Semana decisiva da COP30 em Belém: avanços na preservação florestal, polêmicas sobre minerais e a marcha que mobilizou milhares

Atualizações do oitavo dia revelam compromissos iniciais da Alemanha com o TFFF e críticas à presença recorde de lobistas fósseis, enquanto indígenas lideram protestos por inclusão
Por: Brado Jornal 17.nov.2025 às 09h52
Semana decisiva da COP30 em Belém: avanços na preservação florestal, polêmicas sobre minerais e a marcha que mobilizou milhares
Obras no Parque da Cidade da COP30 — Foto: PABLO PORCIUNCULA/AFP
A 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas, sediada em Belém desde o dia 10 de novembro, avança para sua segunda semana com negociações intensas sobre financiamento e transição energética. O boletim diário do g1, assinado pelo repórter de Meio Ambiente Roberto Peixoto, destaca em sete pontos os principais desdobramentos do fim de semana, incluindo sinais positivos da Alemanha para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e resistências ao plano de US$ 1,3 trilhão anual em recursos climáticos. Além disso, pela primeira vez, os impactos da extração de minerais essenciais à energia renovável ganharam destaque nas discussões, com ênfase nos direitos indígenas.

Atualizações recentes indicam que o TFFF, lançado pelo Brasil durante a Cúpula de Líderes, já acumulou promessas de mais de US$ 5,5 bilhões de nações como Noruega, França, Indonésia e o próprio Brasil, com pelo menos 20% dos recursos destinados a comunidades tradicionais e povos originários. A Alemanha, ausente fisicamente na cúpula inicial, manifestou interesse formal em contribuir, mas sem valor especificado até o momento, conforme fontes diplomáticas. Países com florestas tropicais, como Colômbia, Gana e Congo, apoiam a iniciativa, que visa remunerar a conservação via investimentos no mercado financeiro, transformando a proteção ambiental em oportunidade econômica sustentável.

A Marcha Global por Justiça Climática, realizada no sábado (15), reuniu cerca de 70 mil participantes de 65 países nas ruas de Belém, incluindo indígenas de 391 povos brasileiros, quilombolas, ribeirinhos e ativistas internacionais. O protesto, que incluiu um "funeral simbólico" para carvão, petróleo e gás, pressionou por ações concretas contra o desmatamento e a mineração predatória, com transmissão ao vivo para a Zona Azul da conferência. Líderes como Sônia Guajajara e Marina Silva discursaram, reforçando a demanda por participação direta de comunidades afetadas. A mobilização, organizada pela Cúpula dos Povos com mais de mil entidades, entregou uma carta ao presidente da COP30 criticando "falsas soluções" como créditos de carbono permissivos.

Nas negociações formais, o documento "Mapa do Caminho de Baku a Belém", elaborado pelas presidências da COP29 e COP30, resume consultas sobre quatro pilares pendentes: financiamento climático, comércio internacional, lacuna de ambição nas metas e relatórios de implementação. Divulgado no domingo, ele serve de base para as discussões ministeriais a partir desta segunda-feira (17), com a chegada de autoridades de alto nível. Especialistas da 350.org alertam que, sem consenso sobre recursos – especialmente de nações desenvolvidas como Europa, os avanços em ambição e transparência podem estagnar. O WWF-Brasil elogia a integração entre agenda de ação e negociações, mas cobra aceleração em temas como proteção florestal e transição justa.

1 - Em alta X em baixa

EM ALTA: A Alemanha deu um sinal importante em Belém. O ministro do Meio Ambiente, Carsten Schneider, disse que “nos próximos dias” deve anunciar quanto o país vai colocar no Fundo Florestas Tropicais para Sempre, o TFFF, iniciativa lançada pelo Brasil para pagar quem conserva suas florestas.
“Tenho mantido conversas sobre isso em Berlim nos últimos dias e espero que, muito em breve, possamos dizer exatamente quanto dinheiro estará envolvido”, afirmou Schneider. “Mas podem ter certeza de que, se a Alemanha fizer isso, será feito da maneira correta.”

EM BAIXA: O plano de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático, uma das apostas políticas do Brasil para esta COP30, encontrou resistência. Japão, China e Quênia questionaram a legitimidade do debate e evitaram apoiar o documento preparado pelas presidências da COP29 e COP30. Um resumo técnico divulgado no fim de semana (entenda mais no item 4), que deveria ajudar a montar um pacote de decisões, também não incorporou os mapas do caminho defendidos por Lula, deixando o roteiro brasileiro com menos força justamente no momento em que o tema entra no centro das negociações.

2 - Brisa de esperança: minerais entram no palco principal da COP30

Uma novidade importante apareceu na última sexta-feira (14) em Belém. Pela primeira vez, os países reunidos numa cúpula do tipo da ONU começaram a discutir abertamente de onde vêm os minerais que fazem a energia limpa acontecer. Ou seja, tudo aquilo que vira bateria, painel solar, motor de carro elétrico e turbina eólica.

Até agora, esse assunto tinha ficado sempre na borda das COPs, mesmo sendo decisivo para qualquer promessa de transição energética.

No fim do dia, um rascunho divulgado admitiu que a corrida por lítio, cobre e níquel cria oportunidades, mas também pressiona comunidades que vivem perto das áreas de mineração.

E trouxe um ponto novo: o texto reconhece os direitos dos povos indígenas, inclusive grupos em isolamento voluntário, que podem ser diretamente afetados pela expansão desses projetos.

O clima nas salas de negociação é de que esse assunto precisava aparecer. Países como Brasil e várias nações africanas vêm repetindo que a transição energética só será justa se os territórios que fornecem esses recursos não ficarem com o ônus e perderem o bônus. Por isso, a entrada do tema no texto, mesmo ainda entre colchetes, coloca essa discussão na rota das decisões políticas.

Nada está fechado e o documento continua em disputa, mas o fato de o tema ter entrado de vez na mesa é um passo para encarar não só o futuro da energia limpa, mas todo esse caminho que ela percorre até chegar lá.

O QUE SÃO AS DECISÕES DE CAPA?

As decisões de capa são documentos políticos escritos pela presidência da COP para “amarrar” o resultado final de uma conferência do clima.Elas funcionam como um texto guarda-chuva: não pertencem a nenhum item específico da agenda, mas sintetizam a mensagem política da COP e podem destacar temas que não foram totalmente resolvidos nas negociações formais.

Na prática, são usadas quando a presidência quer dar um rumo geral à conferência, reforçar prioridades ou registrar compromissos que não cabem nas decisões técnicas. Por isso mesmo, são textos mais políticos do que operacionais, e acabam criando debate.

Países como o Brasil costumam questionar a legitimidade desse instrumento, já que ele não passa pelo mesmo processo rígido de negociação linha a linha que rege o restante da COP.Outro motivo de polêmica é o consenso: toda decisão da COP precisa ser adotada sem objeções formais, mas cabe à presidência interpretar se esse consenso existe. Em conferências recentes, textos foram aprovados mesmo diante de discordâncias explícitas, o que aumentou a desconfiança sobre o uso das decisões de capa.

Veja exemplos importantes de outras COPs:

COP26 (Glasgow): pela primeira vez, mencionou carvão e subsídios fósseis.
COP28 (Dubai): trouxe a frase histórica sobre a “transição para longe dos combustíveis fósseis”, assinada por 198 países.
COP25 (Madri) e COP27 (Egito): entregaram decisões fracas e muito criticadas.

Em resumo: decisões de capa podem elevar a ambição da conferência, como Glasgow e Dubai, ou frustrar expectativas, como Madri e Sharm.
Em Belém, o Brasil diz que prefere não usar esse instrumento, mas a pressão por um recado claro sobre combustíveis fósseis, desmatamento e financiamento está mantendo o assunto no centro das conversas.

A COP30 começa essa sua segunda semana com uma peça importante já na mesa: o documento que resume as consultas sobre os quatro temas que ficaram pendentes no início da conferência: financiamento climático (quem paga a conta da crise), comércio internacional (como regras de mercado afetam o clima), lacuna de ambição (o quanto as metas atuais ainda são insuficientes) e relatórios de implementação (como cada país mostra o que fez ou não fez).

Esse material saiu no fim do domingo e agora serve de base para tudo que começa nesta segunda-feira.

O desafio daqui em diante é se o Brasil vai aproveitar esses dois pilares, financiamento e ambição, para conduzir um resultado robusto, ou permitir que o processo caia no denominador comum mais baixo. Igualmente crítico é saber se a Europa e outros países desenvolvidos vão aumentar sua ambição em financiamento climático para viabilizar um acordo.

Como funcionam as negociações na COP

E a partir de hoje, entram em cena as discussões mais políticas. Com a chegada de diversos ministros, começa a etapa em que os países precisam decidir o que estão dispostos a ceder para que a conferência avance. É também o início das falas de alto nível, quando essas autoridades fazem discursos públicos e deixam claro qual é a prioridade de cada governo.

Quer mandar uma pergunta pro TERMÔMETRO? 

O grande teste da semana é ver se esses quatro temas conseguem caminhar juntos. A ideia de empacotar tudo numa decisão única ainda está circulando, mas depende de algo que, até agora, não apareceu com clareza: consenso sobre financiamento. Sem isso, metas não andam; e sem metas, comércio e transparência ficam parados.
Em outras palavras: esta é a semana em que a COP30 decide se consegue transformar aquele diagnóstico técnico do domingo em acordos reais e se sai de Belém com um conjunto de decisões capaz de ser apresentado como avanço, não apenas como mais uma lista de impasses.


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