Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) na quarta-feira, 21 de maio de 2025, o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, confirmou que o ex-comandante do Exército, Freire Gomes, alertou Jair Bolsonaro (PL) em 2022 que ele poderia ser preso caso implementasse a Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Baptista Júnior, testemunha na investigação sobre tentativa de golpe, relatou que Freire Gomes, de forma calma, disse a Bolsonaro: “Se optar por isso, terei que prendê-lo.”
Convidado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como testemunha da acusação contra Bolsonaro, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, Baptista Júnior corroborou seu depoimento anterior à Polícia Federal (PF). Ele destacou que reuniões em novembro e dezembro de 2022 discutiam medidas de exceção, como Estado de Sítio e Estado de Defesa, com o objetivo de impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Durante uma dessas reuniões, em 14 de dezembro, Baptista questionou Nogueira sobre o propósito de um documento apresentado e, ao perceber que visava bloquear a posse de Lula, abandonou o encontro. “Não aceito nem analisar isso. Meu limite é 1º de janeiro, quando o eleito deve assumir”, declarou.
O brigadeiro também revelou que a possibilidade de prender autoridades, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, foi debatida em “brainstormings” no governo Bolsonaro. Ele se opôs às ideias e informou ao general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, durante um evento no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em dezembro de 2022, que a Aeronáutica não apoiaria rupturas institucionais. Baptista relatou um pedido de “carona” de Heleno em um avião da Força Aérea para uma reunião “urgente” com Bolsonaro, o que gerou desconfiança.
Sobre a Marinha, Baptista Júnior apontou a postura “passiva” de Garnier, que, segundo a PGR, colocou suas tropas à disposição de Bolsonaro, ao contrário da resistência de Freire Gomes e dele próprio. O brigadeiro também afirmou que Bolsonaro sabia da ausência de fraudes nas urnas de 2022, mas influenciou o adiamento de um relatório da comissão de transparência eleitoral do Ministério da Defesa, que ele considerou “mal escrito” e cheio de “sofismas”. A PGR interpreta essa demora como uma tentativa de criar condições para um golpe.
Baptista Júnior ainda mencionou sofrer ataques nas redes sociais, sendo chamado de “melancia” por se opor ao golpe, termo usado para associar militares contrários ao plano a alinhamentos de esquerda. Ele negou divergências no depoimento de Freire Gomes, que irritou Alexandre de Moraes ao suavizar no STF a advertência feita a Bolsonaro, anteriormente relatada à PF como uma ameaça clara de prisão. As próximas testemunhas, indicadas por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, devem depor até 2 de junho.
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