anti-China de Trump, que o elegeu, não se sustenta com isolamento; exige alianças, concessões e pragmatismo. Lula, disposto a discutir qualquer tema, inclusive a crise na Venezuela, posiciona o Brasil como ponte necessária. Nos bastidores, a narrativa de “parceria equilibrada” ganha forma, com equipes negociadoras já mobilizadas para mitigar tarifas e sanções.

Bolsonaro, atolado em bravatas domésticas, subestimou que Trump nunca cultivou amizades, apenas ferramentas úteis. Enquanto serviu de barreira à esquerda latino-americana, teve valor; ao perder o cargo, evaporou. O abraço em Kuala Lumpur, com promessas de diálogo e um discreto “happy birthday”, enterra essa era. A política externa não perdoa lealdades cegas premia o cálculo estratégico, onde a China é o adversário real e o Brasil, o aliado indispensável.



📲 Baixe agora o aplicativo oficial da BRADO
e receba os principais destaques do dia em primeira mão
O que estão dizendo

Deixe sua opinião!

Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.

Sem comentários

Seja o primeiro a comentar nesta matéria!

Carregar mais
Carregando...

Carregando...

Veja Também
Kim Kataguiri defende prisão para Bolsonaro e critica blindagem familiar
Deputado do União Brasil planeja novo partido e candidatura em 2026 com visão ideológica renovada
Trump parabeniza Lula e destaca encontro positivo na Malásia, sem certeza sobre pacto bilateral
Otimismo em negociações comerciais apesar de tarifas elevadas
Senador Ciro Nogueira participa de jantar com Lula e irmãos Batista em meio a denúncias de propina da JBS
Presença de Ciro Nogueira em evento com líderes da pecuária levanta debates sobre escândalo de 2014
Recursos de Bolsonaro e aliados na trama golpista vão a julgamento no STF a partir de 7 de novembro
Embargos buscam corrigir supostas falhas, mas especialistas veem pouca chance de alteração nas condenações
Avaliação do governo Lula mostra desaprovação em 49,2% e aprovação em 47,9%
Tendência de melhora, mas negativos ainda à frente
Lula discute tarifas dos EUA e negociações com Trump em Kuala Lumpur
As declarações de Lula vieram em resposta a comentários de Trump, que, ao embarcar no Air Force One na mesma segunda-feira, descreveu a reunião com o presidente brasileiro no domingo (26.out) como “ótima”.
Carregando..