O que já foi um símbolo de liberdade e sustentabilidade na década de 1960, a Aldeia Hippie, localizada em Arembepe, a 30 km de Salvador, hoje é dominada pelo Comando Vermelho (CV). Outrora ponto de encontro de ícones como Janis Joplin e Mick Jagger, o local, formado por cerca de 40 chalés, tornou-se um esconderijo estratégico para traficantes, que forçam moradores a guardar armas, drogas e até a hospedá-los sob ameaças de morte.
Segundo o delegado Antônio Sena, da Delegacia de Homicídios de Camaçari, o CV controla a área há cinco anos, usando a geografia de difícil acesso — com dunas, charcos e matas fechadas, como a vizinha Morada Ecológica — para escapar da polícia e monitorar operações. “Eles conseguem nos observar, mas nós não os vemos. Por isso, usamos drones na operação”, afirmou Sena, referindo-se à ação policial realizada em 13 de junho.
A operação, chamada “Capitães da Areia”, resultou na prisão de dois traficantes e na morte de quatro, incluindo Jackson Santana da Silva, conhecido como “Babidi”, uma liderança do CV. Durante a ação, foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão, com apreensão de uma granada, três pistolas com seletor de rajada, dois revólveres, uma espingarda, carregadores, drogas e materiais usados no tráfico. Um dos alvos, durante tentativa de fuga, fez uma mulher refém, mas se rendeu após negociação com a Coordenação de Operações e Recursos Especiais (Core). Após a operação, traficantes impuseram um “toque de recolher” no comércio local.
Moradores relatam prejuízos significativos. Um artesão local afirmou: “Não vem mais ninguém visitar a gente. Quem é daqui, da Bahia, não vem mais. Foi forte. Quando vem, é um desavisado.” Outro complementou: “Sem exagero, perdemos 90% do turismo.” A violência também é agravada pela disputa com o Bonde do Maluco (BDM), que controla parte do Emissário de Arembepe, resultando em dezenas de homicídios na região.
As investigações, iniciadas em 2023 após um triplo homicídio, apontam a Aldeia e o Emissário como pontos logísticos do CV. As vítimas, sequestradas na Praça de Arembepe e executadas em Parque Real, Serra Verde, foram assassinadas por suposta ligação com o BDM. “Eles foram levados e mortos porque acreditavam (CV) que os três tinham ligação com o outro grupo”, explicou Sena.
Entre os crimes investigados, destacam-se os assassinatos dos irmãos percussionistas do grupo Malê Debalê, Gustavo Natividade, 15 anos, e Daniel Natividade dos Santos, 21, mortos em outubro de 2024 após posarem para uma foto com um gesto ligado a uma facção. Outro caso é a execução de Victor Guilherme Pereira de Souza, em abril, na região de Galo Assanhado, em Areias, por cerca de 20 homens armados, em meio à guerra pelo controle do tráfico.
A Prefeitura de Camaçari foi procurada nos dias 26 e 27, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem. A Aldeia Hippie, antes um ícone do movimento hippie no Brasil, hoje vive refém da criminalidade, com moradores coagidos e o turismo devastado.
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