Professoras de Itabuna são demitidas após encontro com ACM Neto

Docentes alegam perseguição política por cumprimentarem ex-prefeito de Salvador durante celebração municipal
Por: Brado Jornal 01.ago.2025 às 09h12
Professoras de Itabuna são demitidas após encontro com ACM Neto
Crédito: Reprodução
Duas professoras da Escola Profissionalizante Maria de Lourdes Monteiro, em Itabuna, no sul da Bahia, perderam seus empregos após serem filmadas cumprimentando o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), durante as comemorações dos 115 anos de emancipação política da cidade, em 28 de julho de 2025. O caso, que ganhou destaque na última terça-feira (29), gerou acusações de “perseguição política” por parte de uma das docentes demitidas, Alline Nascimento.

O encontro ocorreu após uma Missa em Ação de Graças na Catedral de São José, parte das festividades oficiais. No vídeo, que circulou nas redes sociais, as professoras aparecem ao lado de ACM Neto, que também publicou imagens do evento em seu perfil. Três dias depois, na quinta-feira (31), as demissões foram comunicadas sem justificativa clara, segundo Alline. “Quando o vi, eu falei: 'Nossa, que legal'. O pessoal que estava comigo já foi abraçando e eu também cumprimentei (ACM Neto). A gente puxou para fazer uma foto tranquila”, relatou a professora ao jornal Correio.

Alline, que é massoterapeuta e dependia do emprego na escola como principal fonte de renda, expressou surpresa com a decisão. “Essa perda agora me gerou um certo desconforto, porque eu não esperava”, afirmou. Ela ainda relatou ter ouvido de colegas e políticos locais que cumprimentar ACM Neto foi um erro, já que o prefeito de Itabuna, Augusto Castro (PSD), aliado do governador Jerônimo Rodrigues (PT), considera o ex-prefeito um “inimigo mortal”. “Não sabia, só depois que tudo isso aconteceu eu vim saber”, completou.

A repercussão do vídeo gerou comentários entre colegas, que alertaram sobre possíveis demissões. “A gente soube que o prefeito estava querendo a cabeça de todo mundo que tinha saído na foto, porque a gente tinha visto que ACM tinha colocado um vídeo na rede social dele”, disse Alline. Uma segunda professora também foi demitida, mas preferiu não se manifestar por medo de retaliações. Uma terceira docente, concursada, teria sido alvo de críticas da gestão, mas não foi desligada.

Alline tentou buscar apoio de um vereador amigo, que informou que o prefeito estava “irredutível” e tratava os envolvidos como “opositores tramando contra o governo”. Segundo ela, o diretor da escola não ofereceu ajuda. “Uma colega chegou a ponto de falar: 'não pode tirar (foto), não, porque aí você está traindo o governo'. Sabe? Coisa desnecessária”, lamentou a professora.

Em resposta, a Prefeitura de Itabuna negou qualquer motivação política nas demissões. Em nota oficial, a gestão afirmou que a substituição da profissional faz parte de uma “reestruturação administrativa” e que a docente tinha vínculo temporário com uma empresa terceirizada, sem estabilidade.

Veja a nota na íntegra:

“A Prefeitura Municipal de Itabuna esclarece que não há qualquer fundamento na acusação de perseguição política envolvendo a substituição de uma profissional que atuava na Escola Profissionalizante Maria de Lourdes Monteiro.

A mudança ocorreu de forma pontual e faz parte de um processo normal de reestruturação administrativa da gestão. A referida profissional mantinha vínculo empregatício com uma empresa terceirizada, em regime temporário, sem qualquer relação de estabilidade com o quadro efetivo do município.
Importante ressaltar que a empresa está em processo de desligamento de diversos funcionários, o que reforça o caráter administrativo da decisão.
Reiteramos que este governo não compactua com práticas de perseguição política e respeita integralmente a liberdade de expressão e a escolha individual de cada cidadão. Tentativas de politizar decisões administrativas corriqueiras não contribuem com a verdade e buscam criar uma narrativa distorcida dos fatos.
A Prefeitura segue comprometida com a boa gestão dos serviços públicos e com a valorização de todos os profissionais que atuam com responsabilidade e compromisso com a população.”


O caso expõe tensões políticas em Itabuna, onde a relação entre aliados do governo estadual e figuras de oposição, como ACM Neto, parece influenciar decisões administrativas, segundo as alegações das professoras.


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