Zohran Mamdani conquista prefeitura de Nova York em revés para Trump

Ascensão surpreendente de um progressista na maior metrópole americana
Por: Brado Jornal 05.nov.2025 às 09h34
Zohran Mamdani conquista prefeitura de Nova York em revés para Trump
Foto: Reuters/Jeenah Moon

Projeções da mídia dos Estados Unidos confirmam que o democrata Zohran Mamdani, de 34 anos, emergiu vitorioso na eleição para prefeito da metrópole nesta terça-feira (4). Sua conquista marca um ponto histórico, tornando-o o primeiro líder muçulmano e de origem sul-asiática a assumir o cargo na maior cidade do país, além de ser o mais jovem em mais de um século a fazê-lo.

O triunfo de Mamdani configura um golpe significativo para o presidente Donald Trump, que buscou influenciar o pleito ao incentivar votos contra o progressista e alertar sobre possíveis reduções em repasses federais, caso o democrata saísse vencedor. "É minha obrigação governar a nação, e tenho a firme convicção de que a cidade de Nova York será um completo desastre econômico e social caso Mamdani vença", escreveu Trump em uma rede social na véspera do voto.

Com cerca de 90% das urnas apuradas, Mamdani alcançou 50,4% dos sufrágios, superando o ex-governador Andrew Cuomo, que concorreu como independente e obteve 41,6%. O republicano Curtis Sliwa ficou distante, com 7,1%, o que levou agências como a Associated Press a declararem a vitória do socialista declarado.

Nascido em Uganda, filho de uma indiana e um ugandês, Mamdani migrou para os EUA na infância e forjou sua trajetória política em Nova York, atuando como deputado estadual desde 2021. Seu perfil progressista ganhou projeção nacional por meio de posicionamentos firmes em favor da Palestina e contra as ofensivas israelenses na Faixa de Gaza durante o conflito com o Hamas. Em 2020, ele provocou polêmica ao qualificar a polícia local como "racista" e "grande ameaça à segurança pública", mas retratou-se publicamente no último mês da campanha.

Carismático e sintonizado com a juventude, Mamdani se popularizou nas plataformas digitais, notadamente no TikTok, onde viralizou com mensagens acessíveis sobre desafios cotidianos como moradia e transporte. Essa estratégia impulsionou sua campanha, que começou como azarão nas pesquisas iniciais e evoluiu para uma liderança consolidada, com margens de até 20 pontos sobre Cuomo nas sondagens finais.

Sua plataforma eleitoral prioriza a redução do custo de vida em uma cidade onde os aluguéis médios atingiram picos de aproximadamente R$ 20 mil por mês. Entre as propostas centrais, destacam-se o congelamento de valores para cerca de 1 milhão de inquilinos em unidades estabilizadas, a expansão de creches gratuitas e a instalação de supermercados públicos com itens a preços acessíveis em todos os distritos. Ademais, ele defende o transporte de ônibus sem custo e ampliou críticas às ações de Israel em Gaza, condenando tanto o ataque do Hamas em 7 de outubro quanto a resposta bélica, que qualificou como genocídio.

A campanha foi pontuada por inesperadas mudanças de rumo. Nas primárias democratas de junho, Mamdani desbancou Cuomo, o favorito inicial, ao capitalizar no descontentamento com o alto custo de vida e na imagem de "tiktoker" inovador. Cuomo, assombrado por escândalos de assédio sexual e má gestão na pandemia de Covid-19, migrou para candidatura independente, amparado por doadores corporativos e pelo prefeito Eric Adams, que abandonou a reeleição em setembro e o endossou.

Mesmo com resistências de alas moderadas do Partido Democrata que o veem como excessivamente esquerdista e distante do pragmatismo histórico da legenda, Mamdani obteve avanços em bairros nobres como Brooklyn Heights e Park Slope, além de comunidades imigrantes. Eleitores abaixo de 45 anos o respaldaram por 43 pontos de folga, conforme pesquisas de boca de urna, enquanto recém-chegados à cidade superaram nativos no apoio ao candidato.

Nova York, com 8,4 milhões de residentes, permanece sob domínio democrata desde 2014. Mamdani tomará posse em 1º de janeiro de 2026, herdando expectativas elevadas. Especialistas debatem a factibilidade de seu programa, que visa serviços públicos expandidos e mercados municipais econômicos, em meio a um orçamento apertado. Sua eleição, parte de uma onda de sucessos progressistas incluindo vitórias em Virgínia e Nova Jersey, pode remodelar o debate interno nos democratas rumo às midterm de 2026.

Em seu discurso de vitória no Brooklyn Paramount, o prefeito eleito celebrou a diversidade da urbe e lançou uma provocação direta a Trump. "Se tem alguém que pode mostrar para uma nação traída por Trump como o derrotar, esse alguém é a cidade que o criou, Nova York", afirmou. "Esta cidade pertence a vocês", complementou, em tom inspirador, para uma multidão mista de jovens, imigrantes e ativistas. "Vocês ousaram alcançar algo maior", disse ainda, ao lado da esposa, Rama Duwaji.

Do lado republicano, Trump atribuiu a derrota de seu aliado Cuomo à ausência de seu voto pessoal e a uma suposta paralisia governamental. "Prefiro muito mais ver um democrata com histórico de sucesso vencer do que um comunista sem experiência e com histórico de fracasso total", postou, ao anunciar respaldo ao ex-governador. A Casa Branca, por sua vez, circulou uma imagem parodiando o escudo do New York Knicks com a legenda "Trump é seu presidente".

A campanha nacionalizou a disputa, com republicanos rotulando Mamdani de "comunista" e "radical", inclusive com insinuações religiosas ligando-o ao extremismo islâmico e aos eventos de 11 de setembro. Apesar disso, sua mensagem de acessibilidade – abordando moradia, mobilidade e despesas diárias ressoou amplamente, transformando-o de legislador obscuro em ícone progressista.




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