Em Salvador, o aumento de roubos de medicamentos injetáveis, conhecidos como canetas emagrecedoras, tem forçado farmácias a adotarem novas medidas de segurança. Entre fevereiro e setembro de 2025, mais de 20 estabelecimentos foram alvos de assaltos, com prejuízos estimados em cerca de R$ 20 milhões, segundo a Polícia Civil. Esses crimes, frequentemente realizados à mão armada, visam principalmente os agonistas GLP-1, como Ozempic e Mounjaro, amplamente utilizados para emagrecimento.
Um caso emblemático ocorreu em junho, quando a farmácia do empresário Flávio, em Brotas, foi invadida. “Dois rapazes pararam uma moto. Um ficou na porta e o outro entrou já perguntando da geladeira das canetas, dizendo que sabia que tinha e que era melhor dar logo. Eu vi nas câmeras depois que o que entrou estava com uma arma na cintura”, relatou Flávio, que preferiu não divulgar o sobrenome por segurança. O roubo de oito canetas gerou um prejuízo de aproximadamente R$ 11 mil.
De acordo com Gibran Sousa, diretor do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado da Bahia (Sindifarma), as farmácias têm ajustado suas rotinas para lidar com a insegurança. “Individualmente, existem redes que contratam segurança ou, às vezes, a depender da situação ou do bairro, optam por fechar mais cedo. O que é um absurdo, né? Porque mostra que você está refém do crime”, afirmou. Ele destacou que as farmácias de bairro, ou independentes, evitam manter grandes estoques desses medicamentos, que podem custar até R$ 100 mil, para reduzir o risco de perdas.
Os bairros mais afetados incluem Pituba, Itapuã, Costa Azul, Armação e Horto Florestal, com a Pituba registrando o maior número de casos, segundo o Sindifarma. “Uma drogaria que a gente chama ‘de bairro’ não compra 30, 40 ou 50 canetas emagrecedoras, porque ele vai ter estoque de R$ 50.000, R$ 100.000. Para uma drogaria de bairro, isso é muito para ter aquela quantidade parada. Se você verificar, esses roubos acontecem nas grandes redes”, explicou Gibran.
Entre fevereiro e maio, um grupo criminoso foi responsável por 23 assaltos, causando prejuízos de cerca de R$ 2 milhões, conforme operação policial relatada em junho de 2025. A ação, chamada Operação Mirakel, prendeu dois suspeitos e revelou que adolescentes eram cooptados para os crimes, muitas vezes disfarçados de entregadores por aplicativo. Além disso, casos de contrabando foram registrados, como a apreensão de 100 canetas Mounjaro no Aeroporto Internacional de Salvador, em março, e de 90 unidades com uma passageira em junho.
A escalada de crimes também levanta preocupações com a saúde pública, já que esses medicamentos exigem armazenamento em caixas térmicas e monitoramento de temperatura, condições muitas vezes ignoradas no mercado ilegal. As farmácias, pressionadas, têm reduzido estoques e reforçado a segurança, enquanto a Polícia Civil continua investigando para identificar outros envolvidos. Denúncias anônimas podem ser feitas pelo Disque Denúncia da Secretaria da Segurança Pública, no número 181.
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