Tensões no Caribe: exercícios conjuntos entre EUA e Trinidad e Tobago avivam atrito com regime de Maduro

Navio de guerra americano inicia manobras em Porto Espanha em meio a alertas de escalada bélica
Por: Brado Jornal 24.out.2025 às 10h05
Tensões no Caribe: exercícios conjuntos entre EUA e Trinidad e Tobago avivam atrito com regime de Maduro
Foto: Reprodução / Redes sociais
Em um contexto de crescente confronto diplomático e militar entre Washington e Caracas, o governo de Trinidad e Tobago revelou nesta quinta-feira (23) a chegada iminente do contratorpedeiro americano USS Gravely (DDG-107) à sua capital, Porto Espanha, para uma série de treinamentos conjuntos com as forças locais. A embarcação, parte de uma frota maior enviada ao Caribe sob ordens do presidente Donald Trump, atracará no domingo (26) e permanecerá até 30 de outubro, coincidindo com exercícios que envolverão a 22ª Unidade Expedicionária de Fuzileiros Navais dos EUA e a Força de Defesa de Trinidad e Tobago (TTDF). Esses simulacros focarão em táticas de infantaria básica, procedimentos de manutenção e habilidades médicas avançadas, segundo comunicado oficial do Ministério das Relações Exteriores caribenho.

A movimentação ocorre a apenas 11 quilômetros da costa venezuelana, em uma nação insular que tem servido de base logística para operações americanas contra o suposto narcotráfico regional. Autoridades de Porto Espanha enfatizaram que a iniciativa reforça "o compromisso dos Estados Unidos com a estabilidade no Caribe e a colaboração mútua", mas o anúncio provocou reações imediatas de Caracas, que acusa a vizinha de alinhamento subserviente aos interesses de Trump. A premier de Trinidad e Tobago, Kamla Persad-Bissessar, já havia manifestado apoio público às ações antinarcóticos dos EUA, que resultaram na morte de 37 pessoas em bombardeios marítimos desde setembro, incluindo dois cidadãos locais.

Essa presença naval americana integra uma operação mais ampla, batizada informalmente de "Doutrina Monroe 2.0" por analistas, que mobilizou cerca de 10 mil tropas, dezenas de aeronaves e pelo menos dez navios no Caribe desde agosto. Entre os ativos destacados estão bombardeiros B-52 Stratofortress, caças F-35B Lightning II, helicópteros de elite como MH-60M Black Hawk e MH-6 "Little Bird" estes últimos avistados em treinamentos a menos de 150 km de solo venezuelano, além de aviões de vigilância P-8 Poseidon e o navio de operações especiais MV Ocean Trader. Plataformas de rastreamento de voos registraram, ainda na quinta, um bombardeiro B-1B sobrevoando águas próximas à Venezuela, embora Trump tenha negado a informação em entrevista à imprensa, chamando-a de "falsa".

Do lado venezuelano, o presidente Nicolás Maduro respondeu com uma mistura de apelos por desescalada e demonstrações de força. Em discurso a sindicalistas governistas na quinta, ele alternou entre o espanhol e o inglês para dirigir-se diretamente a Trump: "Peace, yes peace, forever, peace forever, No crazy war! [Paz, sim paz, para sempre, paz para sempre. Sem guerra louca]". O líder chavista, que na véspera havia revelado possuir 5 mil mísseis antiaéreos Igla-S de fabricação russa, voltou a exaltar alianças com Moscou e Pequim: "Graças ao presidente [russo, Vladimir] Putin, graças à Rússia, graças à China e a muitos amigos no mundo, a Venezuela conta com equipamentos para garantir a paz". Maduro não especificou armamentos além disso, mas sua retórica ecoou alertas de "guerra psicológica" promovida por Washington, incluindo ameaças de infiltrações da CIA em território nacional.

As Forças Armadas venezuelanas intensificaram respostas imediatas: na madrugada de quinta, realizaram simulações em 73 localidades costeiras, com foco em defesa antiaérea e ocupação de ilhas fronteiriças como Patos, próxima a Trinidad e Tobago. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, rebateu as insinuações de Trump sobre ações terrestres sem aprovação congressional: "Podem infiltrar quantos agentes da CIA quiserem em operações secretas a partir de qualquer ponto da nação, e qualquer tentativa fracassará". Há cerca de um mês, Caracas tem convocado reservistas e promovido exercícios quase diários, preparando-se para o que descreve como um "cerco imperialista".

Especialistas consultados por veículos como The New York Times e The Guardian interpretam a escalada como uma estratégia de pressão indireta sobre Maduro, acusado pelos EUA de liderar o Cartel de los Soles rede de narcotráfico supostamente infiltrada no alto escalão governamental, com recompensa de US$ 25 milhões por sua captura. Críticos, como o ex-assessor de direito de guerra Geoffrey Corn, questionam a legalidade dos bombardeios em alto-mar, rotulando-os como "execuções extrajudiciais". A ONU, por meio de peritos, ecoou essa visão na quarta, enquanto o Conselho de Segurança se reuniu a pedido de Caracas, Moscou e Pequim sem avanços, devido ao veto americano.

A crise se entrelaça com disputas regionais: nos últimos dias, Trump e o presidente colombiano Gustavo Petro trocaram farpas sobre interferências e ligações com o tráfico, após Bogotá denunciar ataques a barcos colombianos. Diplomacia paralela, mediada pelo Catar até outubro, foi suspensa por ordem de Trump. Analistas preveem que, sem intervenção, a mobilização poderia evoluir para confrontos terrestres, complicados pelo terreno hostil venezuelano e pela estação de furacões. Maduro, por sua vez, convocou civis para "resistência total", mobilizando milícias bolivarianas em bairros de Caracas.

O envio de narcotraficantes supostos à Colômbia e Equador, aliás, mina a retórica americana de "guerra às drogas", segundo observadores, sugerindo motivações políticas além do combate ao crime. Enquanto isso, a embaixada dos EUA em Porto Espanha emitiu alerta de segurança até o fim de semana, orientando cidadãos a evitarem instalações governamentais e ficarem atentos ao entorno, refletindo temores de retaliações.



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