PDT no governo Jerônimo, a vitória estratégica de ACM Neto e a ingratidão de Félix Mendonça

ACM Neto, que consolidou uma federação entre União Brasil e PP, garantindo um peso político muito maior à oposição.
Por: Thimoteo Oliveira 30.abr.2025 às 16h12 - Atualizado: 30.abr.2025 às 16h12
PDT no governo Jerônimo, a vitória estratégica de ACM Neto e a ingratidão de Félix Mendonça

Na última semana, a política baiana foi marcada por movimentações intensas que redefiniram o tabuleiro para as eleições de 2026. O PDT, liderado por Félix Mendonça Júnior, anunciou oficialmente sua adesão à base do governador Jerônimo Rodrigues (PT), deixando a aliança com o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), e o grupo de oposição liderado por ACM Neto. Apesar do barulho gerado, a ida do PDT para o governo petista não altera significativamente o cenário político, tampouco fortalece efetivamente o PT. Por outro lado, o grande vencedor da semana foi ACM Neto, que consolidou uma federação entre União Brasil e PP, garantindo um peso político muito maior à oposição. Abaixo, analisamos os desdobramentos e suas implicações.

A Chegada do PDT ao Governo Jerônimo: Muito Barulho por Pouco

A formalização da aliança entre o PDT e o governo Jerônimo Rodrigues, anunciada após reuniões com lideranças pedetistas como Félix Mendonça, Luciano Pinheiro e o ministro Carlos Lupi, foi celebrada pelo governador como um reforço à sua base. No entanto, o impacto real dessa movimentação é limitado. O PDT, embora tenha 17 deputados federais nacionalmente, possui apenas oito prefeitos na Bahia e uma bancada modesta na Assembleia Legislativa, com o deputado Penalva, que, ironicamente, é alinhado a Bruno Reis e ACM Neto. Na prática, a adesão do PDT não traz uma mudança estrutural no equilíbrio de forças, já que o partido não agrega um contingente significativo de votos ou capilaridade eleitoral expressiva no interior.

Além disso, a chegada do PDT não melhora a situação do PT, que enfrenta dificuldades para ampliar sua base após derrotas em cidades médias nas eleições municipais de 2024. Jerônimo segue “fazendo espuma”, distribuindo cargos e promessas para atrair lideranças, mas, segundo informações de bastidores, o governador já atingiu o teto de sua capacidade de acomodação. Fontes indicam que nenhum outro político relevante deve abandonar o grupo de oposição para se unir ao PT, o que limita o crescimento da base governista. A estratégia de Jerônimo, portanto, parece mais reativa do que transformadora, focada em evitar perdas adicionais ao invés de conquistar novos aliados de peso.

ACM Neto, o Estrategista Vitorioso: A Federação União Brasil-PP

Enquanto Jerônimo celebrava a adesão do PDT, ACM Neto executava um movimento muito mais impactante: a efetivação da federação entre União Brasil e PP. Essa aliança é um divisor de águas na política baiana, pois o PP, com 44 prefeituras e um número robusto de vereadores, tem quase o dobro da relevância política do PDT. Juntos, União Brasil e PP controlam 82 prefeituras na Bahia, contra as 309 da base de Jerônimo, mas com um peso desproporcional nas cidades grandes e médias, onde a oposição venceu em 19 dos 30 maiores municípios em 2024.

A federação fortalece a oposição não apenas em números, mas também em tempo de TV e recursos para 2026. Pelas regras eleitorais, o tempo de propaganda é proporcional ao número de deputados federais, e a coligação União Brasil, PP, PL e Republicanos soma cerca de 41% da Câmara, contra os 51% da base de Jerônimo, que inclui PDT e PP. Caso o PL, aliado de Neto, permaneça na oposição, a diferença se torna ainda mais apertada. A jogada de Neto demonstra sua habilidade estratégica, neutralizando a perda do PDT e consolidando um bloco oposicionista mais coeso e poderoso.

A Ingratidão de Félix Mendonça e a Crise no PDT

A decisão do PDT de migrar para a base de Jerônimo também expôs tensões internas e um episódio de ingratidão política. Félix Mendonça, presidente estadual do partido, foi crítico ao grupo de Bruno Reis e ACM Neto, com quem esteve alinhado por cinco anos na oposição baiana. Essa postura foi vista como desleal, especialmente considerando que o PDT ocupou espaços relevantes na gestão de Bruno Reis, incluindo a vice-prefeitura com Ana Paula Matos e cargos estratégicos na prefeitura de Salvador. Mendonça, ao culpar Neto por episódios como a filiação de Débora Régis ao União Brasil, ignorou os benefícios que o PDT obteve na aliança, como a visibilidade proporcionada pela vice-prefeitura.

A crítica de Félix também gerou desconforto interno. Lideranças como Luciano Pinheiro reforçaram o apoio a Jerônimo, enquanto o deputado federal Leo Prates, aliado de primeira hora de ACM Neto, defendeu a permanência do PDT na oposição. Prates, que já solicitou ao presidente nacional Carlos Lupi liberdade para apoiar Neto em 2026, deve migrar para o União Brasil, acompanhado por Ana Paula Matos e possivelmente os quatro vereadores pedetistas de Salvador (Omarzinho Gordilho, Débora Santana, Anderson Ninho e Roberta Caires). Essa debandada, se confirmada, esvaziaria ainda mais o PDT na capital, reforçando a percepção de que a ida do partido ao governo Jerônimo foi um movimento mal calculado.

Perspectivas para 2026: Neto Sai na Frente

O cenário atual aponta para uma vantagem estratégica de ACM Neto na corrida para 2026. Sua capacidade de articular a federação com o PP e manter aliados-chave, mesmo com a perda do PDT, consolida sua posição como principal adversário de Jerônimo. A polarização entre os dois grupos, já evidente nas eleições municipais de 2024, deve se intensificar, com Neto capitalizando a insatisfação com a segurança pública e os índices econômicos do estado. Jerônimo, por sua vez, enfrenta o desafio de transformar sua base numerosa em votos efetivos, algo que o PT não conseguiu plenamente em 2024.

A ingratidão de Félix Mendonça e a provável saída de Leo Prates e Ana Paula Matos do PDT são apenas sintomas de um jogo político em que ACM Neto, por ora, parece jogar com mais habilidade. Enquanto Jerônimo distribui cargos sem perspectiva de novos aliados, Neto constrói uma oposição robusta, com potencial para encerrar os 20 anos de hegemonia petista na Bahia. Resta saber se o governador conseguirá reverter o quadro ou se a estratégia de Neto prevalecerá no próximo embate eleitoral.



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