A Polícia Federal (PF) cumpriu, nesta terça-feira (16), um mandado de prisão contra o desembargador federal Macário Ramos Júdice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), durante a segunda fase da Operação Unha e Carne. A ação apura o suposto vazamento de dados sigilosos da Operação Zargun, realizada em setembro, que resultou na detenção do ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias.
Macário Júdice Neto foi detido em sua residência na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ele é o relator do processo envolvendo TH Joias no TRF-2 e, segundo investigações, teria contribuído para o vazamento de informações. O magistrado foi o responsável por expedir, em setembro, o mandado de prisão contra o então deputado TH Joias.
De acordo com o blog do jornalista Octavio Guedes, a PF identificou indícios de que o desembargador auxiliou no repasse de detalhes da operação. Uma fonte da corporação informou que Macário estava em um restaurante com Rodrigo Bacellar, à época presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando este telefonou para TH Joias alertando sobre a ação policial.
No aparelho celular de Bacellar, apreendido anteriormente, foram localizadas trocas de mensagens entre ele e o desembargador, que serviram de base para os mandados desta fase.Os agentes cumpriram ao todo um mandado de prisão preventiva e dez de busca e apreensão, todos autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Há diligências também no Espírito Santo.
Rodrigo Bacellar, deputado estadual licenciado do União Brasil, é novamente alvo de buscas. Ele havia sido preso na primeira etapa da operação, em 3 de dezembro, mas foi solto dias depois por votação no plenário da Alerj (42 a 21). Bacellar está afastado da presidência da Casa por determinação de Moraes e pediu licença do mandato um dia após a liberação. Ele usa tornozeleira eletrônica e cumpre recolhimento noturno.
TH Joias foi preso por suspeita de tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, com indícios de negociação de armas para o Comando Vermelho (CV). Ele assumiu o mandato em junho, mas perdeu o cargo após a detenção.
Na véspera da Operação Zargun, em 2 de setembro, Bacellar ligou para TH Joias, avisou sobre os mandados e orientou a destruição de provas. O ex-deputado organizou uma mudança às pressas, usando até caminhão-baú, e deixou a casa revirada. Ele saiu do condomínio por volta das 21h40 e só foi encontrado horas depois na residência de um amigo, no mesmo bairro.
“O parlamentar havia saído do condomínio por volta das 21h40 [de terça, 2, véspera da operação], deixando a casa completamente desarrumada, o que pode sugerir uma fuga e o desfazimento de vestígios de fatos criminosos”, declarou o procurador-geral de Justiça do RJ, Antonio José Campos Moreira, na ocasião.
Em vídeos enviados a Bacellar, TH Joias mostrou um freezer com carnes e brincou sobre o risco de perdê-las. “Ô presida! Não tem como levar não, irmão. Pô, como é que leva?! Tem como levar não, irmão. Esses filhas das p* vão roubar as carnes, hein”, disse TH, conforme o inquérito da PF.
Em sua decisão sobre a primeira fase, Moraes escreveu: “Os fatos narrados pela Polícia Federal são gravíssimos, indicando que Rodrigo Bacellar estaria atuando ativamente pela obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo estadual, capazes de potencializar o risco de continuidade delitiva e de interferência indevida nas investigações da organização criminosa”.
Macário Júdice Neto ficou afastado da magistratura por quase 18 anos devido a acusações de venda de sentenças como juiz federal no Espírito Santo. A punição foi anulada, e ele foi reintegrado e promovido a desembargador em 2023. Sua esposa, Flávia Júdice, trabalhou até recentemente no gabinete da diretoria-geral da Alerj.
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