Na Penitenciária Lemos Brito (PLB), em Salvador, líderes da facção Bonde do Maluco (BDM) viviam com privilégios que contrastavam com a realidade da maioria dos presos. A Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) descobriu, em 2023, que o Módulo V da unidade, destinada a presos em regime fechado, havia sido transformado em um espaço com condições de conforto, como uísque importado, móveis planejados, camas individuais, perfumes de luxo, ventiladores, televisão e até banheiro exclusivo. As irregularidades só foram reveladas ao público após a Polícia Civil abrir um inquérito, ao qual o jornal CORREIO teve acesso exclusivo.
Entre os beneficiados estava Fábio Souza dos Santos, conhecido como Geleia, apontado como líder do BDM e integrante do Baralho do Crime, na carta Oito de Ouros. Acusado de diversos homicídios, incluindo o do policial civil Luiz Alberto dos Santos, em 2017, Geleia desfrutava dessas regalias até fugir, em 21 de outubro de 2023, junto com outros seis presos, por um buraco no módulo, alcançando a Avenida Gal Costa após atravessar uma mata.
A investigação teve início após uma vistoria detalhada no Módulo V, desencadeada pela fuga. Um vídeo obtido pelo CORREIO mostra o momento da revista, em que policiais penais encontraram itens como uma garrafa de uísque Chivas Royal Salute 21 anos, avaliada em cerca de R$ 850, além de armários, quatro camas de madeira, colchões, travesseiros, cadeiras, dois espelhos (proibidos por segurança, pois podem ser usados como armas), um frasco de perfume 1 Million, ventiladores e uma televisão. O ambiente, descrito como arejado e com piso de azulejos, contava ainda com um banheiro equipado com vaso sanitário e chuveiro.
A PLB, parte do Complexo Penitenciário da Mata Escura, foi projetada para 878 detentos, mas, em 14 de junho de 2025, abrigava 1.427, um excesso de 549 presos, segundo a Seap. Após a vistoria, a direção da penitenciária restabeleceu as condições previstas pela legislação. O então secretário da Seap, José Antônio Maia, afirmou que desconhecia as regalias e que nunca foi informado pela Superintendência de Gestão Prisional (SGP) ou pela direção da PLB, liderada por Fabrizio Gama. Ele destacou que vistorias eram frequentes. “Nunca tinha sido comunicado pela Superintendência de Gestão Prisional (SGP), nem pela diretoria da unidade, responsável direto pela massa carcerária”, disse Maia.
Curiosamente, Geleia foi transferido uma semana antes da fuga do Conjunto Penal Masculino de Salvador (CPMS), uma unidade de segurança máxima, para a PLB, descrita como um prédio deteriorado. A transferência, assinada por Clésio Rômulo Atanásio Sobrinho, então diretor do CPMS, seguiu determinação da SGP, coordenada por Luciano Viana. A Seap justificou que a movimentação de Geleia fazia parte de uma estratégia de inteligência, com mais de 3 mil transferências realizadas em 2023, conforme a Lei de Execução Penal.
A investigação, conduzida pela delegada Larissa Laje, do Departamento de Combate ao Crime Organizado (Draco), busca esclarecer como o esquema de regalias funcionava e quem estava envolvido. Foram ouvidos Luciano Viana, Fabrizio Gama, José Antônio Maia, Clésio Atanásio (atual diretor da Colônia Penal Lafaiete Coutinho), o ex-chefe de inteligência da Seap, Artur Coresy, o ex-corregedor João Henrique e o ex-diretor de Vagas, Marcos de Oliveira Maurício, além de outros diretores da pasta. A Seap, a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pú
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