O Equador, outrora visto como um oásis de tranquilidade na América do Sul, vive uma crise de segurança sem precedentes, e o futebol o esporte mais popular do país tornou-se um dos principais alvos do crime organizado. Em 2025, pelo menos cinco jogadores profissionais ou de base foram assassinados, em ataques ligados a apostas ilegais, recusa em manipular resultados e infiltração de gangues no esporte.
O caso mais recente chocou o mundo: Mario Pineida, lateral-esquerdo de 33 anos do Barcelona de Guayaquil e ex-Fluminense, foi executado a tiros junto com sua esposa em 17 de dezembro, em Guayaquil.
Pineida foi baleado em frente a um açougue no bairro Sanales, acompanhado da esposa, Guisella Fernández, que também morreu, e da mãe, que ficou ferida mas sobreviveu. Horas antes, o presidente do Barcelona de Guayaquil, Antonio Álvarez, havia revelado que o jogador pedira proteção especial por receber ameaças de morte.
O Fluminense, onde Pineida jogou em 2022 e conquistou o Campeonato Carioca, lamentou: “O Fluminense Football Club recebeu com profundo pesar a notícia do falecimento de Mario Pineida, atleta que defendeu o clube em 2022.”
Este foi o primeiro assassinato de um jogador da primeira divisão em 2025, elevando o alerta para um problema que antes se concentrava em divisões inferiores.
A sequência de mortes que expõe a fragilidade do futebol equatoriano
A violência explodiu principalmente em setembro:
- Jonathan “Speedy” González, de 31 anos, meia do 22 de Julio (terceira divisão), foi morto a tiros dentro de casa em Esmeraldas, na fronteira com a Colômbia. Segundo Oswaldo Batallas, dirigente do clube, González foi assassinado por se recusar a manipular partidas para apostas ilegais. Duas semanas antes, criminosos atiraram em seu carro e ameaçaram sua mãe por telefone.
- Maicol Valencia (21 anos) e Leandro Yépez (33 anos), ambos do Exapromo Costa (terceira divisão, em Manta), foram alvejados em um hotel por homens armados vestidos como policiais. Valencia morreu no local; Yépez, dois dias depois.
Em novembro, Miguel Nazareno, promessa de 16 anos da base do Independiente del Valle, foi encontrado morto em um bairro violento de Guayaquil. O clube afirmou que o jovem “foi vítima da insegurança que assola o país”.
Por trás dos ataques: apostas, narcotráfico e lavagem de dinheiro
Um relatório da ONU (UNODC) alerta que o crime organizado usa o futebol para lavar dinheiro e movimentar lucros ilícitos, estimando US$ 1,7 trilhão em apostas ilegais anuais no mundo. No Equador, gangues expandiram influência sobre o esporte via plataformas online de apostas.
“Os apostadores atuam como intermediários. Eles vêm instruídos pelas gangues e dizem exatamente em qual jogo você deve perder”, relatou um ex-jogador à agência AFP, sob anonimato.A Liga Pro identificou manipulação em pelo menos cinco jogos da segunda divisão em 2025. Em 2024, vídeo viral mostrou jogadores do Chacaritas deitados no chão, ameaçados por homens armados para entregar partidas.
Clubes de divisões inferiores são alvos preferenciais pelos baixos salários, facilitando coerção. O ex-goleiro chileno Nelson Tapia, que atuou no Equador, afirmou que o Exapromo Costa (ex-Fijalan FC) tem ligações com Adolfo Macías, “Fito”, líder de Los Choneros extraditado aos EUA. Investigações apontam parentes de Fito como possíveis sócios do clube.
Um esporte em risco: o que vem pela frente?
A infiltração do narcotráfico transformou o futebol equatoriano em território perigoso. Cidades como Guayaquil, Esmeraldas e Manta concentram a violência. A polícia investiga todos os casos em sigilo, mas soluções parecem distantes.
O que está acontecendo no futebol equatoriano não é apenas uma série de tragédias isoladas: é o reflexo de um país em guerra contra o crime organizado, onde até os gramados viraram campo de batalha. Jogadores, dirigentes e torcedores vivem sob medo constante e a pergunta que fica é: até quando o esporte resistirá?

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