O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a Cúpula de Líderes da COP30, em Belém, nesta quinta-feira (6/11), sendo o primeiro chefe de Estado a discursar no evento que precede as negociações oficiais da conferência, marcadas para iniciar na segunda-feira (10). Em sua fala, Lula recorreu à cosmologia dos povos Yanomami para ilustrar a responsabilidade humana perante as mudanças climáticas, expressando o desejo de que o encontro ajude a "empurrar o céu para cima" e evite o colapso ambiental.
"Entre os povos indígenas Yanomami, que habitam a Amazônia, existe a crença de que cabe aos seres humanos sustentar o céu, para que ele não caia sobre a Terra. Essa perspectiva dá a medida da nossa responsabilidade perante o planeta, principalmente diante dos mais vulneráveis. Mas também reconhece que o poder de expandir horizontes está em nossas mãos", declarou o presidente. Ele completou: "Temos que abraçar um novo modelo de desenvolvimento mais justo, resiliente e de baixo carbono. Espero que esta Cúpula contribua para empurrar o céu para cima e ampliar nossa visão para além do que enxergamos hoje".
A metáfora remete ao livro A Queda do Céu, lançado em 2010 pelo etnólogo francês Bruce Albert em colaboração com o xamã e líder yanomami Davi Kopenawa. Na narrativa indígena, a morte dos povos da floresta provoca o desabamento do firmamento, simbolizando o fim da existência. Kopenawa, presente em edições anteriores da COP e voz global contra o desmatamento, alertou em 2019 que "o céu está rachando" devido à invasão de garimpeiros e madeireiros na Terra Indígena Yanomami.
A citação ganha peso diante da crise humanitária vivida pela comunidade entre 2022 e 2023, quando mais de 500 crianças yanomamis morreram por desnutrição, malária e contaminação por mercúrio oriundo do garimpo ilegal atividade que cresceu 309% na área durante o governo anterior, segundo o Instituto Socioambiental (ISA). Desde janeiro de 2023, operações federais expulsaram cerca de 80% dos invasores, mas relatórios da Hutukara Associação Yanomami indicam que 1.200 garimpeiros ainda operam em pontos remotos, destruindo 2.400 hectares de floresta em 2025.
Durante a cúpula, Lula anunciou o lançamento de um fundo internacional para conservação de florestas tropicais, com aporte inicial de US$ 125 milhões do Brasil, Noruega e Alemanha, visando remunerar comunidades indígenas e tradicionais por serviços ambientais. O mecanismo, batizado de Floresta Viva, priorizará territórios com alta biodiversidade e populações vulneráveis, incluindo os Yanomami.
A COP30 ocorre em meio a alertas científicos: o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) projeta que a Amazônia pode atingir um ponto de inflexão até 2030 se o desmatamento ultrapassar 20% da cobertura original marca já alcançada em 18% da floresta. Em 2025, o Brasil registrou redução de 31% na devastação em relação a 2024, mas incêndios recordes em setembro consumiram 5,2 milhões de hectares, liberando 480 milhões de toneladas de CO₂, equivalente às emissões anuais da França.
Lula enfatizou a liderança indígena nas negociações: "Os povos da floresta são os verdadeiros guardiões do céu". A delegação brasileira inclui 27 representantes de organizações indígenas, a maior da história das COPs, com destaque para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que exige metas vinculantes de proteção territorial e financiamento direto.
"Espero que a COP30 contribua para empurrar o céu para cima", concluiu o presidente, ecoando o apelo yanomami por um futuro onde a humanidade sustente, em vez de destruir, o equilíbrio cósmico.
Deixe sua opinião!
Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.
Sem comentários
Seja o primeiro a comentar nesta matéria!
Carregando...