Muitos músicos baianos enfrentam dificuldades financeiras devido à falta de pagamento de cachês por apresentações contratadas pelo Governo do Estado. Shows realizados no São João de 2024 e em anos anteriores, como 2018 e 2019, ainda não foram quitados. Os contratos, firmados por meio da Superintendência de Fomento ao Turismo (Sufotur), antiga Bahiatursa, deixaram artistas com dívidas e desilusão.
O cantor Gernàrd Melo usou suas redes sociais para expor a situação, revelando que o governo deve a ele cerca de R$ 200 mil por seis apresentações, incluindo uma no Pelourinho durante o São João de 2024. “Nós, que vivemos de música, passamos por dificuldades se não formos pagos. No meu caso, que sou formado em gastronomia, comecei a vender comida no iFood para sobreviver”, relata. Ele ainda menciona ter contraído um empréstimo de R$ 50 mil para custear shows, o que o levou a uma dívida e à depressão. “Eu peguei um empréstimo, fiquei com uma dívida de R$ 50 mil e entrei em depressão. Hoje, estou recebendo relatos de pessoas na mesma situação”, desabafa.
A postagem de Gernàrd incentivou outros artistas a compartilharem experiências semelhantes. Valney José, forrozeiro do Vale do Jiquiriçá, contratado para tocar no Parque de Exposições no São João de 2024, esperava receber R$ 8 mil, mas não viu o pagamento. “Eu contratei uma banda para tocar comigo, ainda paguei os custos do transporte. Foi um investimento de R$ 5 mil, que não tive retorno”, conta. Segundo ele, muitos artistas evitam denunciar por medo de represálias. “Muita gente não tem coragem de falar porque sabe que sofrerá represália e não será mais contratado”, afirma.
Impactos financeiros e legais
O advogado Paulo Aguiar, que representa artistas em ações judiciais, destaca a recorrência do problema. “É um problema que vem ocorrendo há muitos anos, desde a Bahiatursa. As bandas são contratadas, com verba pública, e enfrentam uma grande dificuldade para receber os valores”, explica. Ele reforça que o receio de represálias impede denúncias. “Se os artistas começarem a expor, pode ser que no futuro deixem de ser contratados para fazer shows”, observa.
Aguiar recomenda que os músicos busquem a Justiça para receber os valores devidos. O Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE) desaprovou as contas da Bahiatursa em 2019, 2022, 2023 e 2024. Em 2019, ano de algumas apresentações de Gernàrd, o TCE determinou a devolução de R$ 281 mil por irregularidades.
A Sufotur passou por mudanças recentes na gestão. Gustavo Stelitano Lira Gonçalves assumiu a superintendência em setembro de 2025, substituindo Ângela Fucs, que ocupava o cargo desde a saída de Diogo Medrado, em agosto de 2024. A pasta foi procurada na terça-feira (9) para comentar as denúncias, mas, devido à transição, pediu mais tempo para se posicionar. Até o fechamento desta matéria, na quarta-feira (10), não houve resposta.
Outras queixas incluem denúncias de favorecimento na contratação de bandas. Valney José aponta que “a Sufotur contrata sempre as mesmas bandas, nunca diversifica, e os artistas locais não são valorizados”. Um músico, sob anonimato, revelou ter recebido propostas para emitir notas fiscais falsas para garantir contratações em períodos festivos. “Eles pedem uma nota fiscal fria. A pessoa usa uma nota fiscal falsa para dizer que cobra um valor alto pelo show, é contratada, e os produtores desembolsam parte da verba pública”, denuncia.
Os artistas aguardam soluções para receber os cachês e pedem maior transparência na gestão dos contratos. Enquanto isso, a falta de pagamento segue impactando a vida de músicos que dependem da arte para sobreviver.
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