Comando Vermelho extorque comerciantes e controla internet em comunidades da Bahia

O Ministério Público da Bahia (MPBA) investiga a atuação do Comando Vermelho (CV), segunda maior facção criminosa do Brasil, que desde 2020 tem ampliado suas atividades ilícitas no estado, especialmente em Salvador
Por: Brado Jornal 09.jun.2025 às 09h28
Comando Vermelho extorque comerciantes e controla internet em comunidades da Bahia
Crédito: Reprodução

O Ministério Público da Bahia (MPBA) investiga a atuação do Comando Vermelho (CV), segunda maior facção criminosa do Brasil, que desde 2020 tem ampliado suas atividades ilícitas no estado, especialmente em Salvador. Além do tráfico de drogas, a organização passou a cobrar "pedágios" de comerciantes e provedores de internet em comunidades como Cosme de Farias, Complexo do Nordeste de Amaralina, Engenho Velho da Federação, Tancredo Neves e Cabula, prática que já é comum em estados como o Rio de Janeiro.

Extorsão e violência em Salvador

Em bairros como Engenho Velho da Federação, nas localidades de Baixa da Égua e Forno, o CV exige de provedores de internet um pagamento que varia de 20% a 30% do valor das mensalidades cobradas dos moradores. “Eles mandam áudios pelo WhatsApp, muitas vezes de perfis com imagens religiosas para despistar, exigindo o pagamento. Quem não aceita enfrenta represálias, como corte de cabos ou até violência física”, relatou um comerciante local, que preferiu não se identificar. Um ex-proprietário de provedor no bairro revelou que faliu após se recusar a pagar a taxa e transferiu seus clientes para outra empresa.

Casos de violência também foram registrados. Um comerciante do Engenho Velho da Federação contou que um provedor que resistiu ao pagamento foi invadido, e seu dono levou um tiro no pé. “Ele foi avisado para não continuar, mas insistiu. No dia seguinte, deixou o bairro”, disse. Em Tancredo Neves, moradores denunciaram em março de 2025 atos de vandalismo promovidos pelo CV, como o incêndio de equipamentos de provedores que não pagaram o “pedágio”. Um caso semelhante ocorreu em agosto de 2023, quando cabos de internet foram destruídos por ordem de um líder da facção conhecido como “Galo”.

Impacto nos serviços e na população

A dona de casa de Baixa da Égua, que paga R$ 60 por mês pelo serviço de internet, reconhece que parte do valor vai para a facção. “Sabemos que é errado, mas as grandes operadoras não chegam aqui”, lamentou. No Cabula, a 23ª CIPM conseguiu, em 2024, desarticular a cobrança de taxas a provedores e comerciantes na Estrada das Barreiras, segundo o tenente-coronel Luciano Jorge, ex-comandante da unidade.

A situação também afeta a segurança das equipes de grandes operadoras. A Conexis Brasil Digital, que representa empresas como Oi, Tim, Claro e Vivo, informou que a restrição de acesso em áreas dominadas por facções prejudica a manutenção e instalação de equipamentos, comprometendo a qualidade do serviço e a segurança dos técnicos. A entidade defende uma ação coordenada entre Judiciário, Legislativo e Executivo para garantir a operação segura das empresas.

Investigações e regulação

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) registrou, desde 2020, 220 denúncias de serviços clandestinos de internet na Bahia, sendo 30 em Salvador. O fenômeno, apelidado de “CV Net”, já está sob investigação do MPBA, que não comenta detalhes devido ao sigilo das apurações. No Rio de Janeiro, onde a prática é mais antiga, a Secretaria de Segurança Pública identificou, em janeiro de 2025, empresas de internet com movimentações financeiras suspeitas, sugerindo ligações com facções criminosas. Os dados foram encaminhados à Anatel para medidas regulatórias.

Um dono de provedor no Cabula, onde outra facção atua, apontou que a flexibilização de regras pela Anatel, que dispensa autorização para pequenos provedores com até 5.000 acessos, facilitou a entrada de criminosos no setor, apesar de ter democratizado o acesso à internet em comunidades.

Extorsão além da internet

A atuação do CV não se limita aos provedores de internet. Em Cosme de Farias, comerciantes de padarias, bares, salões e lojas pagam entre R$ 100 e R$ 300 semanais ou mensais, dependendo do tipo de negócio. “Ninguém quer ter o mesmo destino do dono do gás”, disse o proprietário de uma lanchonete, referindo-se à execução de Gerson Leopoldino Andrade, de 69 anos, em setembro de 2023, na Baixa do Tubo, após se recusar a pagar R$ 7 mil ao CV. Em outro caso, na Avenida Vasco da Gama, o dono de uma loja de bombas hidráulicas teve a família sequestrada há dois anos, sendo liberada após pagamento de resgate.

Insegurança e impacto social

A violência também afeta a população. Em maio de 2025, o influenciador baiano Pedro Valente, com mais de 300 mil seguidores no Instagram, relatou estar sem internet por cinco dias, já que a Tim alegou “insegurança permanente” para enviar técnicos à sua residência. No Ceará, a provedora GPX Telecom encerrou suas atividades em Caucaia após traficantes do CV destruírem seus equipamentos.

A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSPBA), a Polícia Civil (PCBA) e a Polícia Militar (PMBA) foram procuradas, mas não responderam até o fechamento desta matéria. A expansão do CV evidencia os desafios para combater a influência de facções em atividades econômicas e serviços essenciais nas comunidades baianas.




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