Ataques dos EUA no Pacífico matam cinco em barcos suspeitos de tráfico

Expansão da ofensiva antidrogas de Trump para novas rotas marítimas intensifica tensões regionais
Por: Brado Jornal 23.out.2025 às 10h18
Ataques dos EUA no Pacífico matam cinco em barcos suspeitos de tráfico
Foto: HANDOUT / CONTA DO SECRETÁRIO DE DEFESA DOS EUA, PETE HEGSETH, NO X / AFP
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos revelou que forças armadas do país executaram dois bombardeios contra embarcações presumidamente ligadas ao contrabando de entorpecentes no Oceano Pacífico Oriental, resultando em cinco óbitos ao longo de 48 horas. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, confirmou os incidentes em postagens na plataforma X, descrevendo-os como "ataques cinéticos letais" contra "narco-terroristas" operando em rotas conhecidas de tráfico.

A primeira ação ocorreu na noite de terça-feira (21/10), destruindo um barco com dois indivíduos a bordo, ambos eliminados sem ferimentos a militares americanos, conforme declaração oficial. Hegseth enfatizou que a embarcação "era conhecida pela inteligência como envolvida no contrabando ilícito de narcóticos, transitando por uma rota comprovada de narcotráfico e transportando substâncias controladas". Horas depois, na quarta-feira (22/10), veio o segundo golpe, que vitimou três homens descritos como "terroristas do narcotráfico".

"Mais uma vez, os terroristas agora mortos estavam envolvidos no tráfico de drogas no Pacífico Oriental", disse Hegseth no X. Ele compartilhou vídeos curtos mostrando explosões em lanchas semi-cheias com pacotes marrons, alegando evidências de carga ilegal. Esses episódios marcam a entrada da campanha em águas do Pacífico pela primeira vez, após sete intervenções anteriores concentradas no Mar do Caribe desde setembro. No total, nove ataques já foram reportados, com saldo de pelo menos 37 vidas perdidas, de acordo com números divulgados pelo governo Trump embora críticos questionem a precisão e a transparência desses dados.

A justificativa americana recai sobre a classificação de cartéis como organizações terroristas estrangeiras, equiparando traficantes a combatentes inimigos sob o direito de autodefesa. Hegseth comparou os alvos ao grupo Al-Qaeda, responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001: "Assim como a Al-Qaeda travou guerra contra nossa pátria, esses cartéis declaram guerra em nossa fronteira e contra nosso povo. Não haverá refúgio nem perdão – apenas justiça". O presidente Donald Trump ecoou essa linha dura, afirmando que "esses ataques continuarão, dia após dia". "Nós os encontraremos e os mataremos, até que a ameaça ao povo americano seja extinta", acrescentou Hegseth, alinhando-se ao discurso do líder republicano.

Essa escalada ocorre em meio a uma estratégia mais ampla contra o narcotráfico, que Trump formalizou em início de outubro ao notificar o Congresso sobre um "conflito armado" oficial com os cartéis. Antes, em fevereiro, o governo designou como terroristas a gangue venezuelana Tren de Aragua, o Cartel de Sinaloa mexicano e outros grupos criminosos – uma medida adotada logo após a posse de Trump, embalada em um discurso antimigratório que cita estatísticas contestadas sobre crimes por imigrantes. Em agosto, Washington elevou para US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) a recompensa por informações levando à captura de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, acusado de comandar o suposto Cartel de los Soles, rede de tráfico negada por analistas independentes.Os EUA alegam que Maduro orquestra o envio de drogas para o território americano, mas agências de inteligência domésticas contradizem essa narrativa, apontando falta de provas concretas. Recentemente, Trump autorizou operações secretas da CIA em solo venezuelano, com possibilidade de ataques diretos, visando pressionar o regime a ceder o poder por vias diplomáticas ou força, se preciso. Membros da administração Trump veem a ofensiva como meio de maximizar a pressão sobre o ditador, em um contexto de animosidade crescente. Maduro, por sua vez, reagiu rotulando as ações como tentativa de "golpe de Estado" e invocou um "estado de agitação externa" constitucional para mobilizar defesas nacionais.

Especialistas em direito internacional condenam as operações como violações graves, argumentando que bombardeios contra indivíduos sem ameaça iminente configuram execuções extrajudiciais, não autodefesa legítima. "O uso de força letal em águas internacionais sem base legal adequada fere o direito do mar e equivale a assassinato", alertaram peritos da ONU em comunicado recente. Governos regionais, opositores e juristas ecoam essa visão, destacando que o Caribe não é a principal via de entrada de cocaína nos EUA essa rota predomina pelo Pacífico e fronteira mexicana, enquanto o fentanil, epicentro da crise de opioides, provém majoritariamente da China.

A expansão para o Pacífico sugere proximidade com a costa colombiana, não venezuelana que banha apenas o Atlântico, alimentando especulações de retaliação contra o presidente Gustavo Petro. Líder de esquerda e voz mais veemente contra a campanha americana, Petro tem trocado farpas públicas com Trump. Na segunda-feira (20/10), em entrevista, ele propôs que a solução regional seria "tirar Trump do poder", o que gerou repúdios internos na Colômbia e de congressistas em Washington. No dia anterior, Trump acusou Petro de cumplicidade no tráfico, chamando-o de "líder ilegal de drogas" e ameaçando cortar subsídios, financiamento e impor tarifas elevadas sobre exportações colombianas que recebem US$ 377,5 milhões anuais em ajuda antinarcóticos.

Após denúncias de Petro de que ataques prévios mataram pescadores inocentes colombianos, como Alejandro Carranza em setembro cuja lancha estaria à deriva por falha mecânica, a Colômbia convocou seu embaixador em Washington para consultas e qualificou os bombardeios como "ameaça à soberania". Trump rebateu na quarta-feira, em coletiva, rotulando Petro de "meliante" e "cara mau". O colombiano prometeu defesa judicial contra as "calúnias" nos tribunais americanos, mas sinalizou disposição para cooperação futura: "Quando nossa ajuda for necessária para combater o tráfico, a sociedade dos EUA a terá". Analistas temem que o impasse ameace a aliança histórica entre Bogotá e Washington, maior parceira antinarcóticos na América Latina, e eleve riscos de confronto mais amplo.

A Casa Branca não revela coordenadas exatas dos incidentes, citando segurança; o Acled, banco de dados de conflitos, estima locais aproximados via reportagens, com precisão mínima em escala de 1 a 3. Dois sobreviventes de ataques anteriores foram repatriados – um à Colômbia e outro ao Equador –, para detenção e julgamento, conforme Trump. Críticos como o democrata Jason Crow, do Comitê de Serviços Armados da Câmara, questionam: "Se são narco-terroristas tão perigosos, por que repatriá-los?". A campanha, iniciada em agosto com diretiva secreta de Trump para ações militares contra cartéis, já soma 32 mortes antes desta semana, ampliando o escrutínio global sobre sua legalidade e eficácia.


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