A presença do Hezbollah na América Latina, especialmente no Brasil, tem gerado crescente preocupação, reforçada por investigações recentes e um programa de recompensas do governo dos Estados Unidos. O Departamento de Estado americano, por meio do Rewards for Justice (RFJ), anunciou uma oferta de quase R$ 60 milhões para quem fornecer informações que desmantelarem as redes financeiras do grupo, com foco na região da Tríplice Fronteira, que engloba Brasil, Argentina e Paraguai. A iniciativa busca identificar fontes de receita, como doadores, instituições financeiras, casas de câmbio, empresas de fachada e esquemas criminosos que sustentem o Hezbollah, incluindo lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, contrabando de produtos como cigarros, petróleo e diamantes, além de falsificação de documentos e moedas.
No Brasil, a Polícia Federal (PF) conduz investigações que apontam atividades de recrutamento ligadas ao grupo. Dois sírios naturalizados brasileiros, Mohamed Khir Abdulmajid e Lucas Passos Lima, foram identificados como peças-chave na formação de uma rede nacional conectada ao Hezbollah. Segundo a Divisão de Enfrentamento ao Terrorismo da PF, eles organizaram o envio de três brasileiros ao Líbano, onde o grupo mantém sua base, para negociações que incluíam custeio de passagens, hospedagem e presentes caros. Um dos recrutados, um músico do Rio de Janeiro, relatou uma oferta de US$ 100 mil (cerca de R$ 550 mil) para realizar assassinatos no Líbano, com questionamentos sobre possíveis vínculos com facções criminosas. Lucas Lima foi preso ao retornar de Beirute, com US$ 5 mil confiscados, enquanto Mohamed está foragido, listado na Difusão Vermelha da Interpol, com suspeitas de que tenha fugido para o Líbano.
A Tríplice Fronteira é apontada como um polo de atividades ilícitas que financiam o Hezbollah, incluindo comércio de produtos de luxo, construção civil, importação e exportação, além de vendas de imóveis. Investigações americanas indicam que o grupo utiliza essas operações para arrecadar fundos por meio de crimes como lavagem de dinheiro e falsificação de dólares. O Hezbollah, sediado no Líbano e apoiado pelo Irã, é classificado pelos EUA como uma organização terrorista, com receitas anuais estimadas em US$ 1 bilhão, provenientes de negócios internacionais, doações e atividades criminosas.
Na Argentina, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, intensificou as denúncias em outubro de 2024, afirmando que Hussein Ahmad Karaki, apontado como líder das operações do Hezbollah na América Latina, atuou no Brasil, Paraguai e Argentina na década de 1990. Segundo ela, Karaki usou uma identidade brasileira falsa para comprar um carro-bomba no atentado contra a embaixada israelense em Buenos Aires, em 1992, e teria recrutado Hussein Suleiman no Brasil para contrabando de explosivos. Após o ataque, ele teria se refugiado em Foz do Iguaçu, estabelecendo laços com facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), inicialmente para atentados e, posteriormente, para recrutamento. Bullrich citou a Operação Trapiche, deflagrada pela PF em 2023, como exemplo de esforços para conter atividades terroristas.
O Hezbollah é responsabilizado por ataques na Argentina, como os contra a embaixada israelense em 1992 e a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994, que deixaram dezenas de mortos. Em abril de 2024, juízes argentinos determinaram que o ataque à AMIA foi orquestrado pelo Hezbollah, com apoio do Irã, como parte de um projeto político-estratégico. A recompensa dos EUA reflete a suspeita de que o grupo busca ampliar sua influência no Brasil e na Tríplice Fronteira, utilizando redes criminosas para sustentar suas operações.
A CNN buscou esclarecimentos junto à Polícia Federal e ao Ministério da Justiça e Segurança Pública sobre investigações recentes ou indícios de atividades do Hezbollah no Brasil. A PF informou que não comenta investigações em curso, e o Ministério da Justiça não respondeu até o momento.
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