O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, ordenou, na quarta-feira (25.jun.2025), que a Polícia Federal (PF) colha depoimentos de Paulo Cunha Bueno e Fábio Wajngarten, advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por suposta tentativa de obstruir investigações relacionadas à delação do tenente-coronel Mauro Cid no caso de tentativa de golpe de Estado.
Atendendo a um pedido da defesa de Cid, Moraes determinou a abertura de um inquérito para apurar as ações dos advogados. A decisão aponta que “as condutas narradas à autoridade policial indicam a prática, em tese, do delito de obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa”. O documento completo está disponível (PDF – 130 kB).
A equipe de defesa de Cid entregou à PF o celular da filha do militar, de 14 anos, para análise de mensagens e dados. Segundo os advogados, Eduardo Kuntz, defensor de Marcelo Câmara, também réu no caso, teria contatado a adolescente em busca de informações sobre a delação de Cid. Já Wajngarten é acusado de abordar a jovem via WhatsApp com o mesmo objetivo.
Além disso, a defesa alega que Paulo Cunha Bueno e Kuntz teriam abordado Agnes Barbosa Cid, mãe do tenente-coronel, durante um evento na Hípica de São Paulo, com a intenção de “demover a defesa então constituída por Mauro Cid”. As tentativas de contato teriam ocorrido em agosto e dezembro de 2023, quando Cid já estava sob medidas cautelares, incluindo a proibição de usar redes sociais e se comunicar com outros investigados, em vigor desde maio de 2024.
A defesa de Cid também contesta as alegações de Kuntz, que afirmou ao STF ter sido procurado pelo tenente-coronel, e não o contrário. As mensagens apresentadas, segundo os advogados, desmentem essa versão. Kuntz já é investigado por sua conduta no caso.
Contexto da delação
Na segunda-feira (16.jun), Kuntz, representando o coronel Marcelo Câmara, pediu ao STF a anulação da delação de Cid, alegando “falta de voluntariedade”. Ele relatou que Cid o contatou pelo perfil @gabrielar702 no Instagram, enviando uma foto para comprovar sua identidade. Segundo Kuntz, a conversa abordou a legalidade do processo de delação, verificando se houve gravações, pressão ou espontaneidade. Ele também mencionou um encontro com Cid na Hípica de Brasília, afirmando que agiu em defesa dos interesses de seu cliente. Moraes, no entanto, considerou que Kuntz “transbordou ilicitamente das obrigações legais de advogado”.
A defesa de Bolsonaro também tentou anular a delação de Cid, com base em mensagens reveladas pela revista Veja em 12 de junho. As conversas, trocadas via perfil @gabrielar702, indicariam que Cid quebrou o sigilo de sua delação e mentiu em depoimento. Segundo os advogados do ex-presidente, isso justificaria a rescisão do acordo, mas Moraes rejeitou o pedido. A Veja publicou capturas de tela mostrando diálogos entre Cid e uma pessoa próxima a Bolsonaro, discutindo detalhes do inquérito.
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