O Supremo Tribunal Federal (STF) optou por não responder oficialmente às declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, na segunda-feira (7), criticou o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no caso da tentativa de golpe de Estado. Em postagem na rede Truth Social, Trump afirmou que o Brasil promove uma “coisa horrível” contra o ex-presidente e acusou o STF de persegui-lo: “Eu tenho assistido, assim como o mundo, enquanto eles não fazem nada além de persegui-lo, dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano. Ele não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo povo”.
Para os ministros do STF, ouvidos pela Folha, as palavras de Trump têm caráter apenas político e não interferem no processo judicial. Um magistrado, sob anonimato, classificou a manifestação como “abusiva”, mas de impacto simbólico, podendo até “aumentar a antipatia” contra Bolsonaro. A corte considera que cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou ao Itamaraty responder, já que não houve ações concretas contra o Brasil.
Lula, por sua vez, reagiu no mesmo dia, destacando a soberania nacional: “A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano”. Na cúpula do Brics, ao ser questionado sobre o post de Trump, o petista desconversou, afirmando ter “coisa mais importante para comentar”. A ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) também se pronunciou, criticando a postura de Bolsonaro: “O tempo em que o Brasil foi subserviente aos EUA foi o tempo de Bolsonaro, que batia continência para sua bandeira e não defendia os interesses nacionais”.
A pressão de Trump não é isolada. Em maio, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, ameaçou sanções contra “funcionários estrangeiros e pessoas cúmplices na censura de americanos”, mencionando o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. Em fevereiro, o Departamento de Estado dos EUA criticou Moraes por bloquear a plataforma Rumble, usada por influenciadores de direita. Bolsonaristas, com apoio de figuras como Jason Miller, ex-assessor de Trump, têm pressionado por sanções contra o ministro.
Apesar da postura reservada do STF, Moraes já defendeu a soberania brasileira em fevereiro, no plenário da corte, sem citar os EUA: o Brasil “deixou de ser colônia em 1822”. O ministro Flávio Dino também se manifestou, reforçando os princípios constitucionais de autodeterminação e não intervenção: “Os ministros do Supremo, ao tomarem posse, juram defender a Constituição e os princípios de autodeterminação dos povos, não intervenção e igualdade entre os Estados”. Dino ainda ironizou: “E se quiser passar lindas férias, pode ir para Carolina, no Maranhão. Não vai sentir falta de outros lugares com o mesmo nome”.
No governo, há a percepção de que confrontar os EUA fortalece a imagem de Lula, enquanto o STF prefere tratar as declarações de Trump como irrelevantes para o andamento do processo.
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