Deputado Nikolas Ferreira é questionado por suposta influência em esquema do PCC

Acusações apontam que vídeo do parlamentar contra norma da Receita Federal pode ter facilitado lavagem de dinheiro
Por: Brado Jornal 29.ago.2025 às 08h38
Deputado Nikolas Ferreira é questionado por suposta influência em esquema do PCC
Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputados
Um vídeo publicado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) em janeiro de 2025, que alcançou mais de 200 milhões de visualizações, está no centro de uma polêmica envolvendo a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). O conteúdo, no qual o parlamentar alegava que uma norma da Receita Federal criaria um “imposto do Pix”, gerou forte pressão pública e levou à revogação de uma instrução normativa destinada a aumentar a fiscalização sobre fintechs. Autoridades agora apontam que a ausência dessa regulamentação pode ter facilitado esquemas de lavagem de dinheiro operados pelo PCC.

O deputado Reimont (PT-RJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara, protocolou um ofício na Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitando a investigação de Nikolas Ferreira. No documento, Reimont afirma que “o vídeo dele, cheio de Fake News sobre o Pix, pode ter ajudado o PCC a não ter as suas atividades monitoradas em fintechs. Nós vamos atrás dessa resposta aqui em Brasília!”. Ele também pediu a análise de uma possível prisão preventiva do parlamentar, caso a investigação aponte risco à ordem pública.

A Instrução Normativa 2219/24, publicada pela Receita Federal em setembro de 2024, visava equiparar as fintechs às regras de transparência exigidas de bancos tradicionais, exigindo o envio de informações sobre transações acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil para empresas. A norma, segundo o secretário especial da Receita, Robinson Barreirinhas, tinha como objetivo combater a lavagem de dinheiro e a sonegação fiscal. No entanto, após a viralização do vídeo de Nikolas, que distorceu a medida como uma tentativa de taxação do Pix, o governo recuou e revogou a normativa em 15 de janeiro de 2025. Barreirinhas afirmou: “Publicamos uma instrução normativa estendendo às fintechs as mesmas obrigações de transparência e de prestação de informações que todas as instituições têm há mais de 20 anos no Brasil. A Receita Federal recebeu o maior ataque da história dela, de mentiras, de fake news, dizendo mentirosamente que aquela instrução normativa tratava de tributação de meios de pagamento.”

A Operação Carbono Oculto, deflagrada em 28 de agosto de 2025 pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público, revelou que o PCC utilizava cerca de 40 fintechs e fundos de investimento na Avenida Faria Lima, em São Paulo, para lavar bilhões de reais provenientes de atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e fraudes no setor de combustíveis. A operação identificou movimentações de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, com uma fintech, o BK Bank, apontada como um “banco paralelo” que teria movimentado R$ 46 bilhões em transações não rastreáveis. A subsecretária de fiscalização da Receita, Andrea Costa Chaves, destacou: “Tivemos uma onda de fake news no início do ano, que culminou com a revogação de mudanças normativas que dariam mais transparência às operações das instituições de pagamento. Mais de 200 fintechs permaneceram fora do alcance da Receita, o que impactou diretamente a visibilidade sobre os fluxos financeiros usados pelo crime.”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que, a partir de 29 de agosto de 2025, uma nova instrução normativa será publicada para restabelecer a obrigação de reporte pelas fintechs, equiparando-as aos bancos. “A partir de amanhã, terão de prestar os mesmos esclarecimentos sobre movimentação financeira. Isso nos permitirá destrinchar outros esquemas de lavagem com mais rapidez,” declarou Haddad.

A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) também acionou o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério da Justiça, reforçando as acusações contra Nikolas. Em suas redes sociais, ela escreveu: “Seu vídeo sobre o suposto ‘imposto do Pix’ não foi apenas fake news: derrubou norma da Receita e favoreceu organizações criminosas como o PCC. É preciso investigar as verdadeiras razões que levaram a mobilização da extrema direita e se há lobby do PCC por trás dessa ação.” Até o momento, Nikolas Ferreira não se manifestou publicamente sobre as acusações.

O que dizem os envolvidos

O secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, afirmou que as fake news sobre o Pix impediram a ampliação da fiscalização: “As operações de hoje mostram quem ganhou com essas mentiras, com essas fake news: o crime organizado. As operações mostram que, independentemente das intenções, as pessoas que espalharam aquelas fake news, aquelas mentiras no início do ano, ajudaram o crime organizado.” Ele esclareceu que a norma revogada visava apenas aumentar a transparência nas movimentações financeiras, sem qualquer intenção de tributar o Pix.

Nikolas Ferreira, em janeiro de 2025, questionou a revogação da norma em suas redes sociais, escrevendo: “Se era fake news, por que revogou?”. Até a publicação desta matéria, o deputado não havia respondido às novas acusações. A Receita Federal, o Banco Central e o Ministério da Fazenda reiteraram que não havia previsão de imposto sobre o Pix, e a normativa apenas buscava equiparar a fiscalização das fintechs às de instituições financeiras tradicionais.

A Operação Carbono Oculto expôs a sofisticação do esquema do PCC, que utilizava fintechs para ocultar recursos em contas-bolsão, dificultando o rastreamento. A Receita Federal identificou que os fundos controlados pela facção foram usados para adquirir usinas, transportadoras, postos de combustíveis e imóveis de luxo, como uma mansão em Trancoso (BA) avaliada em R$ 13 milhões. O Ministério Público de São Paulo destacou que a investigação ainda busca esclarecer o nível de envolvimento de agentes financeiros com o esquema criminoso.


📲 Baixe agora o aplicativo oficial da BRADO
e receba os principais destaques do dia em primeira mão
O que estão dizendo

Deixe sua opinião!

Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.

Sem comentários

Seja o primeiro a comentar nesta matéria!

Carregar mais
Carregando...

Carregando...

Veja Também
Bolsonaro chora muito, dizem aliados, sob pressão judicial e estagnação política
Visitantes que estiveram com Bolsonaro em prisão domiciliar relatam que ele tem chorado intensamente, abalado pelo julgamento
Lula discute tarifas dos EUA e negociações com Trump em Kuala Lumpur
As declarações de Lula vieram em resposta a comentários de Trump, que, ao embarcar no Air Force One na mesma segunda-feira, descreveu a reunião com o presidente brasileiro no domingo (26.out) como “ótima”.
Senador Ciro Nogueira participa de jantar com Lula e irmãos Batista em meio a denúncias de propina da JBS
Presença de Ciro Nogueira em evento com líderes da pecuária levanta debates sobre escândalo de 2014
Dado Dolabella acusado de agredir Marcela Tomaszewsk, que confirma denúncia após suposta coação
Advogado da modelo alega pressão para negar violência e promete buscar justiça
Trump parabeniza Lula e destaca encontro positivo na Malásia, sem certeza sobre pacto bilateral
Otimismo em negociações comerciais apesar de tarifas elevadas
Espiridião Amin: o guardião catarinense da direita enfrenta invasor forasteiro na corrida ao senado
Santa Catarina, terra de imigrantes alemães, italianos e açorianos que forjaram uma identidade marcada pelo trabalho árduo, pela ordem e pelo conservadorismo, tem uma história política que reflete essa essência.
Carregando..