Com 97,7% das urnas apuradas, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia confirmou a vitória do economista Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), no segundo turno presidencial, realizado pela primeira vez na história do país. Aos 58 anos, o senador e ex-prefeito de Tarija obteve 54,5% dos votos válidos, superando o rival conservador Jorge "Tuto" Quiroga, da Aliança Livre, que ficou com 45,5%. A tendência, segundo o TSE, é definitiva, encerrando 20 anos de hegemonia do Movimento ao Socialismo (MAS), partido fundado por Evo Morales e que comandou o governo sob Luis Arce.
Filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), Paz nasceu em exílio na Espanha em 1967 e construiu carreira política com foco em economia e relações internacionais, incluindo um mestrado em gestão política nos Estados Unidos. Sua ascensão como azarão no primeiro turno, em agosto, já havia surpreendido ao captar eleitores descontentes com a crise que assola o país, como inflação de 23% em 2025, escassez de combustível e reservas cambiais em queda. No segundo turno, ele ampliou o apoio ao atrair votos de ex-simpatizantes do MAS, prometendo reformas graduais sem rupturas abruptas.
O pleito ocorreu em meio a instabilidades, incluindo o racha no MAS entre Arce e Morales, que enfraqueceu a esquerda e deixou o segundo turno sem representantes progressistas. Morales, exilado e sob perseguição policial, votou "por obrigação" e declarou apoio a Paz no domingo, contribuindo para a derrota histórica de seu antigo partido. Arce, o atual presidente, reforçou a aceitação democrática ao votar: "O povo é quem decide, e todos os candidatos devem aceitar os resultados que o povo boliviano ditar nas urnas".
Em seu primeiro discurso como presidente eleito, em La Paz, Paz enfatizou a reconciliação nacional e o foco no bem comum. "Hoje, após a vitória, estendemos nossa mão para governar com todos os homens e mulheres que amam o país", afirmou aos apoiadores. Ele agradeceu o rival Quiroga pelo reconhecimento precoce do resultado preliminar e destacou: "Não é ele quem ganha ou perde, mas o país". O vice-presidente eleito, Edman Lara, ecoou o tom conciliador em declaração à imprensa em Santa Cruz: "É tempo de nos unirmos, é tempo de nos reconciliarmos.
Acabaram-se as cores políticas". Lara acrescentou que se prepara para ir a La Paz com Paz a fim de "coordenar quais seriam as soluções que devem ser adotadas o mais breve possível para a crise econômica que atinge a Bolívia".
Paz delineou prioridades para o mandato, que inicia em 8 de novembro, com ênfase na superação da recessão. Durante a campanha, defendeu a descentralização administrativa, o fomento ao setor privado e a manutenção de programas sociais, além de incentivos à economia informal e corte de gastos desnecessários. "A Bolívia não é socialista", declarou em evento no mês passado, sinalizando abertura a investimentos externos. Entre as medidas iniciais, anunciou plano de modernização das Forças Armadas e adoção de tecnologias digitais avançadas para eficiência governamental.
No âmbito internacional, o eleito celebrou contatos regionais e globais. Líderes vizinhos telefonaram para parabenizá-lo, e Paz observou: "A Bolívia está gradualmente recuperando sua posição internacional". Ele mencionou conversa com o subsecretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, reafirmando laços com Washington. "Em nome do governo do presidente Donald Trump, fomos chamados... Qualquer apoio, assistência ou cooperação necessária para manter uma estreita cooperação com um dos governos mais importantes do mundo fará parte das soluções a partir de 8 de novembro, para que a Bolívia não fique sem seus hidrocarbonetos, e eles, juntamente com outras nações, nos apoiam plenamente", disse. Analistas preveem que o novo governo busque acordo de US$ 1,5 bilhão com os EUA para garantir suprimentos de combustível, revertendo parte do isolamento diplomático recente.
A vitória de Paz, que ganhou em seis dos nove departamentos bolivianos apesar de não superar Quiroga em sua base de Tarija, reflete anseio por estabilidade em um país marcado por retrocessos democráticos desde o golpe de 2019 contra Morales. Especialistas veem o resultado como virada para centro-direita moderada, com potencial para ajustes econômicos sem radicalismos, como os propostos por Quiroga, que defendia privatizações rápidas e alinhamento ao FMI. "O presidente eleito será um servidor público com a missão de enfrentar as crises do gás, do dólar e dos preços, e de reconstruir nossas instituições e o sistema democrático", resumiu Paz em declaração pós-resultado. No discurso final, ele concluiu: "Deus, pátria e a família são a base de uma visão que, junto com seu vice-presidente, Edman Lara, têm para o país e para todos os bolivianos". O país agora respira "ventos de mudança e renovação para seguir em frente", conforme o eleito.
Deixe sua opinião!
Assine agora e comente nesta matéria com benefícos exclusivos.
Sem comentários
Seja o primeiro a comentar nesta matéria!
Carregando...