O partido La Libertad Avanza, do presidente Javier Milei, obteve uma vitória expressiva nas eleições legislativas de meio de mandato na Argentina, conquistando apoio suficiente no Congresso para avançar com reformas econômicas radicais. O resultado, apurado em 99%, surpreendeu analistas e analisa como um endosso aos cortes de gastos implementados desde o início do mandato, mesmo em meio a uma recessão que gerou perda de mais de 250 mil empregos e o fechamento de cerca de 18 mil empresas.
Com o escrutínio quase completo, a legenda de Milei garantiu 64 das 127 vagas em disputa na Câmara dos Deputados e 13 das 24 no Senado. Isso representa um avanço significativo em relação às 37 cadeiras que detinha anteriormente na Câmara, fortalecendo sua posição para evitar vetos derrubados ou tentativas de impeachment. A oposição peronista, liderada pelo Força Pátria e aliados, ficou com 44 assentos na Câmara e 7 no Senado, mantendo uma maioria tênue no Parlamento por apenas três cadeiras no total.
O pleito renovou metade da Câmara Baixa (127 de 257 assentos) e um terço da Câmara Alta (24 de 72), em um teste nacional inédito para Milei desde sua posse há dois anos. Especialistas atribuem o bom desempenho a um temor generalizado de retorno às crises econômicas passadas, associadas a governos peronistas que acumularam defaults soberanos e hiperinflação. Apesar da austeridade que reduziu drasticamente a inflação, a atividade econômica encolheu por três meses seguidos até agosto, quando registrou leve alta de 0,3%, e o poder de compra da população despencou, com a maioria dos argentinos relatando dificuldades para cobrir despesas básicas.
Em discurso em Buenos Aires logo após os resultados, Milei celebrou o momento como um marco transformador. "Foi um dia histórico para a Argentina. O povo argentino resolveu deixar para trás 100 anos de decadência e persistir no caminho da liberdade, do progresso e do crescimento. Hoje começa a construção da Argentina grande", declarou o presidente, referindo-se aos sucessivos governos peronistas que, segundo ele, condenaram o país a espirais inflacionárias.
O sucesso eleitoral também ecoou em Washington, onde o presidente Donald Trump, em viagem pela Ásia, destacou o papel dos Estados Unidos no êxito de Milei. Trump condicionou um pacote de resgate de até US$ 40 bilhões – composto por um swap cambial de US$ 20 bilhões já assinado e uma proposta de US$ 20 bilhões em empréstimos de bancos privados – ao bom desempenho nas urnas, ameaçando retirar o suporte em caso de revés. "BIG WIN in Argentina for Javier Milei, a wonderful Trump Endorsed Candidate!", postou Trump em sua rede social Truth Social. "Congratulations to President Javier Milei on his Landslide Victory in Argentina. Our confidence in him was justified by the People of Argentina."
Em declarações à imprensa, Trump se atribuiu grande parte do mérito pela conquista. “Ele teve muita ajuda nossa. Muita ajuda. Eu o apoiei uma recomendação muito forte”, afirmou o republicano, mencionando contribuições de seu secretariado, incluindo o secretário do Tesouro, Scott Bessent, responsável pela coordenação da assistência financeira. “Estamos firmes com vários países da América do Sul. Damos muita atenção à América do Sul”, complementou Trump, que descreveu o triunfo como “grande” e “inesperado”.
Bessent, que acompanhava o presidente na Ásia, defendeu o auxílio como uma estrutura transitória para sustentar as mudanças em curso. “Ele está enfrentando 100 anos de políticas ruins”, disse o secretário a jornalistas. “Ele vai quebrar esse ciclo graças ao apoio dos Estados Unidos.” Trump acrescentou que o respaldo americano vai além de ganhos financeiros: “Ganhamos muito dinheiro com essa eleição, porque os títulos subiram. Toda a classificação de risco da Argentina melhorou”, observou, mas enfatizou: “não estamos nisso apenas pelo dinheiro”.
A intervenção dos EUA evitou um downgrade na classificação de crédito argentina, conforme informou a Fitch Ratings na quarta-feira. A agência elogiou o suporte aos mercados, mas advertiu que Buenos Aires ainda requer uma estratégia mais robusta para reconstituir reservas cambiais e buscar um upgrade. Investidores reagiram positivamente, prevendo uma valorização do peso e um "rali generalizado" nos ativos de risco, graças à estabilidade política renovada e ao impulso para desregulamentações em áreas como trabalho, tributos e previdência social.
O resultado alivia Milei após quedas recentes em pesquisas de popularidade, agravadas por escândalos de corrupção envolvendo sua irmã, Karina Milei, e turbulências financeiras. Antes da votação, o presidente se reuniu com Trump na Casa Branca, onde trocou elogios e presentes, garantindo os compromissos bilionários. De volta à Argentina, Milei desfilou em caminhonete por multidões em Rosario e outras cidades, apelando diretamente a estudantes, agricultores e aposentados para que endossassem sua visão anarcocapitalista.
Analistas como Gustavo Cordoba, da consultoria Zuban Cordoba, destacaram a surpresa com o desempenho, ligando-o a preocupações com a repetição de colapsos econômicos anteriores. A vitória em províncias tradicionais peronistas, como Buenos Aires, sinaliza uma guinada política notável, especialmente após reveses em eleições locais no mês anterior. Com o novo Congresso, Milei promete o "mais reformista da história argentina", acelerando sua agenda de livre mercado em uma campanha que atraiu atenção inédita de Wall Street e do governo Trump.
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