A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deixou a audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado, realizada nesta terça-feira (27.mai.2025), após um embate acalorado com senadores, marcado por declarações do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que afirmou que ela “não merecia respeito” como ministra.
A sessão, convocada a pedido do senador Lucas Barreto (PSD-AP), discutia a criação de unidades de conservação na Margem Equatorial, no Amapá. Marina destacou que as áreas protegidas, localizadas a mais de 100 quilômetros das zonas de interesse para exploração de petróleo, não interfeririam na prospecção de combustíveis fósseis, uma prioridade para parlamentares da região Norte. Mesmo assim, a ministra enfrentou críticas à sua política ambiental.
O clima, já tenso devido à recente aprovação do licenciamento ambiental – que, segundo o Ministério do Meio Ambiente, fragiliza a legislação e ameaça a segurança socioambiental do país –, escalou para um bate-boca. O senador Omar Aziz (PSD-AM) criticou a lentidão de obras na região Norte, citando a BR-319, cuja falta de pavimentação, segundo ele, resultou em mortes durante a pandemia por escassez de oxigênio. “A senhora não é mais ética que ninguém aqui e está atrapalhando o desenvolvimento do país”, disparou Aziz.
A discussão ganhou intensidade quando o presidente da comissão, Marcos Rogério (PL-RO), limitou o tempo de resposta de Marina. A ministra rebateu: “O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa, mas não sou”. Rogério, irritado, acusou-a de insinuar sexismo: “Me respeite, ministra. Se ponha no seu lugar”. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) interveio, questionando o desrespeito e exigindo retratação.
O ápice veio com a fala de Plínio Valério, que já havia feito comentários polêmicos sobre Marina em eventos passados. Ele afirmou: “A mulher merece respeito, a ministra, não”. A declaração gerou revolta. O líder do PT na Câmara, Rogério Carvalho (SE), defendeu Marina, classificando a fala como inaceitável e apoiando sua decisão de deixar a sessão caso não houvesse retratação. Valério se recusou a se desculpar, e Marina se retirou, afirmando: “Fui convidada como ministra, não como mulher. Exijo respeito”.
Após o ocorrido, Marina seguiu para a Câmara dos Deputados, onde pediu ao presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) mais tempo para discutir o licenciamento ambiental. Ela também denunciou ter sofrido violência política.
Reações e apoio
Nas redes sociais, Marina criticou a tentativa de atribuir a ela a responsabilidade pela aprovação do licenciamento ambiental no Senado, questionando a coerência dos parlamentares. A primeira-dama, Janja Lula da Silva, repudiou o tratamento dado à ministra, chamando os responsáveis de “misóginos” e elogiando sua trajetória no combate ao desmatamento. A ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) classificou o comportamento de Valério e Rogério como “inadmissível”, expressando solidariedade do governo. Márcia Lopes, ministra das Mulheres, também exigiu retratação.
No Senado, líderes como Jaques Wagner (PT-BA), Randolfe Rodrigues (PT-AP) e Humberto Costa (PT-PE) manifestaram apoio à ministra, criticando o tom desrespeitoso. Wagner anunciou que buscará evitar novas convocações de Marina à comissão.
Defesa de Valério
Plínio Valério, em discurso no plenário, reiterou sua posição, dizendo que respeita mulheres, mas não a atuação de Marina como ministra, por considerá-la um obstáculo ao desenvolvimento, especialmente pela demora na pavimentação da BR-319. “Sou avô de seis netas, respeito as mulheres. Mas a ministra desrespeita a região ao impedir nosso progresso”, afirmou.
O episódio expôs as tensões entre o governo e setores do Congresso em temas como meio ambiente e infraestrutura, com reflexos no debate político nacional.
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