O técnico italiano Carlo Ancelotti, recém-empossado como treinador da seleção brasileira, já enfrenta os desafios de um futebol nacional marcado por carências estruturais, como ficou evidente no empate sem gols contra o Equador, em Guayaquil. Em sua primeira experiência à frente da Amarelinha, Ancelotti viveu, por alguns dias, o papel de um “técnico bombeiro”, comum no Campeonato Brasileiro, ao comandar um elenco que ajudou a montar, mas sem total autonomia, em apenas três sessões de treino antes do jogo.
Meio-campo reflete crise na formação brasileira
A principal fragilidade identificada por Ancelotti está no meio-campo, um setor que espelha os problemas da atual escola brasileira. A volta de Casemiro trouxe maior solidez defensiva, mas a seleção sofre com a falta de meias que controlem o jogo, cadenciem o ritmo e organizem as transições entre defesa e ataque. Jogadores como Bruno Guimarães, apesar de talentoso, priorizam a intensidade, influenciado pelo estilo acelerado do Newcastle, enquanto Gerson se destaca mais pela força e condução do que pela precisão nos passes. “A produção de meias criativos no Brasil está escassa, e isso limita nossa capacidade de ditar o jogo”, observou o treinador.
Estratégia cautelosa e carência de um camisa 9
O empate em Guayaquil revelou uma seleção que, diante da abundância de atacantes velozes e habilidosos, tende a adotar uma postura mais cautelosa, com foco na segurança defensiva e contragolpes rápidos. Essa abordagem, embora contrarie a expectativa de um Brasil sempre ofensivo, pode ser um “atalho” para compensar o atraso no processo de renovação da equipe, iniciado após o Mundial do Catar. Ancelotti, conhecido por sua capacidade de adaptação, pode optar por priorizar a solidez defensiva em duelos contra grandes seleções, liberando espaço para os talentos ofensivos.
No ataque, a ausência de um camisa 9 em grande fase é outro obstáculo. Richarlison, titular contra o Equador, teve atuação apagada, reflexo de uma temporada irregular em seu clube. Alternativas como Matheus Cunha, mais dinâmico na construção de jogadas, ou Rodrygo, que pode atuar como falso 9 após sua recuperação, surgem como opções para o futuro.
Perspectivas para o projeto de Ancelotti
Apesar das dificuldades, o Brasil ainda conta com jogadores de elite em setores como goleiro, defesa e ataque, com nomes que brilham pela velocidade, criatividade e capacidade de drible. No entanto, a falta de meias de qualidade, como os que fizeram a diferença para a Espanha na final da Liga das Nações, é um desafio central. “Temos talento para competir com os melhores, mas perdemos tempo valioso nos últimos dois anos e meio”, analisou Ancelotti.
Com a próxima convocação marcada para daqui a três meses, espera-se que o treinador tenha mais liberdade para imprimir sua visão tática. Por enquanto, o jogo em Guayaquil forneceu um diagnóstico claro das fragilidades do futebol brasileiro, que Ancelotti terá de enfrentar para resgatar a competitividade da seleção em um cenário global cada vez mais exigente.
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