União entre Katiara e Comando Vermelho sinaliza nova era do crime na Bahia

Aliança estratégica visa ampliar domínio contra o Bonde do Maluco
Por: Brado Jornal 04.ago.2025 às 09h23
União entre Katiara e Comando Vermelho sinaliza nova era do crime na Bahia
Crédito: SSPBA
Uma aliança entre a facção baiana Katiara e o Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do Brasil, pode redefinir o cenário do tráfico de drogas na Bahia. A articulação, mencionada em decisão do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) em junho de 2025, indica que a Katiara, liderada por Adilson Souza Lima, conhecido como ‘Roceirinho’, está se unindo ao CV para fortalecer sua posição contra o Bonde do Maluco (BDM). Essa fusão ocorre em um momento crítico, com Salvador sendo apontada como a capital mais violenta do país pelo Anuário de Segurança Pública de 2025, registrando 52 mortes violentas por 100 mil habitantes em 2024, superando o Rio de Janeiro, que teve 20,4.

O TJ-BA destacou a influência de Roceirinho, que, mesmo preso, mantém o comando da Katiara. A decisão judicial que negou sua progressão ao regime semiaberto aponta: “Conforme indicação do serviço de inteligência da Polícia Judiciária, o réu Adilson Souza Lima é o responsável não só por todas essas ações, mas também pela articulação entre a Katiara e o Comando Vermelho, organização criminosa fluminense, de onde recebe partidas de drogas e armamentos, além de apoio operacional e logístico.” A medida foi justificada pelo risco que sua liberação representaria às forças de segurança.

A parceria entre Katiara e CV já mostra sinais de ação conjunta. Em 2 de julho de 2025, segundo relatório do Departamento de Inteligência Policial, cerca de 20 homens armados, “pertencentes à Katiara (que hodiernamente tem atuado sob a bandeira do Comando Vermelho)”, invadiram São Roque do Paraguaçu, em Maragogipe, com fuzis e metralhadoras, na tentativa de expulsar o BDM. O confronto, ordenado por Roceirinho, resultou em um tiroteio de três horas, entre 2h e 5h da manhã. A Katiara, originária do Recôncavo, já colabora com o CV, que opera na Bahia desde 2020, em ações contra o BDM, incluindo disputas territoriais em locais como a Ilha de Itaparica, onde, em março de 2024, o CV, com apoio da Katiara, tentou consolidar o controle do tráfico.

A professora de Direito Penal e Processual da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Márcia Margarida Martins, alerta para as implicações dessa união: “Considerando que trata-se de uma das maiores organizações criminosas presentes no território baiano, a fusão desta com outra facção do mesmo porte, de nível nacional, irá fortificá-la, aumentando seu poder de mando territorial e logístico. Para a segurança pública, esta fusão irá trazer mais preocupação e mais trabalho, pois estamos falando da fortificação no Estado da maior facção do país.” Ela destaca que a situação “poderá vir a se tornar muito mais angustiante do que já tem sido”.

O fortalecimento do CV na Bahia não é novidade. Em 2020, a facção absorveu o Comando da Paz (CP), eliminando o líder da rival Ordem e Progresso (OP), Thiago Adílio dos Santos, conhecido como ‘Coruja’, em uma execução no Rio de Janeiro. A professora Márcia Margarida Martins explica: “A expectativa dela, ao se organizar lado a lado das facções locais, é exatamente se firmar mais fortemente nos espaços geográficos que facilitam sua atuação, que é o caso da Bahia, por sua extensão litorânea e sua malha viária centralizada. Tudo isso demandará maior necessidade de investimentos estatal e federal na segurança pública, pois sem dinheiro, não haverá segurança.”

Enquanto isso, o BDM, aliado ao Terceiro Comando Puro (TCP) desde 2023, intensifica os confrontos com o CV em áreas como Vila Verde, em Salvador. Márcia Margarida Martins reforça a necessidade de uma resposta coordenada: “De nada adiantará mais os Estados trabalharem isoladamente em seus territórios, pois a situação não é mais de uma organização fluminense, ou da Bahia, chegamos ao nível de uma facção nacional e assim precisa ser combatida.”

A Secretaria de Segurança Pública (SSP/BA) e a Polícia Militar (PM/BA) foram contatadas nos dias 31 de julho e 1º de agosto de 2025 para comentar a possível fusão entre Katiara e CV, mas não responderam até o momento.


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