José “Pepe” Mujica falece aos 89 anos no Uruguai

José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, morreu aos 89 anos na terça-feira (13.mai.2025), vítima de câncer de esôfago. A confirmação veio do atual presidente, Yamandú Orsi, da Frente Ampla, que lamentou a perda em uma publicação no X: “Com imensa tristeza, comunicamos a morte de nosso querido Pepe Mujica. Líder, ativista e presidente, seu amor pelo povo uruguaio será eternamente lembrado. Gratidão por tudo, velho amigo.”

Mujica revelou o diagnóstico de câncer de esôfago em 29 de abril de 2024, após exames de rotina. O tratamento com radioterapia começou logo em seguida, mas foi complicado pela Síndrome de Strauss, uma condição imunológica que afetava seus rins. Em junho de 2024, sua médica, Raquel Pannone, informou que as sessões de radioterapia haviam sido concluídas. No entanto, em agosto, Mujica foi internado em Montevidéu devido a problemas digestivos causados pelo tratamento, que resultaram em fibrose esofágica, dificultando sua alimentação.

Para contornar o problema, Mujica passou por uma gastrostomia em 7 de setembro de 2024, procedimento que instalou uma sonda no estômago e foi bem-sucedido. Apesar disso, sua saúde continuou fragilizada. Em 1º de março de 2025, durante a posse de Orsi, Mujica descreveu seu estado como “doente e velho”, destacando que, embora sua mente estivesse lúcida, seu corpo era “um desastre”. Em 11 de maio, sua esposa, Lucía Topolansky, revelou ao jornal La Diaria que ele já recebia cuidados paliativos, com médicos focados em garantir seu conforto. Ela descreveu a morte como um “desfecho esperado”.

Em entrevista ao New York Times em maio de 2024, Mujica admitiu estar “destruído” pela doença, mas manteve sua postura resiliente. Casado com Lucía Topolansky desde 2005, Mujica a conheceu nos anos 1960, quando ambos integravam o grupo guerrilheiro Tupamaros. O casal não teve filhos.

Trajetória política

Nascido em Montevidéu em 20 de maio de 1935, José Alberto Mujica Cordano, conhecido como Pepe Mujica, foi uma figura central da esquerda sul-americana. Sem formação acadêmica, ateu e defensor de justiça social, igualdade e pragmatismo, ele começou sua militância nos anos 1950 como secretário da juventude do Partido Nacional. Na década seguinte, aderiu ao Movimento de Liberação Nacional Tupamaros, grupo marxista que combateu a ditadura militar uruguaia (1973-1985).

Por suas ações armadas, Mujica foi preso quatro vezes, passando cerca de 14 anos na cadeia, incluindo 11 anos em confinamento solitário e sofrendo torturas. Libertado em 1985 com a redemocratização, integrou o Movimento de Participação Popular (MPP), que se aliou à coalizão Frente Ampla para as eleições de 1989.

Mujica foi eleito deputado federal em 1994, senador em 1999 e atuou como ministro da Agricultura entre 2005 e 2008, durante o governo de Tabaré Vázquez. Em 2009, venceu as eleições presidenciais contra Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional, assumindo a presidência em 1º de março de 2010.

Legado como presidente

No comando do Uruguai até 2015, Mujica ficou conhecido como o “presidente mais pobre do mundo” por seu estilo de vida austero. Rejeitou a residência presidencial em Prado, preferindo viver em uma chácara simples nos arredores de Montevidéu, e doou cerca de 90% de seu salário para iniciativas sociais. Sua trajetória, marcada por luta e simplicidade, deixou um legado duradouro no Uruguai e na América Latina.