A relação entre o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e os deputados estaduais alinhados a Jair Bolsonaro (PL) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) enfrenta desgaste, marcado por atrasos em votações e críticas públicas. Os bolsonaristas cobram maior agilidade na liberação de emendas parlamentares, a sanção de projetos de lei de seu interesse e a nomeação para cargos públicos, expressando insatisfação com a gestão.
Nas últimas semanas, o grupo sinalizou descontentamento ao dificultar a aprovação de projetos prioritários do governo. A votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), agendada para 26 de junho, foi adiada para 1º de julho após a oposição esgotar o tempo de debates, com os bolsonaristas optando por não intervir. Já o programa SuperAção, lançado por Tarcísio em maio para combater a pobreza, previsto para ser votado em 18 de junho, só foi aprovado no dia 24, devido à ausência de quórum. No mesmo dia, deputados bolsonaristas marcaram presença em um evento com Bolsonaro em Presidente Prudente, a 568 km da capital, priorizando o ex-presidente.
No plenário, as críticas se intensificaram. O deputado Lucas Bove (PL) atacou o secretário da Fazenda, Samuel Kinoshita: “Estou há seis meses tentando marcar uma reunião com o secretário da Fazenda, Samuel Kinoshita, que simplesmente não nos recebe, não retorna as nossas ligações, nem requerimento de informação o secretário responde.” Gil Diniz (PL), aliado de Eduardo Bolsonaro, também criticou a segurança pública, citando o furto das rodas de seu carro oficial e um assalto ao deputado Delegado Olim (PP), além de ameaças a deputadas: “A nossa população clama por segurança pública e tenho certeza de que este parlamento precisa dar uma resposta.
”O principal ponto de atrito é a distribuição de emendas voluntárias, que totalizaram R$ 349 milhões no primeiro semestre de 2025, contra R$ 299 milhões no mesmo período de 2024. Dos 94 deputados, 68 receberam recursos, mas apenas Fabiana Bolsonaro (PL), com R$ 10 milhões para Bragança Paulista, está entre os dez mais contemplados do grupo bolsonarista. A média recebida por deputados não bolsonaristas é de R$ 5,3 milhões, enquanto entre os dez bolsonaristas é de R$ 4 milhões. Dois deles, Gil Diniz e Paulo Mansur (PL), não receberam nada. Os bolsonaristas alegam que o governo favorece deputados do centrão e do “PL raiz”, não alinhado a Bolsonaro, embora a gestão negue.
A Secretaria de Governo, liderada por Gilberto Kassab (PSD), justificou: “As indicações voluntárias de 2025, por questões burocráticas ou de tramitação de projeto, foram pagas, até o momento, aquelas de saúde que haviam sido apresentadas ao governo até abril. As [demandas] apresentadas após essa data e com objetos que demandam convênios seguem em processamento e serão pagas conforme o desenvolvimento de cada iniciativa. Há ainda demandas que não foram apresentadas pelos parlamentares.
”O líder do governo, Gilmaci Santos (Republicanos), refutou discriminação: “Tem bolsonarista que já teve 100% das emendas pagas [em referência a Fabiana Bolsonaro], teve quem já teve 60%. O que depende é para onde o deputado fez a indicação. No caso da saúde, se o recurso é para uma prefeitura, o dinheiro é fundo a fundo, chega mais rápido. Se é para Santa Casa, educação, segurança, precisa fazer um convênio. Demora mais.”
Com R$ 751 milhões prometidos em emendas voluntárias, os deputados pressionam para evitar atrasos até 2026, já que R$ 91 milhões de 2024 só foram pagos em 2025. A ausência de articulação, como no caso do evento em Presidente Prudente, foi vista como um recado ao governo, que enfrenta o desafio de manter a base unida.
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