A operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, deflagrada em 28 de outubro de 2025 nos complexos do Alemão e da Penha, visava capturar Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca ou Urso, de 55 anos, apontado como o principal líder em liberdade do Comando Vermelho (CV). Apesar do cerco montado por cerca de 2.500 agentes das Polícias Civil e Militar, que resultou em pelo menos 121 mortes incluindo quatro policiais e 81 prisões, Doca conseguiu fugir, protegido por uma rede de aproximadamente 70 homens armados. O Disque Denúncia aumentou a recompensa por sua captura para R$ 100 mil, o maior valor já oferecido, equiparável ao de Fernandinho Beira-Mar em 2000.
Documentos da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), que subsidiaram a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), revelam um esquema de proteção rigoroso adotado pela cúpula da facção para evitar que Doca seja localizado ou eliminado. Foragido há sete anos, ele acumula 273 anotações criminais, 32 mandados de prisão em aberto e é investigado por mais de 100 homicídios, incluindo execuções de civis inocentes e o uso de drones para lançar granadas contra rivais e forças de segurança.Medidas de isolamento e controle de acessoInterceptações de mensagens no WhatsApp e vídeos de drones usados como provas na denúncia mostram que apenas um círculo restrito de aliados tem permissão para se aproximar de Doca. Ele divide o comando das operações no Complexo da Penha com Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala, que gerencia o tráfico na Vila Cruzeiro há pelo menos uma década. As regras internas proíbem explicitamente a entrada de qualquer pessoa armada na residência onde Doca se abriga, inclusive comparsas da facção, para minimizar riscos de traições ou invasões.
Carlos da Costa Neves, conhecido como Gardenal, atua como gerente geral do tráfico no Complexo da Penha e é responsável pela expansão do CV para áreas como a Grande Jacarepaguá, incluindo comunidades como Gardênia Azul, César Maia e Juramento territórios recentemente tomados de milícias. Gardenal define a escala de seguranças e monitora rigorosamente o fluxo de entrada e saída do esconderijo de Doca. Em uma mensagem interceptada e usada como evidência, ele afirma claramente: “ninguém deve entrar armado na casa do chefe, nem os próprios traficantes.”
Outro integrante chave é Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão ou Síndico da Penha, descrito como o administrador operacional da facção na região. Sua função inclui transmitir ordens e demandas de Doca aos subordinados, impor normas de conduta interna e coordenar os pagamentos aos criminosos envolvidos nas atividades.Prisões e impacto na estrutura do Cv
A operação, batizada de Contenção, cumpriu cerca de 100 mandados de prisão, incluindo alvos de outros estados, e apreendeu 42 fuzis. Entre os detidos estão Thiago do Nascimento Mendes, o Belão do Quitungo, uma das principais lideranças do CV na capital fluminense; Nicolas Fernandes Soares, operador financeiro ligado diretamente a Doca; e Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, homem de confiança do líder e procurado por envolvimento na execução de três médicos na Barra da Tijuca, em outubro de 2023 crime ordenado por Doca após um erro de identificação de alvo miliciano.
Doca também foi denunciado em maio de 2025 pelo MPRJ pelo ataque a uma delegacia em Duque de Caxias, em fevereiro do mesmo ano, onde criminosos armados com fuzis e granadas invadiram o local para resgatar um aliado, ferindo dois agentes e torturando um terceiro. A ação visava Rodolfo Manhães Viana, o Rato, já transferido para outra unidade. Além disso, investigações o ligam à intermediação de armas para facções e à lavagem de dinheiro via venda de joias de alto valor, como no caso do deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos, preso em 2025.
O episódio reforça o papel de Doca na hierarquia do CV, logo abaixo de Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar, ambos presos em presídios federais. Sua fuga destaca a sofisticação da estrutura de proteção da facção, que utiliza tecnologia avançada, como drones lançadores de granadas primeiramente empregados contra milicianos na Zona Norte, para manter o controle territorial e expandir influência. A operação freou temporariamente o avanço do CV para Jacarepaguá, mas a ausência de Doca sugere que a ameaça persiste, demandando investigações contínuas em finanças e redes de apoio externas às favelas.
                                                     
						
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