Diplomatas recomendam prudência ao Brasil em meio a atritos crescentes entre Washington e nações sul-americanas

Escalada de confrontos regionais ameaça avanços comerciais com a administração Trump
Por: Brado Jornal 20.out.2025 às 08h45
Diplomatas recomendam prudência ao Brasil em meio a atritos crescentes entre Washington e nações sul-americanas
Reprodução
Autoridades do Itamaraty recomendam que o Brasil adote uma postura de moderação nas discussões com o governo Trump, diante do agravamento dos conflitos entre os Estados Unidos e governos sul-americanos, especialmente na Venezuela e na Colômbia. A preocupação vai além dos riscos de desordem fronteiriça e se estende ao potencial prejuízo para as tratativas sensíveis sobre as altas taxas impostas a exportações brasileiras.

As recentes farpas trocadas entre Donald Trump e líderes como Nicolás Maduro e Gustavo Petro surgem justamente quando Brasil e Casa Branca buscam convergências para resolver o impasse tarifário. Após um breve contato informal nos corredores da Assembleia Geral da ONU, em 23 de setembro, os presidentes Lula e Trump mantiveram uma chamada de 30 minutos em 6 de outubro, focando em assuntos econômicos e o peso das sobretaxas.

Na quinta-feira (16), o chanceler Mauro Vieira se reuniu com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, em Washington. O diálogo resultou na marcação de uma sessão técnica virtual nos próximos dias, envolvendo especialistas brasileiros e uma delegação dos EUA, para mapear soluções ao conflito comercial iniciado em julho. Na ocasião, Trump determinou tarifas de 50% sobre importações brasileiras, citando supostas irregularidades no comércio e uma alegada perseguição judicial ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As medidas começaram a valer em agosto e afetam itens como café, carnes e frutas, embora cerca de 45% das exportações incluindo sucos de laranja, minérios e aviões tenham sido poupados inicialmente.

O Planalto interpreta o telefonema entre Lula e Trump como um passo positivo, com o republicano destacando a "boa química" entre os líderes e designando Rubio para prosseguir as conversas ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), do ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) e do próprio Vieira. Lula cobrou explicitamente o fim das sobretaxas e das sanções contra autoridades brasileiras, como as aplicadas ao ministro Alexandre de Moraes sob a Lei Magnitsky, por suposta "censura" a plataformas digitais americanas. Trump, por sua vez, sugeriu que os dois países "vão se dar bem juntos" e indicou interesse em maior acesso a minerais estratégicos brasileiros, como terras raras, em meio a tensões globais com a China.

Ataques verbais a líderes sul-americanos intensificam o clima de instabilidade

A retórica agressiva de Trump ganhou novo fôlego neste domingo (19), quando ele rotulou o presidente colombiano Gustavo Petro de "traficante de drogas ilegal" que estimula a "produção massiva" de narcóticos. Em postagem na rede Truth Social, o mandatário americano afirmou que os EUA suspenderão "pagamentos e subsídios em larga escala" à Colômbia, chamando as verbas de "roubo" e alertando: "é melhor encerrar" as operações de drogas "ou os Estados Unidos as encerrarão por ele, e não será feito de forma gentil".

Horas antes, Petro havia denunciado violações à soberania marítima colombiana por ações militares americanas no Caribe, incluindo o afundamento de um submarino que, segundo Bogotá, transportava pescadores inocentes versão refutada por Trump, que insistiu tratar-se de carga de entorpecentes destinada aos EUA. O episódio, que resultou na morte de um cidadão colombiano, levou Petro a pedir proteção judicial às famílias das vítimas e processos internacionais contra Washington, inclusive em tribunais americanos. Ele rebateu Trump como "grosseiro e ignorante", alegando ser o "principal inimigo do narcotráfico no século XXI" por revelar laços entre o crime e o poder político colombiano. A Colômbia, maior exportador mundial de cocaína, viu seus cultivos de coca atingirem recorde histórico em 2024, segundo relatório da ONU, o que levou os EUA a retirá-la da lista de nações cooperativas antinarcóticos em setembro.

Paralelamente, a tensão com a Venezuela ferve. Trump admitiu autorizar missões secretas da CIA em território caribenho vizinho, mirando cartéis locais. Caracas respondeu mobilizando caças, submarinos e fragatas, sem descartar uma incursão terrestre americana. Washington acusa Maduro de comandar o Cartel de los Soles — recentemente batizado como terrorista internacional pelo governo Trump  e de abrigar a gangue Tren de Aragua. Em 15 de outubro, o presidente americano confirmou estudos para ataques terrestres contra esses grupos, elevando temores de uma intervenção maior que poderia desestabilizar o continente.

Lula planeja abordagem cautelosa sobre Caracas em possível cúpula com Trump

Assessores revelam que Lula pretende elevar a crise venezuelana em um encontro cara a cara com Trump, ainda sem data definida, adotando um discurso de advertência. O objetivo é enfatizar que uma ofensiva militar em Caracas fomentaria o caos regional e impulsionaria o tráfico de entorpecentes. "Há, no horizonte, muitas tentativas externas de pautar agendas paralelas e atrapalhar a relação bilateral. Tem muita espaçonave desgovernada no caminho, e a presença dos chefes de Estado, o quanto antes, é fundamental para impedir qualquer interferência", comentou uma fonte do Planalto.

O governo brasileiro classifica o diálogo de alto nível como "fundamental" para 2025, priorizando-o apesar da viagem de Lula à Malásia nesta terça (21), para a cúpula da Asean. Há otimismo em uma sobreposição de agendas durante o evento, embora desafios logísticos persistam. Indicativos da Casa Branca sugerem que os EUA também veem urgência na reunião, possivelmente para contrabalançar pressões internas de Trump, que já sinaliza revisões tarifárias com Canadá e negociações petrolíferas com Caracas.

Diplomatas brasileiros alertam que o tarifaço, além de ferir regras da OMC como o princípio da nação mais favorecida, impacta bilateralmente: o comércio EUA-Brasil somou US$ 12,1 bilhões em 2024, mas o Brasil acumula déficits crônicos de quase US$ 410 bilhões em bens e serviços nos últimos 15 anos. Em carta de julho, Brasília expressou "indignação" e propôs negociações confidenciais, reiterando disposição para soluções mutuamente benéficas. Analistas notam que as sanções políticas, ligadas ao julgamento de Bolsonaro, fortalecem Lula domesticamente, mas o risco de novas medidas contra o STF paira, tornando a cautela essencial para preservar o canal aberto.


📲 Baixe agora o aplicativo oficial da BRADO
e receba os principais destaques do dia em primeira mão
O que estão dizendo

Deixe sua opinião!

Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.

Sem comentários

Seja o primeiro a comentar nesta matéria!

Carregar mais
Carregando...

Carregando...

Veja Também
Programa de R$ 40 bilhões para melhorias habitacionais é anunciado por Lula nesta segunda
Iniciativa governamental planeja apoiar 1,5 milhão de intervenções residenciais nacionais, direcionando-se a lares com ganhos mensais limitados a R$ 9.600**
Lula planeja nomeações de Messias para o STF e Boulos para ministro antes de viagem internacional
Indicações estratégicas para o Supremo e a Secretaria-Geral da Presidência
Carregando..