A bancada do PDT na Câmara dos Deputados anunciou, nesta terça-feira (6), a decisão unânime de deixar a base aliada do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A medida, liderada pelo deputado Mário Heringer (PDT-MG), reflete insatisfações com o tratamento recebido pelo partido e divergências sobre perspectivas para as eleições de 2026. O estopim para o rompimento foi a demissão do então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT, na última sexta-feira (2), em meio a um escândalo de fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A operação "Sem Desconto", deflagrada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União, revelou descontos indevidos de R$ 6,3 bilhões em benefícios de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024, gerando forte pressão política sobre Lupi.
No Senado, o cenário é menos definido. O líder da bancada pedetista, senador Weverton Rocha (MA), afirmou que o "desembarque" da base governista seria mais complexo na Casa. Rocha planeja discutir a decisão com as senadoras Ana Paula Lobato (MA) e Leila Barros (DF), únicas representantes do PDT no Senado, que conta com 81 parlamentares. Na Câmara, o impacto é mais significativo, já que o PDT detém 17 das 513 cadeiras, um número expressivo para votações no Congresso.
Contexto do Rompimento
A saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência Social marcou a 11ª troca ministerial no governo Lula desde 2023, sendo a terceira motivada por escândalos. Lupi, que indicou o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, demitido após a operação, negou envolvimento nas fraudes, mas admitiu demora na apuração das denúncias, o que intensificou a crise. A nomeação de Wolney Queiroz, ex-deputado do PDT e então secretário-executivo da pasta, para substituir Lupi foi uma tentativa do Planalto de manter o partido na base aliada. Contudo, a decisão de Lula de nomear o novo presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, sem consultar Lupi, foi vista como um sinal de desconfiança, agravando as tensões.
A bancada do PDT na Câmara, liderada por Heringer, já havia ameaçado deixar a base caso Lupi fosse exonerado, argumentando que o partido foi submetido a um "constrangimento extremo" pelo governo. A insatisfação também reflete divisões internas no PDT, especialmente entre a ala ligada a Ciro Gomes, que defende maior independência, e setores mais alinhados ao governo. A expectativa de uma possível candidatura de Ciro Gomes em 2026, como uma alternativa de "centro-esquerda", adiciona um componente estratégico ao rompimento
Impactos na Bahia: PDT e PT em Xeque
Na Bahia, o recente alinhamento do PDT com o governo de Jerônimo Rodrigues (PT), anunciado na última semana, torna a situação particularmente delicada. O PDT baiano, liderado por figuras como o presidente estadual Félix Mendonça Jr., aderiu à base do governo estadual, buscando fortalecer sua posição em cargos e secretarias, além de consolidar alianças para as eleições municipais de 2024 e a disputa de 2026. No entanto, o rompimento nacional entre PDT e PT levanta dúvidas sobre a sustentabilidade dessa aliança local.
A decisão da bancada federal do PDT de abandonar Lula pode gerar reflexos no estado, especialmente considerando a influência de lideranças nacionais do partido.
Na Bahia, o PDT tem buscado recuperar espaço político após anos de enfraquecimento. A adesão ao governo Jerônimo foi vista como uma estratégia para garantir recursos e visibilidade, mas o cenário nacional pode pressionar lideranças locais a reverem sua posição. A relação entre PT e PDT no estado, historicamente marcada por altos e baixos, enfrenta agora o desafio de conciliar interesses regionais com as tensões nacionais. A eventual decisão do PDT baiano de manter ou rever a aliança dependerá de negociações internas e da capacidade do governo estadual de oferecer garantias políticas, como cargos estratégicos ou apoio em disputas municipais.
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