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Espiridião Amin: o guardião catarinense da direita enfrenta invasor forasteiro na corrida ao senado

Santa Catarina, terra de imigrantes alemães, italianos e açorianos que forjaram uma identidade marcada pelo trabalho árduo, pela ordem e pelo conservadorismo, tem uma história política que reflete essa essência.
Por: Brado Jornal 27.out.2025 às 16h09
Espiridião Amin: o guardião catarinense da direita enfrenta invasor forasteiro na corrida ao senado

Em um estado marcado pela tradição conservadora e pela defesa ferrenha de valores enraizados na história local, a pré-candidatura do senador Espiridião Amin (PP) ao Senado Federal em 2026 surge como um farol de autenticidade na política catarinense. Aos 77 anos, Amin, nascido e criado em Florianópolis, representa não apenas décadas de dedicação ao Sul do país, mas também uma defesa inabalável da direita tradicional: pautas liberais na economia, conservadorismo nos costumes e uma postura combativa contra o que ele sempre chamou de "excesso estatal". Sua trajetória, tecida no tecido mesmo da história de Santa Catarina, contrasta de forma gritante com a chegada de um "forasteiro" como Carlos Bolsonaro (PL), o vereador carioca que, sem nunca ter pisado de forma concreta no estado, sonha com uma vaga que muitos veem como um insulto à soberania local.

Santa Catarina, terra de imigrantes alemães, italianos e açorianos que forjaram uma identidade marcada pelo trabalho árduo, pela ordem e pelo conservadorismo, tem uma história política que reflete essa essência. Desde as eleições de 1945, que restauraram a democracia após o Estado Novo, o estado elegeu senadores como Nereu Ramos (PSD), um dos redatores da Constituição de 1946, e Ivo de Aquino, símbolos de uma elite política enraizada no território. Na ditadura militar, interventores federais moldaram o poder, mas a redemocratização trouxe nomes como Esperidião Amin, que, em 1990, foi eleito senador pela coligação "União por Santa Catarina" com impressionantes 981.963 votos, integrando comissões chave como a de Constituição e Justiça.

O século XXI consolidou SC como bastião da direita. Em 2018, as eleições para o Senado viram uma fragmentação anti-PT, com Esperidião Amin reeleito em 2022 com 1.226.064 votos (18,77% dos válidos), ao lado de Jorginho Mello (PL), que obteve 1.179.757 votos e depois assumiu o governo com 70% no segundo turno – ecoando os 70% dados a Jair Bolsonaro em 2022. Essa vitória bolsonarista não foi acidente: reflete um eleitorado que rejeita o "clientelismo petista" e abraça pautas como armamentismo, defesa da família e eficiência econômica. Hoje, com senadores como Jorge Seif (PL), Amin (PP) e Ivete da Silveira (MDB), SC tem duas vagas em disputa em 2026 – e o eleitorado, segundo pesquisas como a Neokemp de junho de 2025, prioriza nomes locais da direita, com Amin empatado em 15,9% das intenções.

Nesse contexto, Amin não é mero sobrevivente da "velha política": ele é sua essência conservadora. Fundador do Partido Universitário Catarinense (PUC) em 1964, na UFSC, Amin ajudou a moldar uma juventude de orientação ideológica conservadora em plena ditadura. Como governador (1983-1987 e 1999-2003), reestruturou as contas estaduais, promovendo modernização e eficiência – bandeiras liberais que ele defendeu antes mesmo de o termo virar moda. No Senado, votou pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016, apoiou a PEC do Teto dos Gastos e a Reforma da Previdência em 2019, sempre com um discurso de "autonomia das instituições" e voto impresso, anos antes de virar grito de guerra bolsonarista. "Amin sempre foi homem de direita: defendeu pautas liberais quando liberalismo era palavrão", como bem resumiu o colunista Fred Perillo no Upiara, em outubro de 2025. Sua comunicação nas redes, agora afiada, não é metamorfose: é a narrativa de um político que, aos 77 anos, segue alinhado a temas como defesa cibernética e microcrédito, presidindo frentes parlamentares que beneficiam o agronegócio catarinense.

Pesquisas recentes, como a Real Time Big Data de setembro de 2025, colocam Amin em terceiro com 21% – uma posição que pode barrar "importados" e catapultá-lo à reeleição, especialmente com o apoio de Jorginho Mello, que o vê como "primeira escolha" para a chapa.

Mas eis que surge o elefante na sala: Carlos Bolsonaro, o "filho 02" do ex-presidente, um carioca de berço que, após sete mandatos como vereador no Rio de Janeiro, decide "mudar de CEP" para disputar o Senado por SC. Sem histórico de atuação no estado – nunca um projeto, uma emenda ou uma visita que marque além de atos bolsonaristas –, sua pré-candidatura é vista como uma imposição familiar, orquestrada por Jair Bolsonaro para fortalecer o PL no Senado. "É um desejo do pai dele", admitiu Jorginho Mello em outubro de 2025, durante a Marejada de Itajaí. Mas a que custo?

A rejeição é palpável. Uma pesquisa Neokemp de outubro de 2025 revela que 52,2% dos eleitores catarinenses não votariam em Carlos, e 71% consideram uma candidatura "de fora" um "desrespeito à política local". Sua taxa de rejeição chega a 37,5% – maior que a de Décio Lima (PT), com 32,4% –, apesar de liderar intenções em 22,2% graças ao sobrenome. No PL catarinense, o "mal-estar generalizado" é notório: a legenda planejava lançar "pratas da casa" como Caroline de Toni e Júlia Zanatta, mas agora enfrenta um racha, com De Toni ameaçando sair do partido até março de 2026 se for preterida. Michelle Bolsonaro, do PL Mulher, já declarou De Toni como "minha senadora" e sugeriu que Carlos busque outro estado, como São Paulo.

Essa "invasão" não é nova no clã: em 2022, o PL "importou" Jorge Seif, outro carioca sem raízes profundas, que se elegeu senador. Mas Seif ao menos se instalou em Itajaí desde 1999; Carlos? Mora em São José há poucos meses, por conveniência eleitoral. Sua agenda em SC – atos de 7 de Setembro e vídeos com mapas do estado – soa forçada, um marketing sem substância. Enquanto Amin reconstruiu finanças estaduais e defendeu SC em Brasília por décadas, Carlos acumula polêmicas no Rio: denúncias de rachadinhas e uma gestão opaca, sem avanços concretos para além de memes e lives. É o oportunismo em ação: um forasteiro que quer colher onde não semeou, empurrado por um pai inelegível que usa SC como trampolim para o clã.

A pré-candidatura de Amin, respaldada pela federação PP-União Brasil (maior bancada na Câmara, com 109 deputados), não é só uma busca por reeleição: é uma defesa da essência de SC contra a "colonização bolsonarista". Em reuniões no Oeste catarinense, como em Maravilha e Xanxerê em maio de 2025, Amin enfatizou: "Passamos a ter mais peso e responsabilidade" para a direita vencer em 2026. Com Jorginho Mello de olho na reeleição e o bolsonarismo forte (70% em 2022), a chapa ideal seria Amin e De Toni – nomes locais, combativos e alinhados.

Mas a insistência em Carlos ameaça rachar o PL e alienar o eleitor. "Santa Catarina não é quintal de ninguém", ecoam vozes como a da Fiesc, que critica "importações". Amin, com sua defesa histórica da direita – do voto impresso à anistia –, surge como o antídoto: um senador que conhece as praias de Florianópolis como as palmas das mãos, não como um turista político.

Em 2026, SC decidirá: priorizará o filho da terra, que construiu pontes com o povo, ou o forasteiro que chega de mala e cuia, sem legado? A resposta definirá se a direita catarinense segue autêntica ou vira filial de uma dinastia carioca. Por enquanto, Amin caminha firme, provando que raízes importam mais que sobrenomes.



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