A Polícia Civil de São Paulo formalizou na terça-feira (14) o indiciamento de Roberta Cristina Veloso Fernandes, 36 anos, por sua participação em quatro homicídios investigados como envenenamentos, ocorridos entre janeiro e maio deste ano nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Irmã gêmea de Ana Paula Veloso Fernandes, a principal suspeita descrita como "serial killer", Roberta foi questionada no 1º Distrito Policial de Guarulhos, na região metropolitana paulista, onde as autoridades a responsabilizaram como coautora dos crimes.
Ana Paula, estudante de Direito de 36 anos, já está detida preventivamente desde julho em uma unidade prisional na capital paulista, acusada de orquestrar as mortes com o objetivo de se apropriar de bens e recursos das vítimas. As investigações revelam que ela se aproximava das pessoas simulando laços afetivos ou amizades, utilizando venenos em alimentos e bebidas para causar as fatalidades. Além de Roberta, Michelle Paiva da Silva, 43 anos, filha de uma das vítimas, também é implicada por facilitar um dos assassinatos e permanece presa temporariamente em Guarulhos, assim como Roberta. As três mulheres seguem sob análise policial para apurar possíveis vítimas adicionais.
Um laudo do Instituto de Criminalística identificou o agrotóxico terbufós, conhecido como "chumbinho", em um frasco de vidro transparente encontrado na residência de Ana Paula em Guarulhos. Essa substância, permitida para uso agrícola no Brasil, é letal para humanos e animais, causando edemas pulmonares e outros sintomas compatíveis com as autópsias. Três dos quatro corpos foram exumados para exames complementares, e as autoridades suspeitam que o veneno tenha sido aplicado em itens como sanduíches, bolos, feijoadas e milk-shakes. O delegado Halisson Ideiao Leite, responsável pelo caso no 1º DP de Guarulhos, afirmou ao g1: "Nossa investigação nos levou a crer que Ana Paula matou quatro pessoas envenenadas". Ele acrescentou: "Aguardamos os exames para saber qual substância ou quais substâncias foram usadas."
A motivação principal apontada pela polícia envolve ganância financeira, com indícios de que as irmãs gêmeas planejavam oferecer serviços de execução por R$ 4 mil, codificados como "TCC" (Trabalho de Conclusão de Curso). Em um episódio separado, investigado no início de 2024, Ana Paula deixou um bolo supostamente envenenado em uma sala de aula de sua faculdade em Guarulhos, alegando vingança contra a esposa de um amante policial militar ninguém consumiu o alimento, evitando uma tragédia. Durante depoimento, Ana Paula confessou participação em dois dos homicídios, mas negou o emprego de veneno. Ela também admitiu ter envenenado dez cachorros para testar dosagens e efeitos, demonstrando conhecimento técnico sobre o produto para simular causas naturais de óbito.
O delegado Halisson Ideiao Leite descreveu o perfil da suspeita em entrevista à TV Globo: "Ana Paula tem prazer em matar. A motivação pouco importa pra ela, ela quer matar". A Justiça de São Paulo a classificou como "verdadeira serial killer" em decisão recente, recebendo denúncias por homicídios qualificados com motivo torpe, uso insidioso de veneno e métodos que impediam a defesa das vítimas. O Ministério Público planeja acusar Roberta como coautora nos quatro casos e Michelle especificamente pelo assassinato de seu pai. Uma audiência para julgamento popular de Ana Paula ainda não foi agendada, e inquéritos separados tramitam para os crimes no Rio.Perfis das vítimas e circunstâncias das mortesAs fatalidades seguem um padrão: Ana Paula esteve presente ou acionou autoridades logo após os óbitos, o que despertou suspeitas. Veja os detalhes conforme a apuração policial:
- Marcelo Hari Fonseca, 51 anos, proprietário de imóvel em Guarulhos alugado para Ana Paula: Faleceu em 31 de janeiro em casa após consumir um sanduíche possivelmente contaminado. Após a morte, ela exigiu da família o direito de permanência no local, alegando romance inexistente.
- Maria Aparecida Rodrigues, 49 anos, amiga virtual conhecida via app de relacionamentos: Morreu em 11 de abril em Guarulhos, horas após comer um bolo na residência da suspeita. Ana Paula usou o telefone da vítima para simular incriminação de terceiros, incluindo um ex-amante e sua esposa.
- Neil Corrêa da Silva, 65 anos, pai de Michelle, residente em Duque de Caxias (RJ): Óbito em 26 de abril após ingerir feijoada envenenada. Michelle teria pago R$ 4 mil a Ana Paula para a viagem de Guarulhos ao Rio e execução do plano, fornecendo apoio logístico.
- Hayder Mhazres, 21 anos, tunisiano radicado em São Paulo, contato via app de namoros: Sucumbiu em 23 de maio no hospital após milk-shake adulterado, motivado por ciúmes após tentativa de término. Ana Paula forjou gravidez para extorquir a família por dinheiro.
Posição da defesaA defesa das irmãs gêmeas, representada pelo advogado Almir da Silva Sobra, emitiu nota enfatizando a ausência de evidências sólidas. "Reconhecemos a gravidade dos fatos investigados e a comoção social que geram. No entanto, o dever desta defesa é acompanhar a investigação com a seriedade e a discrição exigidas, zelando estritamente pelos direitos de Ana Paula. Nesta fase, em que as provas ainda estão sendo formadas e examinadas, não é possível, e (seria temerário), afirmar ou negar categoricamente qualquer tese defensiva", diz o trecho do comunicado. O g1 não localizou a defesa de Michelle até o fechamento desta reportagem.
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