As forças de segurança do Rio de Janeiro mobilizaram cerca de 2.500 policiais civis e militares nesta terça-feira (28) para uma nova etapa da Operação Contenção, direcionada aos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da cidade. O foco da ação é cumprir mais de 100 mandados de prisão e 150 de busca e apreensão contra líderes e operadores do Comando Vermelho (CV), incluindo fugitivos de outros estados como o Pará, onde pelo menos 30 alvos foram identificados. Esses complexos, que englobam 26 comunidades e abrigam aproximadamente 280 mil moradores, servem de refúgio para chefes da facção fluminense e de regiões vizinhas, conforme investigações que duram mais de um ano conduzidas pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), com apoio do Ministério Público Estadual.
Os confrontos eclodiram logo no início da incursão, por volta das 5h, com traficantes respondendo a tiros, montando barricadas incendiadas e lançando bombas via drones contra agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), a elite da Polícia Civil. Dezenas de colunas de fumaça subiram pelos morros, visíveis de vários pontos da capital, enquanto criminosos fugiam em fila indiana pelas encostas mais altas, evocando cenas da ocupação policial de 2010 no Alemão. Helicópteros, blindados terrestres (32 no total) e equipes de resgate foram empregados na ofensiva, que não recebeu suporte federal e foi planejada exclusivamente pelo estado.
Até o momento, o balanço parcial registra cinco mortes: quatro suspeitos em tiroteios dois oriundos da Bahia, incluindo Júlio, apontado como líder do tráfico na comunidade Nordeste de Amaralina, em Salvador, e outro do Espírito Santo e um policial civil, baleado no pescoço durante os embates. Além disso, um delegado e quatro policiais militares ficaram feridos. Três civis inocentes também foram atingidos por balas perdidas: um homem em situação de rua, baleado nas costas e socorrido ao Hospital Getúlio Vargas; uma mulher ferida em uma academia, que já recebeu alta; e outro homem, atingido em um ferro-velho. Uma idosa sofreu infarto durante o caos e foi atendida em campo.
No total, 25 criminosos foram detidos, com cinco deles baleados e internados sob custódia no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. Entre os capturados destaca-se Nicolas Fernandes Soares, operador financeiro de Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca ou Urso, um dos principais chefes do CV na região. As apreensões incluem 10 fuzis, duas pistolas e nove motos, utilizadas para fugas rápidas. A ação prossegue com buscas casa a casa, e autoridades estimam que cerca de 9 milhões de metros quadrados de áreas dominadas pelo crime persistem na cidade.
O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, enfatizou a necessidade da operação em declaração oficial: "Toda essa logística é do próprio estado. São aproximadamente 9 milhões de metros quadrados de desordem no Rio de Janeiro". Ele lamentou os incidentes com inocentes, mas defendeu a estratégia: “Essa é a realidade. Lamentamos profundamente as pessoas feridas, mas essa é uma ação necessária, planejada, com inteligência, e que vai continuar”.
Os impactos na população são significativos: 28 escolas no Alemão e 17 na Penha tiveram aulas suspensas, além de cinco unidades de atenção primária à saúde que adiaram o atendimento inicial. Ônibus circularam com restrições, e moradores relataram tensão extrema, com relatos de "campo de guerra" nas redes sociais. Especialistas em segurança veem a operação como resposta ao crescimento territorial do CV, mas alertam para os riscos a civis em ações de grande escala. A votação antecipada para a eleição municipal segue em curso, e o episódio pode agravar o debate sobre políticas de segurança na capital.
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