Em menos de um ano desde que assumiu o poder de forma acelerada, o presidente sírio Ahmad al-Sharaa avança em sua mudança de jihadista para figura de estadista internacional durante uma visita marcante à Casa Branca, que destaca tanto a trajetória do líder de 43 anos quanto as tentativas de reposicionar diplomaticamente a nação.
O encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ocorre nesta segunda-feira (10) e marca a primeira vez que um chefe de Estado da Síria pisa na residência oficial americana. Trata-se da 20ª viagem ao exterior de al-Sharaa desde que se declarou presidente em janeiro, e a segunda aos EUA, depois de sua presença na Assembleia Geral da ONU em Nova York, em setembro.
Esse compromisso se destaca como o mais crucial até o momento, unindo o comandante das forças americanas a alguém que, no passado, lutou contra tropas dos EUA em combates.
Síria participará de Assembleia Geral da ONU pela primeira vez em 60 anos Em maio, após uma interação rápida facilitada pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, Trump descreveu o líder sírio como “jovem atraente” com um “passado muito forte” e determinou a suspensão de parte das sanções impostas pelos EUA à Síria, nação que por anos manteve alianças com rivais como Rússia e Irã.
As restrições mais severas a Damasco, porém, seguem ativas e exigem aval do Congresso para serem eliminadas por completo.Na agenda imediata em Washington, al-Sharaa pretende insistir na revogação total dessas medidas, além de pedir que Trump influencie Israel a cessar bombardeios à Síria e a retirar militares do sul do território.
De forma mais ampla, por meio de suas inúmeras deslocações pelo mundo, ele visa acabar com o isolamento sírio, herança do governo anterior que resultou em devastação econômica e poucas parcerias internacionais.
A passagem pela Casa Branca ganha simbolismo extra: ao chegar a Washington no domingo (9), Al-Sharaa participou de uma partida de basquete com oficiais de alto escalão das forças armadas dos EUA.
Histórico de inimizade com Washington
Aos 20 e poucos anos, ele considerava os EUA um adversário e se uniu a grupos islâmicos que enfrentavam soldados americanos no Iraque.
Preso e depois solto, atravessou para a Síria em 2011 e formou um grupo rebelde ligado à Al-Qaeda para confrontar as tropas fiéis a Bashar al-Assad.
Após mais de dez anos de guerra civil intensa contra o regime de Assad, al-Sharaa finalizou o conflito ao liderar uma operação inesperada que derrubou em pouco tempo a linhagem familiar de 53 anos, remanescente da era da Guerra Fria no mundo árabe.
Durante o domínio dos Assad, Damasco se alinhou estreitamente com Moscou, contando com suporte em armas, auxílio militar e respaldo diplomático.
Em 1971, no primeiro ano completo de Hafez al-Assad no comando, a União Soviética instalou sua base naval no Mediterrâneo em Tartus, na Síria.
A ação militar de Vladimir Putin em 2015 foi essencial para que Bashar al-Assad resistisse à rebelião.
Os russos, responsáveis pela morte de dezenas de sírios em operações para sustentar Assad, ainda controlam a base em Tartus após a derrocada do regime. No mês passado, al-Sharaa esteve em Moscou para dialogar com Putin.
Ao fortalecer relações com o Ocidente, o presidente sírio evita provocar a Rússia.
“Entrar em conflito com a Rússia agora seria muito custoso para a Síria, nem seria do interesse do país”, declarou Al-Sharaa ao programa “60 Minutos” da CBS em uma entrevista exibida em outubro.
Antes rotulado como terrorista pelo Ocidente, ele agora conduz uma campanha diplomática mundial, apoiada por nações como Arábia Saudita e Turquia, parceiras dos EUA interessadas em ocupar o espaço deixado por Irã e Rússia.
Para os Estados Unidos, a Síria oferece oportunidade estratégica, mas também perigos, especialmente com o Líbano em crise e o Iraque vulnerável a grupos apoiados pelo Irã.“Os EUA estão fazendo uma grande aposta em Ahmad al-Sharaa e na Síria”, disse Joshua Landis, diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Oklahoma, à CNN. “Como o embaixador (Tom) Barrack afirmou várias vezes, os EUA não têm alternativas. O Líbano é um estado falido segundo sua avaliação”
“O Iraque está profundamente infiltrado por milícias pró-iranianas”, acrescentou.
Mesmo com inclinação ocidental, o antigo jihadista equilibra a política externa síria para evitar polarizações em um cenário global dividido abordagem adotada por várias nações em desenvolvimento.
“Nesta nova era, ninguém se alinha completamente com qualquer lado. Vimos isso com a visita (de Sharaa) a Putin, que é um aliado ativo do regime Assad... e você vê isso com a diplomacia por parte do governo sírio globalmente”, afirmou Natasha Hall, associada sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS).
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