Participantes da 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), realizada em Belém (PA), enfrentam jornadas extensas, com várias conexões e sem opções de voos diretos na maioria dos casos, tanto na chegada quanto na partida.
Esses problemas destacam as limitações estruturais da aviação regional brasileira, particularmente em áreas distantes dos principais hubs, que demandam coordenação entre autoridades, empresas aéreas e reguladores para sustentar as operações.
As queixas dos viajantes ilustram desafios crônicos do setor, incluindo lucros apertados, despesas elevadas com combustível e manutenção de aeronaves, e elevado nível de ações judiciais.
Devido à demanda intensa e à escassez de voos, o internacionalista Natan Schumann terá de enfrentar uma extensa rota aérea de ida e volta entre o Rio Grande do Sul e o evento (confira o percurso no mapa abaixo).
“Eu vou sair de Porto Alegre no dia 7, às 7h, viajo até Congonhas e, de lá, sigo para Belém. Chego por volta das 13h40. Até que a ida está tranquila”, explica.
A retorno, no entanto, será mais árduo:
“Meu voo começa às 1h50 de sábado. Vou sair de Belém até o Galeão, no Rio de Janeiro, depois para Curitiba e, finalmente, para Porto Alegre, chegando quase às 13h. É uma jornada de pelo menos 12 horas, contando que preciso chegar mais cedo no aeroporto”, relata.
Para Eloize Inês, oriunda do Mato Grosso do Sul, o percurso total se aproxima de 12 horas, excluindo tempos de espera e conexões.
A rota inicia com seis horas de ônibus de Corumbá a Campo Grande, seguido de embarque aéreo com paradas em Brasília e Macapá antes de Belém.
Corumbá (MS) → Campo Grande (MS): saída em 10/11 16h, chegada às 22h (6h de ônibus); Campo Grande (MS) → Brasília (DF): saída em 11/11 às 16h50, chegada às 19h30 (1h40 de voo); Brasília (DF) → Macapá (AP): saída em 11/11 às 23h45, chegada em 12/11 às 2h25 (2h40 de voo); Macapá (AP) → Belém (PA): saída em 12/11 às 2h55, chegada às 3h55 (1h de voo).
De acordo com o diretor-presidente da Anac, Tiago Chagas Faierstein, adiar a aquisição de passagens contribui para rotas menos favoráveis.
"O problema é que, como a velha lei da oferta e da procura fala, as pessoas que deixaram para comprar de última hora talvez não aproveitaram dos melhores trechos e agora têm que sofrer um pouco mais com as conexões e com os preços mais altos também", explicou o diretor da Anac.
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Desafios
Especialistas consultados pelo g1 apontam o combustível como um dos maiores obstáculos. O problema envolve não só a distribuição complicada para locais isolados, mas também a necessidade de preços acessíveis.
“Quando você tem um avião pequeno, o custo do assento fica muito alto, exatamente porque nós temos um custo de combustível muito alto”, explica Ronei Glanzmann, CEO da MoveInfra.Glanzmann indicou que, em aeronaves maiores, o combustível pode superar 50% dos custos operacionais, enquanto em modelos menores chega a 70%.
Ele sugere alternativas viáveis, como aviões híbridos para passageiros e cargas. "A carga ajuda a remunerar o voo”, apontou.
Outra proposta é expandir os locais de fornecimento, pois o querosene de aviação não é distribuído em todas as refinarias, o que restringe o acesso e eleva custos em áreas remotas."A disponibilidade de entrega desse produto hoje, no Brasil, que é o querosene de aviação, não é entregue em todas as refinarias. Hoje esse mercado é um mercado muito concentrado", acrescentou.
Iniciativas federais
A secretária nacional substituta de Aviação Civil, Clarissa Barros, mencionou que um progresso significativo foi elevar a aviação regional à agenda dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Pelo Ministério de Portos e Aeroportos, ela enfatizou o programa AmpliAr, destinado a melhorar a conectividade em zonas distantes, conectando-as à rede nacional e fomentando o crescimento local.
A iniciativa prioriza a atualização e ampliação de aeroportos regionais, com ênfase em áreas críticas como Amazônia Legal e Nordeste.
"Tem um olhar muito grande para a gente assegurar que a infraestrutura possa estar disponível em melhores condições para que os aeroportos, que as empresas aéreas não precisem retirar voos desses aeroportos muitas", destaca ela, que diz que atualmente há duas frentes sendo trabalhadas: infraestrutura e transporte.
Existe ainda financiamento do Fundo Nacional da Aviação Civil (FNAC) para aquisição de aeronaves.
"Hoje o que a gente tenta fazer é dar esse espaço para elas de uma respirada financeira, dados os altos custos, mas já endereçando a aviação regional que é uma preocupação muito forte", complementou.
Pontos de atenção
Clarissa Barros considera essencial a flexibilidade para companhias entrarem ou saírem de rotas.
"Porque às vezes a gente acha que não tem demanda no lugar, você estabelece o voo e o voo acontece. Agora ela só vai testar se ela souber que ela tem chance de sair, porque se ela achar que ela não tem chance de sair depois ela não entra", explicou a secretária.
Tiago Chagas Faierstein, da Anac, ressalta a judicialização extrema, com o Brasil respondendo por 90% dos casos globais.
"Como é que você quer atrair novas companhias aéreas para o Brasil, se eu tenho uma judicialização, eu assusto qualquer empresa", questionou o diretor da Anac.
A agência assinou recentemente acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para diminuir litígios no setor.
COP30
Para elevar a disponibilidade de assentos em Belém (PA), durante a COP30 de 10 a 21 de novembro, a Anac mantém diálogo constante com a administradora do aeroporto local.Tiago Faierstein informou que as aéreas elevaram em 30% os voos, com equipe da agência presente 24 horas para fiscalizar os serviços.
Há monitoramento contínuo, em colaboração com as companhias, sobre voos e assentos.
O Ministério de Portos e Aeroportos declarou que, em eventos de grande porte, o governo federal coordena planejamento com aéreas, administradoras de aeroportos, serviços auxiliares, Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), Anac, Polícia Federal, Receita Federal e outros envolvidos.
Entre 1º e 23 de novembro, projeta-se atender cerca de 508 mil passageiros em embarques, desembarques e conexões, em mais de 3.100 voos comerciais agendados. Esse movimento é quase o dobro do ano anterior, com oferta de voos 57% superior.
Adicionalmente, a Anac relatou que, apesar do incremento de 30% na oferta para Belém, a capacidade aeroportuária local opera no limite, com slots horarios esgotados em horários de pico.
Para mitigar, autorizou voos noturnos extras e ajustes em rotas de companhias regionais como Azul e Voepass, que operam aeronaves ATR para destinos amazônicos. Especialistas alertam que a dependência de hubs como Brasília e Manaus para conexões amazônicas agrava atrasos, com taxa média de pontualidade abaixo de 80% em rotas regionais neste período. O programa AmpliAr já investiu R$ 1,2 bilhão em 45 aeroportos desde 2023, incluindo reformas em Santarém e Marabá, vizinhos a Belém, para absorver overflow de tráfego.
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