No Agreste pernambucano, autoridades de saúde confirmam a abertura de inquérito sobre três ocorrências ligadas a possível envenenamento por metanol, substância química tóxica e inflamável frequentemente usada para fraudar destilados alcoólicos. Os episódios, reportados nesta terça-feira (30), resultaram em dois óbitos de homens e uma lesão grave de cegueira em outra vítima, todos atendidos inicialmente no Hospital Mestre Vitalino, em Caruaru.
Os envolvidos residem em Lajedo e João Alfredo: dois na primeira localidade e um na segunda. Os falecimentos ocorreram após sintomas compatíveis com contaminação aguda, como náuseas intensas, tontura e falência orgânica progressiva, mas a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) não detalhou publicamente se o elo direto é com ingestão de álcool adulterado – embora a suspeita domine as apurações.
Em resposta rápida, a Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) mobilizou equipes para raids em armazéns e comércios de bebidas. "O objetivo principal é a intensificação das vistorias para evitar possíveis fraudes nos estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas", afirmou a pasta em comunicado oficial. As ações incluem coleta de amostras para testes em laboratórios, bloqueio provisório de lotes duvidosos e parcerias com Procon, Ministério Público e polícias para rastrear a cadeia de suprimentos.
Essa onda de incidentes em Pernambuco ecoa um surto maior em São Paulo, onde 22 notificações de contaminação por metanol já foram catalogadas – sete confirmadas, com cinco mortes sob escrutínio, incluindo uma atrelada explicitamente a drinques falsificados como gin, uísque e vodca. Lá, o governador Tarcísio de Freitas decretou um comitê emergencial, com apreensões de 50 mil garrafas suspeitas e 15 milhões de selos falsos. "Nós estamos diante de uma situação anormal e diferente de tudo o que consta na nossa série histórica em relação à intoxicação por metanol no país", alertou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que mandou notificar de imediato qualquer suspeita via Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS).
O metanol, destinado só a fins industriais, imita o etanol em aroma e paladar, mas metaboliza em ácidos letais que corroem tecidos, provocam acidose e, em horas, levam a convulsões, coma ou óbito. Sintomas iniciais dor de barriga, vômito e letargia surgem em até 24 horas, evoluindo para turvação visual e cegueira total, como visto no caso pernambucano.
Para coibir riscos, a Apevisa recomenda checar selos do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), rótulos íntegros e lacres inviolados nas compras, priorizando fontes idôneas e fugindo de ofertas absurdamente baratas ou misturas prontas sem origem clara. Hospitais devem registrar no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e no Cievs/PE qualquer quadro suspeito, com ênfase em antídotos como fomepizol para mitigar danos.
A Polícia Federal, acionada pelo ministro da Justiça Ricardo Lewandowski, vasculha a origem do químico em São Paulo, suspeitando de rede criminosa. "Tudo indica que há distribuição para além do Estado de São Paulo", disse ele. Em Pernambuco, os cadáveres seguem para necropsia no Instituto de Medicina Legal (IML), visando provas conclusivas e responsabilização. O episódio reforça a urgência de fiscalização nacional contra o comércio ilegal de álcool, que já vitimou centenas globalmente em 2025, de Laos a Turquia.
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