A Bolsa de Valores da Argentina e o peso argentino sofreram forte desvalorização nesta segunda-feira (8.set.2025) após a derrota do governo de Javier Milei, do partido La Libertad Avanza, nas eleições legislativas da província de Buenos Aires. A coligação peronista Fuerza Patria (esquerda) venceu com 47% dos votos, superando os 34% do partido de Milei, uma margem de 13 pontos percentuais não antecipada pelas pesquisas.
Os mercados reagiram imediatamente. Às 12h50, o peso argentino registrava queda de 10,5%, cotado a 1.421 por dólar, enquanto a Bolsa de Valores caía 10,7%, com pico de recuo de 13,6% durante o dia. Grandes instituições financeiras, como Goldman Sachs e Bradesco BBI, revisaram suas projeções, considerando agora a derrota de Milei nas eleições nacionais de outubro como o cenário mais provável. A expectativa é que o partido do presidente não alcance um terço do Congresso, o que o obrigaria a intensificar negociações para evitar vetos.
Analistas apontam para um período de “turbulência generalizada” nos ativos argentinos. A desvalorização do peso pode pressionar o governo a usar reservas internacionais para intervir no câmbio, conforme exigências do FMI (Fundo Monetário Internacional). Matias Vernengo, professor da Universidade de Bucknell (EUA) e ex-administrador do Banco Central da Argentina, destacou que os mercados já estavam instáveis desde abril, quando o FMI impôs a abertura parcial do câmbio. “A dimensão da derrota surpreendeu, refletindo o impacto social das medidas econômicas. A fragilidade do cenário já forçava intervenções do governo no câmbio antes mesmo da eleição”, afirmou.
No âmbito político, a vitória fortalece Axel Kicillof, governador de Buenos Aires e figura do peronismo progressista ligado a Cristina Kirchner, como líder para a eleição presidencial de 2027. “Kicillof consolida sua posição no peronismo”, disse Vernengo, destacando a resolução de disputas internas na Fuerza Patria.
Apesar do revés, Milei reiterou que manterá a política monetária e a disciplina fiscal. No entanto, estrategistas sugerem que a gravidade do resultado pode exigir mudanças no ministério para estabilizar os mercados e uma revisão na estratégia política do governo.
**Resultados eleitorais e impacto nacional**
A eleição em Buenos Aires, que concentra cerca de 40% da população argentina, é vista como um indicativo para as eleições legislativas nacionais de outubro, quando parte do Congresso será renovada. A Fuerza Patria conquistou 21 das 46 cadeiras da Câmara provincial e 13 das 23 do Senado provincial, enquanto a La Libertad Avanza obteve 18 e 8, respectivamente. O total de assentos é de 92 na Câmara e 46 no Senado.
Historicamente, os resultados na província sinalizam tendências nacionais. O pleito também reflete o impacto das denúncias de corrupção contra Milei e sua irmã, Karina Milei, secretária da presidência.
Em agosto, áudios vazados de Diego Spagnuolo, ex-diretor da Andis e próximo dos irmãos Milei, revelaram um suposto esquema de corrupção na compra de medicamentos, com Karina supostamente recebendo 3% dos 8% de propina cobrada em contratos da agência. As acusações intensificam a pressão sobre o governo.
Além disso, bancos argentinos, que inicialmente apoiavam a agenda econômica de Milei, agora criticam as novas regras de liquidez adotadas para conter a desvalorização do peso, ampliando a resistência ao governo.
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