Expansão de facções reacende medo em bairros de Salvador

Disputas territoriais entre grupos rivais geram toques de recolher e execuções no Subúrbio, Centro Antigo e áreas adjacentes
Por: Brado Jornal 13.out.2025 às 09h57
Expansão de facções reacende medo em bairros de Salvador
Crédito: Tony Silva/Divulgação
O bairro de Tororó, no entorno do Centro de Salvador, mostra sinais claros de domínio consolidado pelo Comando Vermelho (CV), conforme indicações recentes de marcações territoriais. Postes e paredes da região foram pichados com as iniciais "CV" há aproximadamente sete dias, sinalizando uma tentativa de avanço sobre áreas historicamente ligadas ao Bonde do Maluco (BDM). Fontes policiais apontam que o grupo carioca já exerce controle sobre a Portelinha, entrada da Lapa, e porções do Dique do Tororó, usando o bairro como base para pressionar o território rival no coração da cidade. Essa movimentação faz parte de uma estratégia maior de expansão urbana do CV, que busca infiltrar-se em pontos estratégicos da capital baiana, aproveitando vazios deixados por disputas internas em facções locais.

Em paralelo, o Lobato, no Subúrbio Ferroviário, vive um clima de guerra aberta após a eliminação de 'Seu Nilson', principal líder do BDM na Avenida Pontilhão, e de sua companheira. Os corpos do casal, atingidos por múltiplos disparos, foram abandonados em Pirajá na quarta-feira (8). No exato momento, integrantes rivais do Coroado, vinculados ao CV, celebraram o ocorrido soltando fogos de artifício. O episódio remete a um conflito de cinco anos atrás, quando o CV invadiu o Pontilhão, promovendo uma onda de execuções contra membros do BDM, abrangendo desde crianças até adultos.

“Quem era parente ou amigo não era poupado. As namoradas foram mortas e comerciantes expulsos”, relata uma fonte próxima aos eventos. Após aqueles ataques, autoridades policiais neutralizaram lideranças do CV, permitindo o retorno de 'Seu Nilson' à região. Agora, com sua ausência definitiva, remanescentes do BDM ameaçam uma reação armada para defender o território. Sem uma resposta imediata das forças de segurança, analistas preveem um ciclo de retaliações que pode resultar em dezenas de vítimas no Pontilhão e arredores. Uma comitiva oficial visitou o Lobato recentemente para avaliar a situação, enquanto granadas caseiras foram localizadas na área, elevando o risco de confrontos explosivos. Dados recentes do Instituto Fogo Cruzado reforçam o alerta: o bairro registrou múltiplos tiroteios em 2025, posicionando-se entre os mais afetados pela migração de facções para o Subúrbio, com 856 incidentes armados na capital até setembro, causando 647 mortes.

No Centro Antigo, a Barroquinha enfrenta um cenário de paralisia econômica sob o jugo do medo imposto pelo BDM. Na quinta-feira (9), um "toque de recolher" forçado pelo grupo levou ao fechamento prematuro de comércios, em retaliação à morte de 'Albino da Barroquinha', traficante abatido em operação policial. Apesar da mobilização da Polícia Militar, que resultou na detenção de dois indivíduos responsáveis pela ordem de encerramento das atividades, a instabilidade persiste. Ônibus suspenderam o tráfego na região, isolando ainda mais os lojistas. “Mas isso não resolve, até porque a polícia não pode ficar aqui toda hora. Precisamos de mais segurança”, desabafa o proprietário de uma loja de roupas. A redução drástica no fluxo de clientes, aliada à ameaça constante de violência, pinta um quadro de decadência para um polo histórico de comércio, onde o Estado parece relutante em implementar medidas duradouras. Comerciantes se veem obrigados a operar em meio a um ambiente de insegurança que compromete não apenas os negócios, mas o patrimônio cultural vivo da capital.

Essas investidas do CV e reações do BDM ilustram uma remodelação violenta do crime organizado em Salvador, com disputas que se deslocam de periferias tradicionais para zonas centrais e suburbanas. Estudos como o do Fórum Brasileiro de Segurança Pública destacam que a Bahia abriga seis facções principais, o segundo maior contingente nacional, fomentando alianças instáveis e fragmentações que agravam a governança criminal. A ausência de políticas públicas robustas em áreas vulneráveis acelera essa dinâmica, transformando bairros como Tororó, Lobato e Barroquinha em fronts de uma batalha que ameaça a tranquilidade de milhares de soteropolitanos.


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