Morre o general Humberto Ortega, irmão e crítico do ditador da Nicarágua

General aposentado que ajudou a liderar Revolução Sandinista ao lado de Daniel Ortega estava em prisão domiciliar há meses
Por: Brado Jornal 01.out.2024 às 10h34
Morre o general Humberto Ortega, irmão e crítico do ditador da Nicarágua
Reprodução/YouTube

A vida de Humberto Ortega Saavedra, ex-general do Exército sandinista, mudou drasticamente no domingo, 19 de maio de 2024. Naquela manhã, o portal Infobae publicou uma longa entrevista com o ex-chefe militar, onde ele fazia duras críticas ao governo de seu irmão, o presidente nicaraguense Daniel Ortega. Na entrevista, Humberto alertava para a fragilidade do regime sem a presença de Daniel e mencionava planos para assassiná-lo.

“Já estou recebendo ameaças”, disse Humberto ao site argentino Infobae. Poucas horas depois, ele denunciou ao jornal La Prensa que sua casa havia sido cercada pela polícia e que seus dispositivos eletrônicos foram confiscados. “Estou escrevendo de um celular emprestado”, afirmou por meio do WhatsApp.

No dia seguinte, a Polícia da Nicarágua divulgou um comunicado informando que Humberto Ortega estava sob cuidados médicos, sem admitir oficialmente que ele estava sob custódia. Desde então, não se teve mais notícias dele, até o último domingo, 29 de setembro, quando o Hospital Militar Dávila Bolaños, em Manágua, emitiu uma nota informando sobre o grave estado de saúde do ex-militar.

Na manhã seguinte, o hospital divulgou que Humberto havia apresentado um rápido agravamento de seu quadro clínico, com choque cardiogênico e perda de consciência, o que exigiu tratamento intensivo. Às 1h55 do dia 30 de setembro, foi confirmada a morte do ex-general, irmão de Daniel Ortega.

Curiosamente, nenhum dos comunicados oficiais mencionava o posto militar de Humberto, nem sua posição como ex-chefe do Exército nicaraguense, cargo que ocupou entre 1979 e 1995. Além disso, também não houve menção ao fato de que ele estava detido desde a publicação da entrevista ao Infobae em maio.

Após sua morte, o governo emitiu um comunicado elogiando sua participação na luta revolucionária e na fundação do Exército da Nicarágua. O texto destacava o “valor estratégico” de Humberto em ações como o resgate de Carlos Fonseca Amador na Costa Rica.

A morte de Humberto ocorre apenas quatro meses depois de Daniel Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, terem declarado publicamente que ele era um “traidor da pátria” em um evento oficial. Daniel acusou o irmão de “vender a alma ao diabo” por condecorar, há 32 anos, um militar norte-americano, algo que ele considerou uma “desonra nacional”.

Essa não foi a única vez em que Daniel Ortega criticou seu irmão. Em 2018, durante protestos contra o governo, Daniel acusou Humberto de ser um “peão do império” por sugerir eleições antecipadas como forma de superar a crise política que o país enfrentava.

Humberto Ortega foi um dos principais líderes da revolução sandinista, ao lado de seu irmão Daniel, participando da luta contra o regime de Anastasio Somoza e na formação do governo revolucionário que comandou a Nicarágua durante os anos 1980. Após a derrota sandinista nas eleições de 1990, ele continuou no cargo de chefe do Exército até 1995.

Apesar de sua contribuição histórica, Humberto também foi alvo de diversas acusações, incluindo a imposição do serviço militar obrigatório e a responsabilidade pela morte de milhares de jovens nicaraguenses durante a guerra civil. Além disso, ele foi acusado de envolvimento em massacres, como a “Navidad Roja”, e do assassinato do jovem Jean Paul Genie em 1990, crime que nunca foi solucionado.

Nos últimos anos, Humberto se dedicou a escrever sobre sua experiência na guerrilha e a propor soluções negociadas para as crises políticas do país. Embora discordasse de várias ações do governo de seu irmão, ele sempre afirmou que suas críticas eram uma tentativa de aconselhá-lo estrategicamente, e não de se opor diretamente ao regime.



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