Sanae Takaichi assume como primeira primeira-ministra do Japão em eleição histórica no Parlamento

Fim de crise política marca virada conservadora na quarta maior economia global
Por: Brado Jornal 21.out.2025 às 08h55
Sanae Takaichi assume como primeira primeira-ministra do Japão em eleição histórica no Parlamento
Foto: Kim Kyung-Hoon/Pool/REUTERS
Em uma sessão extraordinária realizada nesta terça-feira (21), os legisladores japoneses confirmaram Sanae Takaichi como a pioneira mulher a comandar o governo do Japão, um marco que rompe com décadas de domínio masculino na liderança nacional. A votação na Câmara Baixa resultou em 237 apoios para Takaichi, superando por quatro o mínimo necessário para a maioria em meio a 465 assentos, enquanto o oposicionista Yoshihiko Noda, do Partido Democrático Constitucional, obteve 149. A aprovação veio logo após um acordo de coalizão de última hora entre o Partido Liberal Democrata (PLD), enfraquecido, e o de direita Partido da Inovação do Japão (Ishin), que garante estabilidade, embora o bloco ainda falte dois assentos para o controle absoluto.

Com 64 anos, Takaichi, que emergiu vitoriosa na disputa interna do PLD no começo de outubro ao superar o ministro da Agricultura Shinjiro Koizumi, toma posse ainda hoje à noite como a 104ª chefe de governo do país. Ela sucede Shigeru Ishiba, cujo mandato de apenas um ano terminou com a renúncia coletiva do gabinete nesta manhã, após reveses eleitorais graves em julho que abalaram o partido no poder há décadas. Esse episódio encerra um período de instabilidade de três meses, repleto de negociações internas e vácuos de poder que expuseram fissuras no PLD.

Ex-ministra dos Assuntos Internos e de Segurança Econômica, Takaichi carrega uma visão econômica expansiva, inspirada no "Abenomics" de seu mentor, o falecido Shinzo Abe assassinado em 2022, com ênfase em estímulos fiscais, afrouxamento monetário e reformas estruturais para impulsionar o crescimento em uma nação lidando com inflação ascendente e expansão lenta.

Admiração declarada por Margaret Thatcher, a "Dama de Ferro" britânica, reflete em seu estilo assertivo: seu cabeleireiro pessoal, Yukitoshi Arai, descreve o icônico "Corte Sanae" como um traço que simboliza atenção aos interlocutores, com laterais longas mas recolhidas atrás das orelhas para "mostrar que ela escuta com cuidado". Formada em administração pela Universidade de Kobe, Takaichi atuou como fellow congressional nos EUA antes de ingressar na política em 1993.

Embora o feito represente um avanço simbólico em um país que ocupa a 118ª posição no Relatório Global de Lacuna de Gênero de 2025 do Fórum Econômico Mundial onde mulheres são menos de 16% dos deputados na Câmara Baixa e 10% dos ministros, Takaichi não prioriza temas de igualdade de gênero ou inclusão diversa. Ultraconservadora, ela resiste a expansões nos direitos femininos, endossa a linha patrilinear na sucessão imperial, opõe-se ao matrimônio igualitário e questiona a adoção de sobrenomes distintos por casais. Suas visitas regulares ao Santuário Yasukuni, incluindo uma em agosto de 2025 pelo 80º aniversário da rendição japonesa na Segunda Guerra, geram controvérsias por honrarem criminosos de guerra enaltecidos no local.

Como discípula de Abe, Takaichi deve priorizar o reforço das Forças de Autodefesa, o estímulo ao PIB e a emenda da Constituição pacifista de 1947, alinhando-se a uma guinada global à direita em imigração e defesa. Contudo, com uma base parlamentar frágil, analistas questionam o alcance de sua pauta. Seu gabinete, a ser anunciado em breve, incluirá aliados de pesos-pesados como Taro Aso, o eminence grise do PLD, e apoiadores da corrida partidária, com destaques para Satsuki Katayama como a primeira mulher na pasta da Fazenda uma escolha irônica dada sua relutância em gastos fiscais amplos e Kimi Onoda na Segurança Econômica. Apesar de promessas de paridade similar à dos países nórdicos, apenas duas vagas femininas foram confirmadas, aquém do recorde de cinco sob Fumio Kishida, antecessor de Ishiba.

A nova premiê herda desafios urgentes: frear a carestia que pressiona famílias, entregar até dezembro um conjunto de incentivos contra o mal-estar popular e navegar relações externas complexas. Diálogos com o presidente americano Donald Trump estão agendados para esta semana, incluindo a manutenção de tarifas negociadas por Akazawa Ryosei, potencialmente mantido no Comércio, após 10 viagens a Washington. Cúpulas regionais testarão sua diplomacia, especialmente com a Coreia do Sul, alertada por mídia local sobre possíveis tensões revividas por sua postura nacionalista. Internamente, reconstruir a credibilidade do PLD exige lidar com o escândalo de arrecadação que alienou eleitores, enquanto políticas do Ishin como corte de cadeiras parlamentares, ensino médio gratuito e suspensão temporária do imposto sobre alimentos moldarão o pacto.

Takaichi assume em um timing crítico, com o secretário-geral do PLD, Shunichi Suzuki, destacando a economia como foco imediato ao pedir desculpas pelo atraso causado pela briga interna pós-julho. Seu discurso de política principal virá nos próximos dias, prometendo uma "Sanaenomics" como evolução do legado abeano, com intervenções cambiais cautelosas e ênfase em eficiência governamental. Para alguns, como a ativista Minori Konishi, de 21 anos, a ascensão pode inspirar meninas ao demonstrar que "não é preciso ser um homem idoso para liderar", mesmo que suas visões não ecoem demandas feministas. A trajetória de Takaichi, que cuida do marido paralisado por um infarto cerebral em 2025, adiciona camadas pessoais: fã de corridas de cavalos da JRA, rock japonês de bandas como B'z e X Japan, e times como Gamba Osaka e Hanshin Tigers, ela equilibra rigidez ideológica com toques cotidianos.


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